'Vamos subir em cadáveres para fazer palanque?', questiona Guedes sobre
reajuste a servidores
Idiana Tomazelli e Sandra Manfrini
BRASÍLIA - O ministro da Economia, Paulo Guedes,
criticou a tentativa de governadores de conceder reajustes salariais e
outros benefícios a servidores em meio à pandemia e voltou a defender o
veto a um trecho do socorro a Estados e municípios que permite esses aumentos.
Em coletiva no Palácio do Planalto,
o ministro comparou o lobby do funcionalismo por reajustes a uma tentativa de
“saquear” o País pleno coronavírus e que “a sociedade vai punir
quem subir em cadáveres para fazer palanque”.
Guedes também fez um aceno ao Centrão,
bloco de partidos ao qual o Palácio do Planalto se aproximou em meio à crise política
como forma de garantir sua governabilidade, ao refutar qualquer "toma lá dá
cá" e dizer que se trata de um “centro democrático programático, não
fisiológico”. Mas pediu ao Congresso Nacional que mantenha o veto prometido pelo presidente Jair Bolsonaro aos reajustes.
“O presidente disse 'conte comigo, nós vamos fazer
esse veto'. Mas o presidente não quer que veto
se transforme em exploração política (com derrubada)”, disse o ministro,
solicitando “colaboração” do presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), nessa articulação. “O importante para Brasil
não é só busca por popularidade”, afirmou Guedes, acrescentando que Bolsonaro
“é popular, não populista”.“O pedido que faço é que não transformem isso (veto)
em ato inútil”, disse o ministro.
O projeto de socorro a Estados e municípios foi
aprovado no Congresso com um aval do próprio presidente para beneficiar o funcionalismo,
principalmente da área de segurança, atropelando a orientação do ministro
Guedes de garantir essa contrapartida ao socorro de R$ 125 bilhões aos
Estados e municípios.
O congelamento integral garante economia de R$
130 bilhões para União, Estados e municípios. Da forma como foi aprovado no
Congresso, o texto dá alívio de apenas R$ 43 bilhões. Depois de dar o
aval, porém, Bolsonaro avisou que atenderia “100%” ao pedido do ministro da
Economia para vetar o dispositivo.
Aumento
O Estadão/Broadcast revelou, no entanto, que
Bolsonaro segura a sanção da proposta e o veto aos reajustes para que policiais do
Distrito Federal consigam ter aprovado seu aumento, prometido
desde o fim do ano passado. Os recursos que pagam os salários das forças de
segurança do Distrito Federal são bancados pela União.
Hoje, Guedes criticou a tentativa das categorias de
pedir aumento. “É inaceitável que tentem saquear o
gigante que está no chão. As medalhas são dadas após a guerra, não antes da
guerra”, disse. “Que história é essa de pedir aumento antes porque policial vai
trabalhar mais? Se policial trabalhar mais, ótimo, recebe hora extra”,
acrescentou.
O ministro avisou que não se pode “deixar que se
aproveitem de momento de fragilidade do País” para pedir aumentos salariais. “Vamos subir em
cadáveres para fazer palanque? Vamos subir em cadáveres para se aproveitar do
governo? A sociedade vai punir quem subir em cadáveres para fazer palanque”,
disse.
Ao criticar o lobby pelos reajustes, Guedes fez
questão de ressaltar que não vai faltar dinheiro para a saúde. O ministro,
porém, pediu “respeito de parte a parte”.“Estamos lutando a bordo do mesmo
barco. Vamos esperar chegar em terra firme, aí começa a brigar de novo”, disse.


