quinta-feira, 7 de maio de 2020

BOLSONARO PUNE 30% DOS SERVIDORES DE AUMENTOS SALARIAIS


Bolsonaro ignora equipe econômica e dá aval para manter reajuste de servidores

Adriana Fernandes e Julia Lindner 




BRASÍLIA - Com aval do presidente Jair Bolsonaro ao corporativismo do funcionalismo público, o Congresso atropelou medida desenhada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, de congelamento de salários dos servidores públicos, e reduziu em quase R$ 90 bilhões a economia nos gastos do governo federal, Estados e municípios com a folha de pagamento de pessoal até 2021.
O congelamento era a contrapartida que Guedes cobrou para repassar diretamente R$ 60 bilhões aos governadores e prefeitos nos próximos quatro meses, suspender dívidas e manter garantias do Tesouro em empréstimos, num alívio financeiro total de R$ 125 bilhões, em meio à crise provocada pela pandemia do coronavírus.


© Jefferson Rudy/Agência Senado Davi Alcolumbre, que foi o relator do texto, sofreu inúmeras pressões do funcionalismo público para 'salvar' salários do congelamento.

A Câmara “salvou” várias categorias do congelamento e o Senado manteve as mudanças, com exceção dos policiais legislativos. As alterações reduziram para R$ 43 bilhões a economia que seria obtida nas contas de União, Estados e municípios.
Esse é mais um desgaste para Guedes, que enfrentou, há duas semanas, “fogo amigo” no lançamento do programa Pró-Brasil (que previa a ampliação de investimentos públicos em infraestrutura) e não conseguiu emplacar a reforma administrativa (com redução no número de carreiras e do salário de entrada de novos servidores) – de novo, por resistência de Bolsonaro.
A proposta inicial negociada com o relator do projeto de auxílio emergencial a Estados e municípios no Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), era de uma economia de R$ 130 bilhões em 18 meses. Depois da pressão do funcionalismo, principalmente da área militar, o Senado não quis repor o texto inicial.
Alcolumbre chegou a apresentar um relatório retirando da lista de exceções os professores e policiais legislativos. Mas, diante da pressão, deixou os professores de fora do congelamento.
“Nos momentos de negociação, havia dois governos. Uma área econômica do governo técnica e querendo segurar, e a área política comandada por servidores militares, o ministro Ramos (Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo), indo para outra direção”, disse o relator do projeto na Câmara, Pedro Paulo (DEM-RJ). Para ele, o congelamento vai “cair” na Justiça.
Apesar do recuo em relação aos servidores da Educação, o presidente do Senado reintroduziu no texto a expressão “desde que esses servidores trabalhem no combate à pandemia”. A frase tinha sido retirada na votação da Câmara por determinação do presidente Bolsonaro e foi motivo de desavenças do líder do governo, Major Vitor Hugo (PSL-GO), com Guedes. “Sou líder do governo, e não líder de qualquer ministério”, disse ele.
Ele contou que, durante a votação na Câmara, na útlima segunda-feira, 4, conversou com Bolsonaro, que deu a ele a ordem. “Faça dessa maneira e vamos acompanhar esses profissionais que estão na ponta da linha”, disse o líder. O Ministério da Economia não se manifestou.
Texto ‘salva’ 70% dos servidores do congelamento
Sete de cada dez servidores em serviço nos Estados e municípios vão poder ter reajustes salariais até dezembro de 2021. O restante vai arcar sozinho com o congelamento de salários e promoções nos próximos 18 meses. As alterações feitas na Câmara e mantidas pelo Senado, que “salvaram” várias categorias do congelamento de salários, reduziram o alcance da medida proposta por Guedes, como uma “cota de sacrifício” do funcionalismo público – que tem estabilidade no emprego – na crise da pandemia da covid-19.
O crescimento da folha de pessoal é hoje o principal fator a corroer o espaço do Orçamento da maioria dos Estados e municípios brasileiros. Os servidores das áreas de Saúde, Educação e Segurança são responsáveis pelo maior peso nas folhas de governadores e prefeitos. No caso do governo federal, as categorias poupadas representam cerca de 60% do total dos servidores.
Foram poupados do congelamento servidores da área de Saúde (como médicos e enfermeiros), policiais militares, bombeiros, guardas municipais, policiais federais, policiais rodoviários federais, policiais legislativos, trabalhadores de limpeza urbana, de assistência social, agentes socioeducativos, técnicos e peritos criminais, professores da rede pública federal, estadual e municipal, além de integrantes das Forças Armadas.
As diversas categorias de servidores mostraram força de mobilização e pressão no Congresso, mesmo com as críticas de diversos setores da sociedade civil, afetados pela crise com demissões e corte de salários, que cobraram medidas semelhantes dos servidores.
De acordo com dados oficiais, hoje já são mais de 5,5 milhões de trabalhadores que tiveram o salário reduzido ou o contrato suspenso por causa da crise provocada pela pandemia. A expectativa é que 73% dos empregados formais sejam atingidos com uma das duas modalidades. Outros 50 milhões de pessoas já receberam o auxílio emergencial de R$ 600 pago pelo governo a desempregados e informais.
O Novo foi o único a orientar o voto “não” na ampliação das categorias blindadas pela Câmara. “Eles (os deputados) pensaram menos no Brasil e mais em defender as próprias categorias e os votos que eles têm nessas categorias”, disse o deputado.
Alcolumbre, pediu aos servidores que não foram poupados que entendam o congelamento dos salários como uma “contribuição”. “Os servidores vão contribuir apenas com a suspensão do reajuste por 18 meses”. O que estamos pedindo é uma colaboração, uma contribuição”, afirmou antes de votar o texto.
Na votação da última quarta-feira, 6, os senadores chancelaram alterações feitas pela Câmara que afrouxaram a contrapartida estabelecida por Guedes, para que governadores e prefeitos recebam o dinheiro. A equipe do ministro tentou reverter algumas derrotas, mas não conseguiu convencer os senadores.
Justiça
Para a Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital (Fenafisco), o Congresso fez “justiça” ao ampliar as categorias de servidores que vão poder ter reajustes nos salários até o fim de 2021. O sindicato sinalizou que vai recorrer do congelamento para os demais servidores, classificado como “indigno e vexatório”.
A Fenafisco alegou que os servidores públicos estão entre os que mais pagam impostos no Brasil e, pelo critério da isonomia, manter o congelamento para os demais servidores é “legalmente frágil”. A federação reúne 32 sindicatos com mais de 37 mil filiados.
“Sem desmerecer a importância da medida dispensada à ampla maioria dos servidores públicos, a Fenafisco entende que se mostra insustentável do ponto de vista fiscal, injustificável do ponto de vista constitucional (pelo princípio da isonomia) e incompreensível do ponto de vista político a manutenção do congelamento salarial para os demais servidores públicos”, diz a entidade.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

BOLSONARO PODE SOFRER IMPEACHMENT POR CAUSA DO CORONAVIRUS


'Se Bolsonaro sofrer impeachment, será por causa da pandemia', prevê consultoria Eurasia






© Marcello Casal Jr/Agência Brasil Desde o início da pandemia, presidente Jair Bolsonaro tem criticado medidas de isolamento social e interagido com apoiadores sem máscara, ignorando recomendações da Organização Mundial de Saúde

Ao colocar na balança os fatores que podem ser mais prejudiciais à popularidade do governo Jair Bolsonaro nos próximos meses, o comportamento do presidente diante da pandemia do novo coronavírus e um eventual colapso do sistema de saúde brasileiro em um futuro próximo podem ameaçar mais a estabilidade do cargo do que os escândalos políticos que cercam sua família.
Essa é a visão da consultoria Eurasia Group, especializada em análises de risco, que coloca em 25% as chances de que Bolsonaro não conclua o seu mandato — existam 30 pedidos de impeachment contra o presidente esperando análise na Câmara.
"Diante de um escândalo político, uma emergência pública de saúde e uma crise econômica, a presidência de Jair Bolsonaro está em crise mas as chances de impeachment são de apenas 25%", informa o relatório, que argumenta que os parlamentares demonstram pouca disposição para iniciar um processo de impeachment em meio à pandemia, cenário que só mudaria se a aprovação de Bolsonaro caísse a patamares próximos ao dos outros presidentes que já foram demovidos de seus cargos.
Desde o início da pandemia, Bolsonaro tem sido crítico das medidas de isolamento social, que considera exageradas e prejudiciais à economia. Já usou o usou o termo "gripezinha" para se referir à covid-19, que já matou quase 8 mil no país (dados desta quarta, 06/05).
Embora a possibilidade de impeachment exista, na visão da Eurasia, um afastamento do presidente dependeria de uma queda muito substancial na base de apoio popular do presidente, que, de acordo com pesquisa mais recente do DataFolha, tem aprovação de um terço dos brasileiros (33%).
"Considerando sua base de apoiadores muito leal, é pouco provável que as taxas de aprovação de Bolsonaro caiam substancialmente a níveis perigosos para o presidente", prevê a Eurasia. Mas, se caírem, o mais provável é que a pandemia, e não o eventual desgaste pelas investigações que parecem se aproximar de núcleos próximos a ele, seja o que pode derrubar a popularidade de Bolsonaro.
Christopher Garman, diretor gerente para as Américas do Eurasia Group e que assina o relatório, diz que a pandemia de covid-19, que já infectou mais de 114 mil pessoas no país, tornou-se a "grande variável" política para o futuro do governo.
"A pandemia é a grande variável. Se o presidente sofrer um impeachment, será por causa disso", afirma Garman, em entrevista à BBC News Brasil. "É claro que as denúncias contra o presidente, a família, os filhos, isso pode dar uma base legal para uma moção de impeachment, o fato de ele tentar interferir nas investigações. (Mas) acho que é fácil a base bolsonarista criar uma narrativa que possa proteger o presidente nessa linha. Agora se você tem um colapso no sistema público de saúde nas grandes capitais...isso é uma coisa que pode levar a um colapso maior na aprovação dele", diz.
"Para mim, a combinação desse colapso no sistema público de saúde, sendo que o presidente se opôs a medidas para tentar forçar o achatamento da curva, com denúncias e crise política, poderiam levar a um impeachment; a combinação dessas duas coisas", afirma o analista.
Atualmente, três filhos de Bolsonaro estão sob investigação. Ao pedir demissão, o agora ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro atribuiu sua saída a pressões que o presidente estaria exercendo sobre a Polícia Federal — e que ele classificou de "inadequadas". Segundo o ex-juiz da Lava Jato, Bolsonaro chegou a pedir informações sobre investigações em andamento, ameaçando a autonomia da corporação, segundo Moro.
Na avaliação de Garman, mestre em ciência política e que lidera a equipe de análises sobre o Brasil da Eurasia, Bolsonaro, diferentemente de outros presidentes que foram afastados ou correram o risco de perder o cargo, depende mais de apoio popular do que de coalizão política para governar.
O relatório da Eurasia cita, como exemplo de contraste, a situação do ex-presidente Michel Temer, que era muito impopular, mas que garantiu sua permanência no poder, mesmo após denúncias contra ele, por ter base de apoio no Congresso.
A Eurasia pondera que, enquanto Bolsonaro contar com apoio de um terço da população, é pouco provável que os parlamentares votem a favor de um impeachment. "O deputado (federal) tem que chegar à conclusão de que votar a favor do impeachment do presidente não vai lhe custar caro nas próximas eleições."


© Eurasia Para Garman, combinação de um colapso no sistema de saúde a denúncias de escândalos políticos poderiam levar a um impeachment, caso popularidade caísse a níveis alarmantes

Quando aumenta o risco?
Garman alerta que a situação muda se a popularidade de Bolsonaro cair mais expressivamente, a taxas de aprovação abaixo de 20% ou 15%. Nesse caso, ele entraria no patamar de popularidade em que estiveram, por períodos prolongados, presidentes brasileiros que já sofreram impeachment: Fernando Collor de Melo, em 1992, e Dilma Rousseff, em 2016.
Tanto Collor quanto Dilma, diz o relatório da Eurasia, foram destituídos do cargo depois de um longo período sem apoio popular. Usando pesquisas que medem apoio como excelente, bom, regular, bom ou horrível, os dois tinham seus percentuais de avaliação "excelente" e "bom" já abaixo de 20% um ano antes da moção por impeachment ser aprovada; e abaixo de 15% seis meses antes do impeachment. Um mês antes do impedimento legal, eles tinham 10% de apoio.
"O ponto é: se você chega num ótimo/bom abaixo de 15% é uma zona de perigo sim para o presidente. [ A possibilidade de impeachment] Começa a ficar mais factível", diz.
Na visão da Eurasia, tal cenário é consistente para uma votação de impeachment. A Constituição estipula que dois terços da Câmara (342 de 516 deputados) são necessários para aprovar um pedido de impeachment ou abrir um julgamento no STF.
O analista destaca que, no caso da crise atual, que gira em torno da pandemia, a janela mais provável para um impeachment seria o segundo semestre deste ano. Uma vantagem de Bolsonaro em relação a seus antecessores que foram impedidos.
"O tipo de crise que a gente vive, é que, em contraste com Dilma ou Collor, em que você estava em uma crise econômica crônica, sem fim no final do túnel, essa é uma crise imensa esse ano com uma recuperação no ano que vem. Por que tem muito a ver com as pessoas voltarem a trabalhar. Por isso que eu diria que a janela de 'impichar' o presidente é o segundo semestre. Porque se ele passar pelo segundo semestre e a economia começar a se recuperar no ano que vem, aí as condições de um impeachment também diminuem", prevê.
"É claro que a crise atual é muito mais severa, de proporções históricas, do que eram com Dilma ou Collor. Mas a janela para o impeachment é mais limitada", afirma, acrescentando que se a equipe econômica for demitida, o que consideramos improvável, essa suposição pode não ser válida. 



© Divulgação Carlos, Flávio e Eduardo Bolsonaro, filhos sob investigação: interferências do presidente na PF podem atrapalhar popularidade do governo

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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