Maia se reúne com Bolsonaro e defende retomada do diálogo apesar de
divergências
© Reuters/ADRIANO MACHADO Presidente da Câmara,
Rodrigo Maia
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ), conversou nesta quinta-feira com o presidente Jair
Bolsonaro no Palácio do Planalto e defendeu que seja retomado o diálogo entre
os Poderes e em todas as esferas da administração na busca de uma solução para
a crise do coronavírus.
A relação de Maia e Bolsonaro vinha enfrentando um
estremecimento, com duros ataques do presidente da República ao deputado, tendo
como pano de fundo a disputa pelo apoio do grupo político conhecido como
"centrão".
"Acho que o diálogo e a construção de caminhos
em conjunto geram uma maior esperança dos brasileiros nesse momento",
disse Maia a jornalistas após o encontro com Bolsonaro.
"Os conflitos e as brigas geram insegurança e
a perda da confiança da sociedade, já que aqueles que têm a responsabilidade do
diálogo e de construção dos caminhos em conjunto estão confrontando."
Segundo o presidente da Câmara, o convite para o
encontro partiu há algumas semanas dos ministros da Casa Civil, Walter Braga
Netto, e da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos. Maia disse que visitava
o gabinete de crise montado para o enfrentamento à crise do coronavírus no
Palácio do Planalto quando Bolsonaro chegou e o convidou para um café. A
conversa durou cerca de 30 minutos, segundo o deputado.
Imagens do encontro veiculadas por emissores de TV
mostram Maia, de máscara de proteção, constrangido ao tentar cumprimentar
Bolsonaro à distância, como tem feito com os pares no plenário da Câmara, de
onde tem comandado sessões remotas devido às restrições de circulação de
pessoas por conta do novo vírus. Bolsonaro, sem máscara, no entanto, parece não
perceber a tentativa de cumprimento e abraça de lado o deputado.
"Meu papel, independentemente daquilo que
concordo e daquilo de divirjo, meu papel institucional é levar a pauta da
Câmara", afirmou Maia na entrevista coletiva pós-encontro.
"Temos, de forma majoritária, essa divergência
sobre o momento do isolamento, mas isso não pode nos dividir", argumentou.
"Acho que o importante é que todos possam voltar a sentar na mesa e
discutir os caminhos", defendeu o deputado, citando como exemplo a
necessidade de ampliação do número de testes para detecção de Covid-19.
O abraço de Bolsonaro ocorreu algumas horas após o
presidente criticar indiretamente o deputado, sem citá-lo nominalmente, em
videoconferência com empresários.
Bolsonaro também chegou a acusar Maia, há pouco
menos de um mês, de conduzir o país ao caos e de atuar para tirá-lo da
Presidência da República.
Apoiadores do presidente também têm o deputado como
alvo preferencial em ataques na internet e também em manifestações nas ruas,
que chegam a pedir ainda o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal
Federal (STF) e defendem uma intervenção militar.
Maia negou que tenha conversado com o presidente
sobre as movimentações do governo para a construção de uma base de apoio no
Congresso, e disse que cumpria na conversa seu papel institucional.
As investidas de Bolsonaro junto ao centrão, que
incluíram a oferta de cargos, minaram o monopólio político do presidente da
Câmara neste grupo, ainda que muitos parlamentares estejam com um pé em cada
barco.
Na entrevista após o encontro, o presidente da
Câmara voltou ainda a defender as reformas econômica e disse que elas serão
ainda mais relevantes na retomada das atividades do país no pós crise, citando
especificamente a tributária e a administrativa.
(Reportagem de Maria Carolina Marcello)


