segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

ROMPIMENTO DA BARRAGEM DE BRUMADINHO FOI UM CRIME CONTRA A HUMANIDADE


‘É um crime contra a humanidade’, diz coordenador do projeto Manuelzão sobre Brumadinho

Lucas Eduardo Soares - Jornal Hoje em Dia











Sedimentos de minério de ferro, provenientes do rompimento da barragem na Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Grande BH, podem chegar ao rio São Francisco. A constatação é de Marcus Vinicius Polignano, coordenador-geral do Manuelzão, um projeto de extensão da UFMG que luta pela revitalização de cursos d´água. Em entrevista ao Hoje em Dia, o professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal classifica a tragédia como “crime”. Para o docente, o desastre de Mariana, na região Central, em 2015, não deixou lições.
O senhor esteve na semana passada em Brumadinho para tomar conhecimento da dimensão do desastre. O que foi constatado nessa visita?
Primeiramente, fica o sentimento de devastação do ponto de vista ambiental, das comunidades do entorno e do que foi isso em termos de tragédia humana. Podemos qualificar aquela situação como um crime contra a humanidade, diante da dimensão de tudo. Fica o impacto emocional e também técnico sobre o que foi aquele mar de lama. Quanto a responsabilidades, é uma questão histórica. O rompimento foi uma consequência e, para entender as causas, a gente precisar voltar, entender toda a sequência anterior àquela sexta-feira.
Quais características poderiam apontar para um desastre como esse?
Em primeiro lugar, o modelo adotado pela mineração em Minas Gerais ao longo dos últimos anos é arcaico, obsoleto. O próprio modelo foi construído usando essas armadilhas que, sequencialmente, foram caindo ao longo da história. Portanto, era uma situação absolutamente anunciada. Outra questão é a conivência do Estado perante a mineração, pois, ao invés de cumprir o papel de normatizar, regular e procurar diminuir os riscos, é absolutamente submetido à mineração. Em terceiro lugar, a gente já tinha um passado extremamente ruim. Mariana tinha sido, até então, o maior desastre ambiental do mundo. E a gente não mudou uma vírgula depois disso. Os processos continuaram os mesmos. Por último, o que considero ser o fato mais criminoso da história: uma barragem não se rompe do dia para a noite. A menos que houvesse um fenômeno sobrenatural ou muito extraordinário. Ao contrário, não existia nenhuma causa externa ali. A barragem ruiu por dentro, pela estrutura. E era do conhecimento da empresa ter feito um plano de emergência, um mapa de inundação. Eles sabiam que toda a estrutura de pessoal estava logo abaixo e, mesmo assim, não agiram.
Para o senhor, então, não houve lição após o desastre de Mariana?
No sentido de proteger a vida, nenhuma. Podemos afirmar isso, com todos esses fatos. Tomo muito cuidado com as afirmações que faço. Mas temos histórico, fatos e provas disso. Temos informações e dados para confirmar.
Os rejeitos chegaram ao rio Paraopeba. Qual é a situação lá?
Os córregos do Feijão e o Ferro de Carvão (da bacia do Paraopeba) sumiram, soterrados pelo mar de lama. Ou seja, eram cursos d’água, com qualidade muito boa. Aquele cenário foi varrido. No caso do Paraopeba, essa lama está sedimentando. Todo mundo se preocupa em saber para onde ela está indo, mas a nossa preocupação é sobre onde ela vai ficar. Aqueles sedimentos vão destruindo microorganismos, peixes. Era um dos rios mais piscosos (que tem grande variedade de peixes). Não sabemos, ainda, o quanto essa lama está progredindo, mas com certeza será uma situação duradoura, pois a chuva vai removendo parte desse material e o levando por seu curso.
Qual era o nível de qualidade das águas antes da tragédia?
De turbidez baixa. Mas tinha problema de esgoto, o que sempre foi uma briga envolvendo todos os comitês de bacias. Agora, esse problema se agrega ao minério de ferro. É um desastre o somatório total. A bacia já vinha enfrentando problemas, mas a qualidade piorou 200%.
É possível que o Paraopeba volte a ser o que era antes da tragédia?
É prematuro dizer, mas a história do rio e das águas mudou. Temos, agora, um problema para uma centena de anos. Porque não é um processo que vai lá e remove. A extensão é absurda, e a cada chuva realimenta aquele sistema. E, para ter peixe, precisa ter microorganismo.
Em razão disso, é possível que esses sedimentos cheguem ao rio São Francisco?
Com certeza. Algum material vai chegar. Não sei quanto. No entanto, hoje o drama humano é tão grande que está suplantando todos os outros procedimentos. Mas é preciso que a gente entenda que à medida em que vai se identificando, a gente percebe que números são pessoas. E pessoas têm famílias, relações. Agora, estamos deixando que as equipes do setor operacional funcionem.
Os córregos do Feijão e o Ferro de Carvão sumiram, soterrados pelo mar de lama. Aquele cenário foi varrido
Será feito algum mapeamento dos cursos d’água afetados?
Fizemos uma prévia para ter a coleta de informações no dia em que visitamos Brumadinho, e vamos acompanhar os dados que eventualmente serão divulgados pelos órgãos competentes. O Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) está montando um sistema de monitoramento que a gente espera ser totalmente transparente, para termos maiores informações sobre a qualidade de água, e ciência dos processos.
Já é possível adiantar algo sobre as informações coletadas?
Não, até porque o material foi encaminhado para o laboratório, onde será analisado. Isso demanda tempo, mas podemos dizer que alguns cuidados têm que ser tomados. Essa água contaminada pelos rejeitos infiltram e contaminam o lençol freático. E quem tem poços artesianos no entorno do local contaminado definitivamente não deve usar essa água porque provavelmente está contaminada.
Um dos temores é a possibilidade de se afetar o abastecimento na região metropolitana...
Existe um ponto de captação da Copasa no Paraopeba, mas a companhia tem reservatórios grandes fora dessa área. Hoje, o acúmulo nesses outros lugares é muito grande, por isso o abastecimento na Grande BH está garantido, até então. Mas, no Paraopeba, a captação está afetada, pois a água está contaminada.
Como está o rio Doce três anos após o rompimento da barragem em Mariana?
Não quero ser pessimista, mas posso dizer que está do mesmo jeito que foi deixado. Depois de tanto tempo, os sedimentos permanecem no curso. A viscosidade foi comprometida, a biodiversidade também. De zero a 100% do que poderia ter sido feito lá, não chegamos a 10%. Deixamos na mão de quem provocou o dano cuidar do processo de recuperação. Por isso, não existe empenho do setor porque ele tenta amenizar despesa, controlar processos, minimizar custos.
O que os comitês de bacias têm feito para cobrar?
Desde o que aconteceu em Mariana, tomamos posição. Fomos para a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), apoiamos o projeto de iniciativa popular, com 55 mil assinaturas, para mudar as regulamentações e evitar coisas desse tipo. Pedíamos que estruturas como aquelas rompidas não ficassem próximas a aglomerados. Se isso já estivesse vigente, talvez não teria ocorrido agora, de novo. Por isso, é importante lembrar que os políticos da legislação anterior também estão com o pé nessa lama. Agora, o ser humano, o mineiro, e não minério, precisa se indignar. Foi uma negligência, um crime. O Estado precisa ter uma outra conduta e as pessoas precisam acompanhar. A única palavra que consigo utilizar para sintetizar tudo isso é: absurdo. É inacreditável acompanhar aquilo tudo, ver corpos boiando. Absurdo.
Além disso, outra cobrança antiga do Comitê da Bacia do Rio das Velhas é a de que, no rio, seria possível pescar e até nadar. Está sendo possível?
O rio das Velhas sofre com o impacto de mineração, mas há também o problema do esgoto. Até 2009, pouco esgoto era tratado. Mas conseguimos tirar 70% do que era despejado. Dessa maneira, fizemos com que os peixes voltassem àquele curso. Mas, para nadar, é um grande desafio. Temos cobrado da Copasa uma posição, pois é necessário que ela avance nessa questão, com a melhora do tratamento do esgoto. Sozinhos, não damos conta de melhorar um rio. É um desafio. E estamos batalhando nisso.


COLUNA ESPLANADA DO DIA 04/02/2019


Erros & falhas

Coluna Esplanada – Leandro Mazzini










O rompimento da barragem da Vale em Brumadinho foi consequência de erros no monitoramento e falhas na identificação de “ruptura iminente”, aponta Fábio Augusto Reis, professor do Departamento de Geologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e presidente da Federação Brasileira de Geólogos (Febrageo). Segundo Reis, um plano de monitoramento, quando bem feito, consegue identificar o que está acontecendo dentro da barragem: “Uma barragem dá sinais antes de romper. Em geral, os grandes rompimentos são causados por erosão interna”.
Método
O presidente da Federação de Geólogos também afirma que outra discussão suscitada após a tragédia é o método de construção empregado na barragem do Córrego do Feijão, “alteamento a montante, cuja segurança seria controversa pela dificuldade de avaliar a estabilidade da base de cada camada da construção”.
Manifesto
Há dois anos, a Federação Brasileira de Geólogos (Febrageo) repudiou as nomeações políticas para cargos na gestão dos recursos naturais e minerais brasileiros, em especial no Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). “As nomeações mostram o total desprezo de certos setores políticos pela sociedade e para o planejamento técnico de longo prazo”, manifestou à época.
CPI
Deputados e senadores que articulam instalação da CPI para investigar a tragédia de Brumadinho apontam que uma das prioridades da comissão será a revisão das concessões de outorgas para uso de barragens em áreas consideradas de riscos. Deputado Gustavo Fruet (PDT-PR) defende “um novo pacto, um novo padrão, com relação às licenças”.
Inconstitucional
A Medida Provisória (870/2019) que estabeleceu o monitoramento de organizações sociais é inconstitucional, pois viola a norma que veda a interferência estatal no funcionamento dessas instituições. É o que sustenta a procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Deborah Duprat em nota técnica encaminhada ao Congresso Nacional.  

PGR
Duprat também encaminhou representação à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, solicitando que seja analisada a possibilidade de se apresentar ao STF uma ação pedindo a inconstitucionalidade desse trecho da MP que foi editada no dia 1º de janeiro pelo presidente Jair Bolsonaro.
Força-Tarefa
Presidente da Funai, Franklimberg de Freitas, sobrevoou as Terras Indígenas Uru-Eu-Wau-Wau e Karipuna, em Rondônia, para averiguar denúncias de que posseiros e madeireiros estão invadindo a área e ameaçando os indígenas. Uma força-tarefa, que contará com representantes da Funai, Ministério Público, OAB será montada para coibir as invasões na região.
Sisfron
O coronel da reserva do Exército, José Carlos Sappi foi nomeado assessor especial do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Ele atuou na implantação do Sistema Monitoramento de Fronteiras (SisFron), no Gabinete de Segurança Institucional e na assessoria militar da Presidência durante o governo de Dilma.
Aviso
Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária da Rússia (Rosselkhoznadzor) avisou à Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) do Ministério da Agricultura que pode suspender compra de soja do Brasil. “Essa decisão se deve ao alto grau de toxicidade do glifosato [herbicida] para humanos e animais, como atestado por vários estudos científicos", diz o comunicado russo.

Carta
O ex-presidente Lula, preso em Curitiba, escreveu uma carta aos petistas que será lida na festa do aniversário de 39 anos do PT, dia 9 de fevereiro, no Sindicato dos Bancários, em São Paulo. Fernando Haddad, Dilma Rousseff confirmaram presença, além de artistas e intelectuais.

Cooperação
O presidente do Comitê Olímpico do Brasil, Paulo Wanderley, e a Secretária Municipal de Educação do Rio de Janeiro, Talma Romero Suane, assinam na segunda-feira, 4, acordo de cooperação para a promoção dos valores olímpicos - amizade, respeito e excelência - nos projetos da secretaria.
Walmor Parente - interino e subeditor


sábado, 2 de fevereiro de 2019

FRIO INTENSO NOS EUA CAUSA MORTES E PERDE FORÇA


Número de mortos por onda de frio nos EUA chega a 21; fenômeno perde força

Estadão Conteúdo









Nos últimos dias, a temperatura em cidades como Chicago, a terceira maior dos EUA, foi de -30ºC



O número de mortes causadas pelo vórtex polar que tomou conta da região do Meio-Oeste dos Estados Unidos nessa semana chegou a 21 nesta sexta-feira, 1º de fevereiro, com a maior parte das pessoas morrendo de hipotermia e ferimentos causados pelo frio. Os mais afetados foram moradores de rua e idosos.

Nos últimos dias, a temperatura em cidades como Chicago, a terceira maior dos EUA, foi de -30ºC, ultrapassando o recorde de -27ºC registrado em 1985.

Mas meteorologistas afirmam que, do próximo final de semana até a segunda-feira (4), o frio irá amenizar e os termômetros poderão indicar até 10ºC em algumas regiões, enquanto outras poderão ter uma mudança dramática para até 26ºC.

As equipes de resgate já estão se preparando para limpar estradas, incendiar trilhos de metrô e trem para permitir o deslocamento e também descongelar encanamentos que podem romper com eventuais mudanças bruscas na temperatura.

Em Detroit, por exemplo, a madrugada de quarta-feira 30 registrou -25ºC, e a previsão é que chegue a 10ºC na próxima segunda.

VÁRIOS ESTADOS ESTÃO ISENTANDO DE IPVA CARROS A PARTIR DE 10 ANIOS

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