sexta-feira, 10 de abril de 2020

REMÉDIO CLOROQUINA NO DEBATE ENTRE TRUMP NOS EUA E BOLSONARO NO BRASIL


Quem é Anthony Fauci, principal cientista dos EUA no combate ao coronavírus, que contradiz Trump sobre cloroquina

 
© Casa Branca/Andrea Hanks O médico Anthony Fauci é considerado o mais importante especialista em doenças infecciosas dos Estados Unidos

Não é somente no Brasil que a duração das medidas de distanciamento social e o uso de hidroxicloroquina em pacientes com covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, têm gerado divergências entre o presidente e o principal especialista em saúde do governo.
Nos Estados Unidos, o médico Anthony Fauci, considerado o mais importante especialista em doenças infecciosas do país e um dos principais integrantes da força-tarefa criada pela Casa Branca para responder à pandemia, costuma contradizer o presidente Donald Trump nessas e em outras questões ligadas ao novo coronavírus.
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Mas, enquanto no Brasil o embate público travado entre o presidente Jair Bolsonaro e o titular da pasta da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, levou a rumores no início desta semana de que Bolsonaro cogitava demitir o ministro, nos EUA, por enquanto, Fauci segue contando com o apoio de Trump, apesar de críticas por parte de aliados do presidente.
Diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos desde 1984, Fauci é um dos principais especialistas do mundo em epidemias, tendo servido nos governos de seis presidentes de ambos os partidos (Ronald Reagan, George Bush, Bill Clinton, George W. Bush, Barack Obama e Donald Trump). Teve papel crucial no combate a diversas epidemias anteriores, principalmente a de HIV/Aids, a partir dos anos 1980.
O cientista de 79 anos de idade defende que regras rígidas de distanciamento social devem ser mantidas em todo o país para conter o avanço do novo coronavírus. Até quinta-feira (09/04), os EUA, principal epicentro da pandemia, já registravam mais de 455 mil casos e mais de 16 mil mortes.
Quando Trump anunciou, no fim de março, que pretendia reabrir a economia americana até a Páscoa, Fauci e a coordenadora da força-tarefa da Casa Branca, Deborah Birx, apresentaram ao presidente modelos que previam entre 100 mil e 240 mil mortes no país.
Após ouvir as recomendações dos especialistas, Trump acabou estendendo as regras de distanciamento social até pelo menos o fim de abril - apesar de os governadores terem liberdade para definir as regras em seus Estados, e alguns ainda não terem determinado medidas obrigatórias para que a população não saia de casa.
Hidroxicloroquina
Sua atuação na força-tarefa da Casa Branca e a participação constante em briefings diários e em entrevistas a diversos veículos de imprensa transformaram Fauci em herói para parte dos americanos, mas também em alvo de alguns aliados de Trump, que acusam o cientista de prejudicar a economia e tentar impedir o tratamento de doentes com hidroxicloroquina.
No início deste mês, Fauci passou a contar com segurança extra, depois de sofrer ameaças. Pelo menos nove agentes especiais foram designados para proteger o cientista. Segundo a imprensa americana, além das ameaças recebidas, haveria também a preocupação com "fãs fervorosos" que vinham tentando se aproximar de Fauci.


© AFP No fim de março, a agência do governo americano responsável por medicamentos permitiu o uso da hidroxicloroquina contra o novo coronavírus

O uso de hidroxicloroquina em pacientes infectados com o novo coronavírus é um dos principais pontos de divergência entre Trump e Fauci. Assim como Bolsonaro, o presidente americano também é entusiasta do uso do medicamento - que é indicado para o tratamento de doenças como artrite reumatoide, lúpus e malária.
Mas Fauci, assim como Mandetta, alerta que os estudos sobre a segurança e a eficácia do uso da droga em casos de covid-19 ainda são muito limitados e há o risco de efeitos colaterais graves, que incluem arritmia cardíaca e podem, em alguns casos, ser fatais.
No fim de março, a Food and Drug Administration (FDA), agência do governo americano responsável pelo controle de medicamentos, emitiu uma ordem emergencial permitindo que médicos usem a hidroxicloroquina em pacientes infectados pelo novo coronavírus
No último domingo, as divergências entre Fauci e Trump a respeito da droga voltaram a ficar claras durante uma coletiva de imprensa, na qual o presidente repetiu que havia "sinais poderosos" da eficácia da hidroxicloroquina em casos de covid-19.
"O que temos a perder?", perguntou Trump. Quando um repórter questionou Fauci sobre as evidências médicas da eficácia da hidroxicloroquina, Trump interrompeu antes que o cientista pudesse responder: "Você sabe quantas vezes ele já respondeu a essa pergunta? Talvez 15", disse o presidente, impedindo que Fauci falasse.
Ataques
Fauci é considerado um dos poucos integrantes do governo que se arriscam a corrigir Trump em público. Quando o presidente disse que logo uma vacina contra o coronavírus estaria disponível, o cientista discordou e alertou que, na verdade, levaria mais de um ano.
Muitos creditam a Fauci a mudança de tom de Trump em relação à pandemia. Depois de inicialmente minimizar os riscos do coronavírus, que chegou a comparar a uma gripe comum, o presidente passou a admitir a gravidade da crise e recomendar medidas de distanciamento social.


© EPA Os EUA se tornaram o país com o mais número de casos de covid-19 do mundo

Mas a disposição de contrariar Trump tem levado a ataques por parte de aliados do presidente. O cientista virou alvo de várias teorias da conspiração de que faria parte de um grupo secreto com o objetivo de prejudicar Trump, que concorre à reeleição em novembro. A hashtag #FauciFraud (FauciFraude, em português) aparece em milhares de tuítes.
No mês passado, viralizou na internet uma imagem do cientista com a cabeça baixa e a mão cobrindo o rosto, parecendo tentar conter o riso enquanto o presidente se referia ao Departamento de Estado como "Departamento do Estado Profundo" (em referência a um suposto grupo dentro do governo que agiria nas sombras para prejudicar o presidente).
Críticas
Alguns comentaristas conservadores passaram a questionar a credibilidade e as recomendações de Fauci. Lou Dobbs, da Fox Business Network, criticou o cientista por sua resistência em relação à hidroxicloroquina. "O presidente estava certo e, francamente, Fauci estava errado", disse Dobbs em seu programa.
O âncora Tucker Carlson, da Fox News, dedicou seu programa na semana passada a críticas à atuação de Fauci. Carlson disse que o médico não deveria estar tomando decisões que afetam os rumos da economia do país, que manter a quarentena no país seria "suicídio nacional" e que o desemprego resultante será um desastre maior do que vírus.
A linguagem é parecida com a utilizada nas críticas à atuação do ministro Mandetta, que defende a importância do isolamento social para retardar a disseminação do coronavírus no Brasil.
Nesta semana, o deputado Osmar Terra (MDB-RS), cotado para assumir a pasta caso Bolsonaro demita Mandetta, disse que "quem vai matar o Brasil não é o coronavírus, é a quarentena".


© Reuters A disposição de Fauci de contrariar Trump tem levado a ataques ao médico por parte de aliados do presidente

Bolsonaro alerta para os danos que as medidas de isolamento causarão à economia. O presidente já defendeu a reabertura do comércio em pronunciamento transmitido em rede nacional e manteve contato próximo com o público em várias ocasiões, ignorando as regras de distanciamento.
Nos EUA, 16,8 milhões de americanos já pediram seguro desemprego nas últimas três semanas, um aumento sem precedentes, em meio a medidas que fecharam o comércio, empresas e escolas e paralisaram a economia do país, onde milhões seguem a recomendação de permanecer dentro de casa para evitar o avanço do coronavírus.
Rumores
Nas últimas semanas, artigos publicados na imprensa americana sugeriram que Trump e alguns membros da Casa Branca poderiam estar perdendo a paciência com Fauci. Um dos motivos seria o fato de o cientista criticar o presidente em entrevistas a alguns veículos, ao mesmo tempo em que elogia Trump quando fala com a imprensa conservadora.
Mas tanto Trump quanto Fauci rejeitam os rumores de tensão. Em entrevista no mês passado à revista Science, Fauci disse que "apesar de discordarmos em algumas coisas, ele (Trump) ouve". Segundo o cientista, Trump "tem seu próprio estilo. Mas em questões importantes, ele ouve o que eu digo".
Mas, na mesma entrevista, ao responder sobre o fato de que há declarações feitas por Trump que não seriam "verdadeiras" ou "baseadas em fatos", Fauci disse: "Não posso pular em frente ao microfone e empurrá-lo. Ok, ele disse isso, Vamos tentar corrigir da próxima vez."
No fim de março, circulou na internet um vídeo em que Fauci diz a colegas que Trump "quase sempre" ignora as sugestões que faz ao presidente antes das coletivas de imprensa diárias.
Mas apesar das divergências e da pressão de alguns aliados descontentes com Fauci, Trump parece continuar ouvindo o especialista, a quem costuma chamar de Tony.
"Fauci talvez seja a única figura capaz de suportar os ataques, lidar com o presidente e transmitir sua mensagem", escreveu a colunista Margaret Sullivan, do jornal Washington Post.
"A fórmula que o trouxe até aqui inclui partes iguais de energia infinita, diplomacia robusta e a disposição de repetir calmamente o que disse para quem quiser ouvir - incluindo o presidente."

quinta-feira, 9 de abril de 2020

VOCÊ É RESISTENTE E OU RESILIENTE?


Você é resistente ou resiliente?

Simone Demolinari








Apesar de serem palavras parecidas, os conceitos são diferentes. A resistência pode ter duas vertentes: a física e a psíquica. Fisicamente tem a ver com um corpo forte capaz de suportar situação de cansaço, fome, privação de sono. Já o indivíduo psiquicamente resistente é aquele que suporta, sem esmorecer, situações de pressão, estresse, lida bem com a frustração, apresenta equilíbrio emocional para administrar os problemas, se adapta bem à mudança e consegue conduzir, com serenidade, situações adversas. Estes são os resistentes.
Já os resilientes são aqueles que apresentam grande capacidade de retornar ao estado psíquico original, mesmo após passar situações de dor e sofrimento. É um termo originalmente usado na física para definir a capacidade de um material em voltar ao seu estado normal, sem deformação, depois de ter sofrido forte tensão. A psicologia herdou o termo e hoje usa-se “resiliência psicológica” para descrever o indivíduo que passa pelo estresse e retoma sua qualidade emocional.
Os indivíduos resilientes não deixam os acontecimentos ruins da vida desviarem seu curso. Caem e levantam. Uma boa metáfora seria imaginar o boneco chamado “Joao Bobo”. Um boneco com uma base arredondada, firme e pesada que faz com que ele se levante mesmo após levar uma pancada. Nada derruba o boneco.  Mesmo apanhando ele volta à sua posição inicial; de pé.
Indivíduos resilientes apresentam algumas características mais desenvolvidas, tais como:
- Otimismo: conseguem ver a oportunidade na dificuldade. São positivos e confiantes no futuro mesmo em um cenário desfavorável. Pensam que as coisas boas superam as ruins. São dotados de positividade alicerçada em fortes valores internos.
- Se livram rapidamente do problema: Têm como característica uma certa praticidade. Quando constatam que algo não está bom, se livram, sem muito apego, daquela situação.  Suportam por menos tempo as dores consideradas evitáveis.
- Sabem jogar a seu favor: lutar em prol de si é uma característica fundamental para adquirir resiliência. Indivíduos que se priorizam são mais resilientes pois não são omissos consigo. Enfrentam o problema e carregam a boa sensação de ter lutado a seu favor.
- Não são vitimistas: convém diferenciar: vítima é aquele indivíduo cuja fraqueza foi explorada; vitimista é aquele que, por conveniência, estagna no sofrimento e na reclamação. Pessoas resilientes podem até ser vítimas, contudo, jamais se tornam vitimistas para justificar sua infelicidade. Viram o jogo e são mestres em “transformar o limão em limonada”.
- Aprendem com os erros: saber tirar proveito do aprendizado é fundamental para a resiliência. O filósofo Sartre traz em seus textos uma pergunta: “O que você fez com o que te fizeram?”. Os resilientes certamente fazem do erro um aprendizado.
É importante saber que a resiliência pode ser adquirida através de treino e prática, portanto todos estão aptos a tê-la.