domingo, 12 de julho de 2020

NÃO COLABORE COM OS QUE QUEREM O CAOS NA POLÍTICA

 

Não colabore com os engenheiros do caos

Estratégias populistas de manipulação de redes sociais e mídia

 

Gabriel Azevedo

 


O caos se tornou instrumento recorrente da política no Brasil e em nações como Estados Unidos, Índia, Ucrânia, Filipinas, Polônia e tantas outras. A constatação não é minha. É do cientista político franco-italiano Guiliano Da Empoli, autor do livro “Os Engenheiros do Caos: Como as Fake News, as Teorias da Conspiração e os Algoritmos Estão Sendo Utilizados para Disseminar Ódio, Medo e Influenciar Eleições”.

É uma obra exemplar na análise de como os líderes populistas (à direita e à esquerda) e seus principais estrategistas, os “engenheiros do caos”, identificados por Da Empoli, atuam para unificar grupos extremistas, manipular dados e usar técnicas artificiais para alcançar maior relevância nas mídias sociais. O impacto na política tem proporções gigantescas. E, o mais grave, a “engenharia do caos” não está mais restrita ao plano federal. Seus artífices já agem no âmbito dos municípios, onde o compromisso com o bem-estar da cidade não é mais o foco.

Nesta semana, na Câmara Municipal de Belo Horizonte, tivemos um exemplo claro de como se gera o caos em busca de destaque midiático, discussões polarizadas nas mídias sociais e nenhum benefício para a capital, que enfrenta a pandemia do novo coronavírus e tem problemas graves e complexos, à espera de soluções. Refiro-me à inutilidade da apresentação da moção de aplausos ao presidente Jair Bolsonaro por “sua atuação contra o coronavírus”.

Felizmente, a moção foi derrotada, mas todo o processo foi lamentável.

Três vereadores foram autores da iniciativa, uma inutilidade que ganhou todo o destaque possível na imprensa mineira. Talvez o fato mais noticiado do Poder Legislativo municipal nesta pandemia. A engenharia caótica funcionou: atenção da mídia, ávida por matérias “caça-clikes”, repercussão nas mídias sociais e debates polarizados, justamente algumas das táticas dissecadas por Guiliano Da Empoli em seu livro. Em resumo, total perda de tempo para os mais de 2,5 milhões de habitantes de Belo Horizonte. E algum ganho político para quem usou esse episódio para agitar as próprias mídias sociais em cada polo ideológico.

Faz-se necessário observar que na semana passada foram aprovados dois projetos importantes para a cidade, sendo um deles o PL 792/2019, com minha coautoria, que estabelece a Declaração Municipal de Liberdade Econômica, criando condições para a geração de emprego e renda em Belo Horizonte.

Também foi aprovada proposta de lei que amplia a fiscalização das empresas em funcionamento na capital, também com minha coautoria. Duas iniciativas de relevância, mas que foram completamente ignoradas pela imprensa, por não se enquadrarem na definição de “caça-clikes” que domina o noticiário. Quando o jornalismo vai perceber o papel que tem no fortalecimento do populismo caindo como presa fácil nessas arapucas óbvias?

E, nesta semana, a pantomina em torno da moção de aplausos ao presidente desviou a atenção da Câmara Municipal de questões mais pertinentes e graves, como o decreto alterando o quadro de horários de circulação dos ônibus na cidade, fato modificado na sequência, e a situação das unidades de UTI e leitos de enfermaria para pacientes com Covid-19. As medidas de isolamento social não conseguem impedir a contaminação. Esta é a discussão prioritária.

A política municipal não pode se tornar refém desse caos produzido intencionalmente, sobretudo nas eleições. Combater tal prática cabe aos vereadores, o que faço desde o dia da posse, mas também passa pela participação popular. Sugiro a valorização de projetos e iniciativas que supram as demandas da população.

Também é necessário reduzir o espaço que as falsas polêmicas conquistam diariamente. Combater essa prática é medida de profilaxia para nossa democracia.

DISCUSSÃO SOBRE O PROJETO POLÊMICO DAS FAKES NEWS

Fake news, liberdade e cidadania

Internet e canalização de expectativas e inquietações sociais

 

 

O mundo contemporâneo foi profundamente impactado pelos avanços, no fim do século XX, da computação eletrônica e do surgimento da internet. A verdadeira revolução introduzida por essas inovações tecnológicas produziu mudanças radicais nas relações financeiras, no comércio, nas comunicações, no entretenimento, nas relações interpessoais e, como não poderia deixar de ser, no funcionamento da democracia e da vida política.

Nesta semana, o tema veio à tona com imensa força no Brasil e no mundo. Grandes empresas, como Coca-Cola, Microsoft, Unilever, Adidas, Ford, Starbucks, HP e outras 160, interromperam sua publicidade nas redes sociais cobrando das plataformas YouTube, Facebook, Twitter e Instagram regras claras para a exclusão de postagens racistas, de promoção da violência e das tristemente famosas fake news.

O presidente da maior potência global, Donald Trump, teve publicação no Twitter marcada como “mídia manipulada” em função da adulteração de um vídeo envolvendo duas crianças, uma branca e outra negra. E recebeu uma condenação geral ao reproduzir um vídeo no qual um casal branco apontava armas contra manifestantes antirracistas, claramente estimulando a violência política e a intolerância. Já o Facebook retirou do ar um anúncio da campanha de Trump que utilizava um símbolo nazista – o triângulo vermelho invertido.

Transparência

No Brasil, tivemos a votação de afogadilho no Senado Federal da polêmica Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet, de autoria do competente senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e relatado pelo senador Angelo Coronel (PSD-BA).

As inovações tecnológicas são o motor das grandes mudanças nas economias capitalistas, como estudaram exaustivamente Marx e Schumpeter. Os computadores e a internet revolucionaram a vida humana, e, como toda inovação, não carregam, em si, padrões éticos e morais, podendo servir ao bem ou ao mal.

Na política, o impacto foi profundo. As instituições e os partidos políticos democráticos tradicionais perderam seu papel central de canalização das expectativas, esperanças e inquietações sociais, já que na internet todo mundo fala com todo mundo.

Rede

Esse novo mundo foi abordado pioneiramente pelo sociólogo espanhol Manuel Castells em sua obra seminal “A Sociedade em Rede”, de 1996. Vale a leitura. Recentemente, fiquei profundamente impactado ao assistir na Netflix ao documentário “Privacidade Hackeada”, que desnuda o papel da empresa Cambridge Analytica na invasão não autorizada das informações do Facebook de 87 milhões de usuários, e, por meio do uso de big data e algoritmos, na manipulação da opinião pública na eleição de Donald Trump. A estratégia já tinha sido testada no plebiscito do Brexit.

Qual não foi a surpresa ao descobrir, por meio do livro “Os Engenheiros do Caos”, que o laboratório pioneiro foi a Itália, no nascimento do movimento anarco-populista 5 Estrelas. O que parecia uma rebelião espontânea da base da sociedade italiana e o surgimento de um partido descentralizado, democrático e inovador, foi na verdade uma maquinação científica usando as modernas ferramentas das redes sociais, com uma empresa especializada e manipuladora por trás e o comediante Beppe Grillo como sua face pública, aproveitando o desgaste da chamada “velha política”.

A CORRUPÇÃO MATA MAIS QUE A PANDEMIA NO BRASIL

Os óbitos por corrupção

A triste realidade nacional, a dívida pública, o desacerto das finanças, que penalizam a nação inteira, são decorrentes de uma agressão persistente consumada a favor de bandos e partidos organizados

 

Vittorio Medioli


 

“O tonel vazio é o aquele que faz barulho”, diz o ditado popular italiano. Quanto mais oco, sem nada por dentro, mais entediante ele fica.

O candidato a um cargo eleitoral, no período que antecede a eleição, aquele que, sem honestidade, conteúdo, proposta, experiência, propósito decente, visão e consciência do que o aguarda, não raramente adota meios abjetos para alcançar seu propósito. Mente, frauda, difama os adversários, escondendo-se atrás de atitudes mesquinhas.

Com propósitos eleitorais, procura enganar os ingênuos, aqueles que não se apercebem do interesse sórdido, da finalidade egoísta de prestígio e riqueza imerecidos, que de outra forma, com suor e trabalho, nunca conseguiria.

São esses tonéis vazios os futuros protagonistas dos mensalões, dos petrolões, do desmonte da máquina pública, dos esquemas que dilapidam as finanças do país. São exatamente eles que já deixaram ou ainda deixarão os mais necessitados morrerem nas filas da saúde, os hospitais em estado vergonhoso, roubando o que é imprescindível para salvar uma vida, enquanto gastam o que desviaram em luxos descabidos.

Costuma-se encontrar “eleitos” que transpiram a inutilidade cívica e humana de suas ações, que confirmam o uso malandro de suas largas prerrogativas. Estes chegam ao fim de um mandato sem poder dizer “contribuí para o bem dos meus eleitores, da sociedade, da nação”. Assim, são enterrados na vala dos esquecidos, dos sem méritos.

Os antissociais que almejam um cargo eletivo passarão pelo mandato imerecidamente conquistado, labutando incessantemente para manter o poder pessoal, e para isso fazem qualquer coisa, “até o diabo”, como confessou uma ex-presidente da República.

Deu um susto ao planeta, no fim de semana, o presidente estadual de um partido, no Estado do Rio de Janeiro, incitando com ênfase os candidatos de sua sigla a propor na campanha “fazer muito e roubar pouco”. Pediu desculpas, mas a quem assiste ao vídeo as desculpas provavelmente não interessam.

O povo brasileiro já foi enganado inúmeras vezes, entre alguns raros intervalos felizes. Amargou o sofrimento, a falta de assistência, de resposta às necessidades básicas, de apoio ao desenvolvimento, à criação de oportunidades de inclusão. A nação brasileira contabiliza, desde 2015, 12 milhões de desempregados, consequência dos bilhões de reais desviados das contas públicas por quadrilhas que ganharam notoriedade nas fases da Lava Jato.

A triste realidade nacional, a dívida pública, o desacerto das finanças, que penalizam a nação inteira, são decorrentes de uma agressão persistente consumada a favor de bandos e partidos organizados. Neste momento pré-eleitoral, já se nota nas atitudes sórdidas que pretendem promover candidatos o potencial deletério que carregam.

O cidadão que descobre ter sido enganado, espoliado, desempregado por aqueles que escolheu para os altos cargos públicos sofre, quando é tarde demais, de decepção e, ainda, de indignação, ao se deparar com o acúmulo de fortunas de corruptos, que não se importam com o sofrimento e a mortes que provocam.

Quando se pensa nos milhares de óbitos da pandemia, pode-se chegar à conclusão de que são irrisórios comparados aos óbitos que a corrupção gera, aos analfabetos que produz, aos sofrimentos que dissemina.

Um recurso público surrupiado faltará no que é mais essencial.

Na atual pré-campanha eleitoral, as fakes news já se erguem como protagonistas – adotadas por candidatos sem conteúdo decente, sem boas intenções, sem propostas, e apenas voltados a estontear o eleitor para enganá-lo.

Atrás dos falsos se escondem exatamente os futuros ladrões da coisa pública, protagonistas dos próximos mensalões e dos esquemas que têm empobrecido a nação brasileira.

Se a pandemia leva a óbito milhares de pessoas, a corrupção leva a milhões.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...