'Indicações
políticas vão sumir', diz governador eleito Romeu Zema
Lucas Simões
Empresário eleito
governador de Minas com 71,80% dos votos válidos, Romeu Zema afirma que vai
eliminar todos os privilégios do Estado e reduzir ao máximo a máquina pública
Eleito governador de
Minas com quase 7 milhões de votos, o empresário Romeu Zema (Novo) anunciou
ontem os primeiros nomes da equipe de transição de governo. Em entrevista ao
Hoje em Dia, o governador também falou da expectativa de reduzir em até 90% os
cargos de recrutamento amplo – o que eliminaria até 3,5 mil dos atuais 3.963
contratados nesse regime. Afirmou ainda que irá abrir um processo para colher
indicações de sindicatos e da sociedade civil para selecionar secretários por
meio de uma empresa de RH, mas adiantou que também terá no alto escalão
técnicos da Fundação João Pinheiro (FJP).
Quantas pessoas vão compor a equipe de transição completa e quais são os
eixos temáticos?
Essa equipe ficou acertada com o atual governo. Ela começa pequena e vai
crescendo à medida em que forem definidos outros nomes. Por enquanto, foram
nomeados Mateus Simões como coordenador, Victor Cezarini na área econômica, a
advogada Luciana Lopes e o empresário Victor Garicho Becho (no fim do dia, o
engenheiro Rodrigo Paiva, candidato do Novo derrotado na disputa para uma vaga
ao Senado, foi anunciado como o quinto nome). Semana que vem não deve estar
pronta ainda, mas na outra (semana) devem ter mais pessoas na equipe.
O senhor definiu que
irá realizar a contratação do secretariado por meio de uma empresa de RH. Mas
mencionou que haveria indicações de sindicatos também, por exemplo. Como vão
funcionar as sugestões de nomes?
A ideia é passar tudo pela empresa. Aquilo que os sindicatos e a sociedade
recomendarem será encaminhado para a empresa de RH. Tendo o aval, é lógico,
dessas entidades, aquela pessoa estaria representando adequadamente (a
população). Queremos ter esse critério técnico para todos. Vai ter esse crivo
de pessoas que entendem de recrutamento de seleção para fazermos as melhores
escolhas.
E o senhor aceitaria indicações políticas de secretários que exercem um bom
trabalho, por exemplo, mesmo se fossem do PT, partido contra o qual o senhor
manifestou forte oposição durante a campanha?
Nós queremos que essas pessoas, da mesma forma, passem por um processo
seletivo. Sabemos de pessoas que estão lá e que têm interesse (em continuar).
Sabemos que algumas secretarias, diferentemente de outras, têm apresentado
resultados melhores. Não posso falar em quais (secretarias e secretários)
agora, porque será avaliado.
Na Assembleia, o senhor contará com uma base com os três deputados do Novo
eleitos, além de um apoio do PV. O senhor chamou algum partido para
conversar? O PT declarou que será oposição. Como avalia que será sua
relação com a legenda?
Ainda não procurei ninguém. Mas está programado na minha agenda conversar com
todos os deputados estaduais e depois com a bancada federal. Sei que oposição
teremos, mas quero deixar claro: sejam oponentes naquilo que diz respeito ao
que julgam certo, e não aos interesses dos mineiros.
Na redução anunciada pelo senhor das atuais 21 secretarias para nove, está
incluso um projeto para unificar as pastas de Meio Ambiente e Agricultura,
assim como propôs em nível federal o presidente eleito Jair Bolsonaro. Parte do
empresariado reclama que essa postura poderia interferir na imagem do país e
afetar negativamente as exportações. O senhor chegou a avaliar as críticas a
essa unificação?
Críticas fazem parte do processo porque cada um tem uma opinião. As críticas,
quando muito acentuadas, devem ser consideradas porque indicam que talvez você
esteja indo no caminho errado. Vamos ponderar isso ao máximo. Se falamos que
eram nove secretarias e se chegarmos amanhã à conclusão, por uma série de
fatores, de que deveriam ser dez, nós não vamos fazer nove simplesmente para
cumprir o planejamento. Agora, faz sentido (a questão do meio ambiente), é a
mesma coisa que tem acontecido no nível federal. Um dos grandes problemas em
Minas é a questão da agilidade das licenças. Nós temos mineradoras aguardando
há mais de dez anos, poderiam ter criado emprego e estar pagando impostos e não
estão devido à um morosidade no processo ambiental. Ela (a secretaria de meio
ambiente) ficando à parte, com acompanhamento mais definido, acaba sendo bom
porque você consegue extrair melhores resultados. Vamos ver. (*)
A Fundação João Pinheiro tem capacitado principalmente jovens no curso de
Especialista em Políticas Públicas de Gestão Governamental (EPPGG). Esses
profissionais, após ficarem quatro anos na capacitação, já saem com vaga
garantida nos quadros do Estado. O senhor pretende manter ou alterar esse
curso?
Eu só tenho elogios
a fazer à Fundação João Pinheiro, que proporcionou a formação de excelentes
técnicos. Te diria até que vários técnicos da Fundação vão compor a nossa
equipe de transição e até mesmo, futuramente, a nossa equipe de governo, pelo
que eu já andei analisando aí, dentro do processo de seleção. Lembrando que, na
seleção, muitas vezes, ao invés de selecionar alguém de fora, vamos usar alguém
de dentro, e vai ter muita gente aí da João Pinheiro. Vou sugerir para colegas
governadores que outros Estados façam uso da instituição também, se ela estiver
superdimensionada para a demanda do Estado. Por que não fazer convênios e
exportar esse know-how que desenvolvemos em Minas?
Os últimos governos ampliaram as contratações, principalmente em cargos de
recrutamento amplo. Hoje, Minas tem cerca de 4 mil contratados nesse regime.
Qual é a estimativa da redução desses cargos no seu governo?
Nós vamos cortar todos os privilégios do Estado, reduzir ao máximo. Dos cargos
de recrutamento amplo, queremos cortar de 80% a 90% e pode ser até mais. Porque
a ideia é a de um processo sem indicação política e que o funcionário de
carreira que já está lá (em uma secretaria) seja o mais cotado para uma vaga
aberta em determinada secretaria. Assim, as indicações políticas vão sumir.
O grosso dos servidores em Minas do Executivo recebe, hoje, salários
aviltantes em relação à iniciativa privada e em relação aos que são pagos nos
poderes Executivo e Judiciário. Há uma expectativa de melhorar o ganho desses
servidores?
A prioridade no momento é voltar a pagar em dia. E, para fazer isso, nossa
perspectiva é que nós levemos dois anos. Depois, eu pretendo (aumentar
salários), ou o meu sucessor, porque isso vai ser mais adiante. Uma professora
ganha muito menos do que deveria ganhar. Alguns cargos, em outras atividades do
governo, ganham muito mais do que deveriam. Então, vejo que é necessária uma
revisão.
Nesse sentido, seria
possível aumentar o salário dos professores em Minas?
Gostaria muito de valorizar as professoras, mas temos que lembrar que hoje
sequer estamos conseguindo pagar em dia. Então, primeiro vamos colocar em dia
e, posteriormente, ver o que é possível fazer. Mas quero valorizar e quero
principalmente valorizar as (professoras) boas, aquelas que estão tendo melhor
desempenho. Quero que ganhem melhor do que aquelas que não estão se destacando
tanto. Talvez por escola, vamos adotar os critérios, de forma que seja
discutido com a categoria. É para beneficiar os que estão indo bem.
O senhor comentou que Gustavo Franco já foi a Brasília falar com técnicos da
União a respeito da dívida pública do governo federal com Minas, que está em R$
6,3 bilhões. A tendência de Minas é adotar um aperto fiscal rígido, incluindo
congelamento de salários, a exemplo do governo federal?
Nós já estamos em
contato com técnicos do governo federal para analisar. Mas não temos nenhum
retorno ou dado concreto. Vamos ter de levantar dados em Minas também. É algo
fundamental para nós começarmos a solucionar o problema financeiro do Estado.
Renegociando a dívida, passamos a ter vantagens extras com relação a pagamento
de juros e prazos para pagar. E isso vai ser fundamental num Estado que está
tão fragilizado. As contrapartidas que o governo federal vai demandar, ainda
não sei. Mas com certeza ele vai demandar algumas medidas de austeridade. E o
que nós vamos fazer é reduzir secretarias, custeio da máquina pública.
Congelamento dos salários seria uma medida também?
Veremos o que eles (governo federal) vão falar, não tenho nada em vista. Tentei
falar (com o presidente Jair Bolsonaro), mas nossos horários não coincidiram
ainda.
Qual será a postura nas estatais mineiras em relação a cabides de empregos e
privatizações?O senhor também se manifestou favorável à privatização do metrô.
Existe a ideia de fazer um lobby junto ao governo federal para essa eventual
mudança?
As estatais de Minas, as joias da coroa, seriam a Cemig e Copasa. Essas
empresas estão muito longe de o valor de mercado delas resolver o problema de
Minas. É como você estar devendo R$ 100 mil e vender um telefone por R$ 1 mil,
o que não vai refrescar nada. Primeiro, queremos que essas empresas passem por
um processo de gestão com menos interferência política, o que acaba
prejudicando muito a gestão e o valor delas. Então, elas podem passar a valer
muito mais dentro de um ano, dois, três, para ser considerada essa questão da
privatização. E a Constituição mineira proíbe, desde a época do Itamar, que
essas empresas sejam privatizadas. Então, caso cheguemos à conclusão de que vai
ser bom para o Estado, teremos que ter a aprovação da Assembleia. Além desses
dois pontos, isso vai ser feito considerando que o consumidor vai ter
benefícios. Privatizar a Cemig para o consumidor pagar mais caro, eu não quero.
Tem que ser no sentido de aumentar a concorrência. Trocar um monopólio estatal
por um privado, não. Eu diria que o déficit é o tumor do Estado hoje a ser
realmente combatido e as estatais são uma verruga. Não é nossa prioridade
privatizar.