Dever faz mal à saúde: endividamento afeta sono e
produtividade de mais de 53 mi de brasileiros
Janaína Oliveira
“Vou para a cama pensando em como resolver os problemas financeiros, mas
acordo sem solução”, diz
O policial civil
mineiro Tiago Oliveira há tempos não tem uma noite bem dormida. Com o salário
parcelado desde 2016 e o aumento das despesas desde que se casou e deixou a
casa dos pais, as contas acumularam e ele se viu enrolado em meio a tantas
dívidas. “Passei a dormir no máximo quatro horas. Vou para a cama pensando em
como resolver os problemas financeiros, mas acordo sem solução. E pior, mais
estressado e cansado”, diz.
Oliveira é um dos
54,8 milhões de brasileiros que têm o sono prejudicado por causa do
endividamento, conforme aponta pesquisa do Instituto Locomotiva, em parceria
com a Negocia Fácil, serviço de cobrança digital. Segundo o estudo feito em
todas as regiões do país, inclusive Minas Gerais, 54,1 milhões dos inadimplentes
estão com a autoestima prejudicada, 53,5 milhões têm o rendimento profissional
afetado e 45,3 milhões sofrem com alterações no apetite.
Além desses efeitos
colaterais, 45,9 milhões não atendem ligações de cobradores e 44,7 milhões
sentem vergonha e medo de que alguém descubra que estão devendo na praça ou até
com o nome sujo.
Ainda de acordo com
a pesquisa, 57,9 milhões de brasileiros estão atormentados com as contas
atrasadas. As preocupações assombram nove em cada dez devedores e quanto menor
a renda, maior é a agonia – 84% das pessoas de classe AB se preocupam muito com
as dívidas, enquanto 94% das pessoas da classe C e 98% das classes DE têm a
mesma aflição.
“O levantamento
derruba de uma vez por todas o mito de que o consumidor está inadimplente
porque quer. De forma geral, as pessoas se preocupam muito e têm a vida pessoal
e a saúde afetadas”, afirma o diretor de Pesquisa do Instituto Locomotiva, João
Paulo Cunha.
Cotidiano
Para ele, a inadimplência está longe de ser um fenômeno puramente financeiro. Ela não só tem um alto impacto no cotidiano, como na economia geral.
“Uma parcela imensa da população endividada declara que o estado emocional, a concentração, o apetite, as relações familiares e até a vida amorosa são prejudicados. Já quem honra com os compromissos financeiros é mais feliz, saudável e produtivo no trabalho”, completa o diretor de Negócios Digitais do Negocia Fácil, José Moniz.
Para ele, a inadimplência está longe de ser um fenômeno puramente financeiro. Ela não só tem um alto impacto no cotidiano, como na economia geral.
“Uma parcela imensa da população endividada declara que o estado emocional, a concentração, o apetite, as relações familiares e até a vida amorosa são prejudicados. Já quem honra com os compromissos financeiros é mais feliz, saudável e produtivo no trabalho”, completa o diretor de Negócios Digitais do Negocia Fácil, José Moniz.
Com o nível de
estresse elevado e as contas batendo à porta, o policial Tiago Oliveira chegou
a pensar em pedir afastamento do serviço. As dificuldades incluem as
mensalidades do curso de Direito sempre pagas com atraso e juros embutidos, o
IPVA ainda não quitado e a revisão do carro concluída apenas após um
empréstimo.
“Com tantos
problemas é difícil trabalhar 100% focado. Mas a terapia tem me ajudado”,
afirma ele, que também aposta na proximidade da formatura para finalmente ter
alívio no bolso.
Já a relações
públicas Luciana Alves quase viu o casamento ruir após o marido perder o
emprego, a autoestima e a capacidade de honrar o aluguel e outras despesas.
“Com o que ganho não consigo bancar tudo sozinha. Passo noites em claro, parei
de comer e estou até tomando remédio para diminuir a ansiedade. Mas o mercado
de trabalho está fechado. O jeito é ter paciência e acreditar que juntos vamos
superar essa crise”, diz.
Ostentação e falta de
planejamento atrapalham as finanças
Segundo dados da
Serasa Experian, em maio de 2019, o Brasil registrou um total de 62,8 milhões
de consumidores com nome sujo ou com contas em atraso, o que representa 40% da
população adulta do país. Mas não são só a crise, o desemprego e a corrosão da
renda que afundam o brasileiro no endividamento. Para a professora de Economia
das Faculdades Promove Mafalda Ruivo, a falta de planejamento e de educação
financeira acaba deixando as pessoas com a corda no pescoço.
“O ideal é fugir de
prestações. Se quiser adquirir um bem, tente juntar o máximo de dinheiro
possível para pagar à vista e com desconto. E analise se aquele produto é
realmente necessário e cabe no orçamento. É melhor ficar sem do que perder o
sono lá na frente”, recomenda.
Em caso de demissão
do emprego, a recomendação é cortar ao máximo as despesas e reestruturar os
débitos. “Procure o banco ou o credor para negociar antes que a dívida vire uma
bola de neve”, indica a professora, que alerta ainda para os juros exorbitantes
do cheque especial e do cartão.
As compras por
impulso são outro fator que joga o consumidor no mar de dívidas. “O que ocorre
é um mecanismo de compensação onde se tenta preencher um vazio existencial com
bolsas, sapatos e outros objetos”, explica o psiquiatra e homeopata Aloísio
Andrade.
Redes sociais
Segundo ele, a ostentação também é perceptível nas redes sociais, com fotos de viagens e restaurantes chiques que muitas vezes exigem gastos além do orçamento. “Essas postagens são uma forma de autoafir-mação e busca de status. Mas custam caro para o bolso e trazem desequilíbrio financeiro e consequências para a saúde”, adverte.
Segundo ele, a ostentação também é perceptível nas redes sociais, com fotos de viagens e restaurantes chiques que muitas vezes exigem gastos além do orçamento. “Essas postagens são uma forma de autoafir-mação e busca de status. Mas custam caro para o bolso e trazem desequilíbrio financeiro e consequências para a saúde”, adverte.
Entre os malefícios
do endividamento para o organismo, o psiquiatra cita alterações no humor e no
ritmo cardíaco e até perda da libido. “O dinheiro não garante a felicidade, mas
a falta dele garante a infelicidade. Apesar de não resolver todos os problemas,
o dinheiro é fundamental para manter o equilíbrio básico”, afirma.