"Declínio econômico acabou", diz Trump em discurso do Estado
da União
Em
pronunciamento anual sobre Estado da União, presidente americano listou
conquistas econômicas e mirou base conservadora de apoiadores. Líder democrata
Nancy Pelosi rasgou discurso diante de Congresso polarizado.
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Getty Images/AFP/M. Ngan Donald Trump mirou base conservadora ao focar em
economia meses antes de eleição
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump,
reivindicou ser o responsável por uma "grande retomada americana"
durante o discurso anual do Estado da União, na noite desta terça-feira (04/02)
em Washington.
Diante de um Congresso dividido, Trump aproveitou
para se concentrar em assuntos ligados à economia num pronunciamento que deverá
impactar em sua campanha pela sua reeleição, em novembro deste ano.
Enquanto Trump subia ao palanque da mesma Casa em
que uma maioria de Democratas votou pelo seu impeachment, em dezembro,
congressistas republicanos entoaram gritos de "mais quatro anos!".
Durante o pronunciamento de 78 minutos, Trump não
mencionou o julgamento do impeachment que deverá terminar nesta quarta (05/02)
com votação da sentença pelo Senado. É esperado que o presidente americano seja
absolvido pela maioria republicana.
Democratas da oposição demonstraram visível e
audivelmente estarem contrariados pela linguagem que consideraram extremamente
partidária do discurso de Trump. Num aceno a seus apoiadores, o presidente
republicano criticou assuntos como imigração, pediu restrições ao aborto e
afirmou que defenderia direitos de posse de armas.
No final do discurso, a presidente da Câmara e
expoente da votação do impeachment, a democrata Nancy Pelosi, rasgou a cópia do
discurso que Trump havia entregue a ela e ao vice-presidente e também
presidente do Senado, Mike Pence, ao subir ao pódio. A atitude de Pelosi foi
considerada a reação mais clara dos democratas às palavras de Trump, mas foi
criticada por conservadores como "infantil".
"Foi o que havia de cortês a fazer
considerando as alternativas", explicou Pelosi, chamando o discurso de
"um manifesto de inverdades".
O gesto refletiu a polarização no Capitólio. Em vez
de concretizar um tradicional momento de trégua política, o discurso mostrou a
guerra simbólica do país antes das eleições presidenciais.
O presidente americano foi repetidamente aplaudido
por congressistas republicanos durante o discurso. "Estamos avançando num
ritmo inimaginável até há pouco tempo, e nunca voltaremos para trás",
declarou, entre palmas dos correligionários. "Os anos de declínio
econômico acabaram".
De forma reiterada, Trump apontou contrastes entre
seu mandato e o do ex-presidente democrata Barack Obama. Num momento do
discurso, ele atacou "as políticas econômicas fracassadas da gestão
anterior".
A checagem de vários veículos de comunicação do
país rapidamente destacaram que a atual expansão econômica nos Estados Unidos
começou sob Obama e que vem mostrando sinais de retração nos últimos três
meses. Segundo as análises, Trump não conseguiu manter o crescimento econômico
de 3%, conforme havia prometido.
Repleto de frases de efeito como a defesa de
orações em escolas, o pronunciamento deverá ser bem recebido por sua base de
apoiadores conservadora. O presidente americano concedeu a Medalha Presidencial
da Liberdade – a maior honraria no país a um civil – ao apresentador de rádio
conservador Rush Limbaugh, conhecido por declarações consideradas racistas.
Limbaugh anunciou esta semana estar combatendo um câncer de pulmão.
Trump também realizou um reencontro surpresa entre
um soldado e sua família e apresentou o presidente autodeclarado da Venezuela e
líder da oposição Juan Guaidó, que estava na plateia, como um bastião contra o
socialismo – em provocação ao regime de Nicolás Maduro. "O socialismo
destrói nações, mas sempre lembrem que a liberdade unifica a alma",
sentenciou Trump, que também elogiou o aumento das despesas do estado com o
Exército.
O presidente também listou como exemplos de
promessas cumpridas, entre outros, um acordo comercial com a China e medidas
"sem precedentes" para coibir a imigração ilegal, além de seu
controverso plano de paz para "acabar com as guerras americanas no Oriente
Médio".
Por outro lado, o presidente americano não falou na
dívida interna crescente, que poderá atingir níveis recorde desde a Segunda
Guerra Mundial. Criticado pela falta de propostas para a área da saúde, Trump
prometeu baixar os custos de planos para a população, atacando as propostas
democratas como "uma tomada socialista" que arruinaria o país,
diminuindo benefícios ao conceder cuidados a imigrantes ilegais.
De acordo com a visão de Trump, as promessas de
renovação do programa espacial americano deverão ser concretizadas e que os
Estados Unidos "cumprirão seu destino nas estrelas" e que serão
"a primeira nação a fincar sua bandeira em Marte".
Em suas críticas, Trump atacou "imigrantes
ilegais", detalhando alegados crimes violentos cometidos por imigrantes e
dizendo que apoiaria uma legislação que processe localidades que possuem leis
protegendo cidadãos sem documentos.