Imigrantes de
caravana que segue ao México recebem ajuda até os EUA
Estadão Conteúdo
Milhares de
migrantes hondurenhos que esperam chegar aos Estados Unidos descansavam no
domingo (21) sobre calçadas, bancos e praças públicas encharcadas da chuva
na cidade de Tapachula, no sul do México, desgastados depois de mais um dia de
caminhada sob o sol. Enquanto alguns se amontoavam sob uma cobertura de metal
na praça principal da cidade, outros se deitavam exaustos ao ar livre, tendo
apenas folhas de plástico para se proteger do chão encharcado. Alguns sequer
tinham o plástico.
"Vamos dormir aqui na rua porque não temos mais nada", disse o
hondurenho José Mejía, de 42 anos, pai de quatro filhos. "Temos que dormir
na calçada e amanhã acordar e continuar andando. Vamos pegar um pedaço de
plástico para nos cobrirmos se chover novamente."
Adela Echeverría, 52, mãe solteira de três filhos, chorou quando falou de sua
situação. "Um dos meus colegas foi procurar algum plástico", disse.
"Estamos acostumados a dormir assim, cuidando uns dos outros. Não queremos
nos separar."
O avanço do grupo pelo território mexicano causou fortes críticas do presidente
americano, Donald Trump, que voltou a atacar o Partido Democrata no domingo
(21), pouco mais de duas semanas antes das eleições de meio de mandato no país.
Depois de culpar os democratas por "leis fracas" para imigração
alguns dias antes, Trump se manifestou pelo Twitter. "As Caravanas são uma
desgraça para o partido Democrata. Mudem as leis de imigração AGORA!" Em
outro tuíte, o presidente disse que os migrantes não teriam permissão para
entrar nos Estados Unidos.
O presidente eleito do México, Andrés Manuel López Obrador, sugeriu que EUA,
Canadá e México elaborem um plano conjunto para financiar o desenvolvimento nas
áreas pobres da América Central e do sul do México. "Desta forma,
enfrentamos o fenômeno da migração, porque quem sai de sua cidade não sai por
prazer, mas por necessidade", disse López Obrador, que assume o cargo em
dezembro.
A caravana de imigrantes começou há mais de uma semana com menos de 200
participantes, mas tem atraído mais pessoas ao longo do caminho e, no domingo,
já tinha cerca de 5 mil membros, depois que muitos conseguiram atravessar um
ponto de bloqueio entre Guatemala e México. Ao fim do dia, autoridades
guatemaltecas disseram que outro grupo, de cerca de 1.000 migrantes, havia
entrado no país, vindo de Honduras.
Em entrevistas ao longo da jornada, os imigrantes afirmam que estão fugindo da
violência generalizada, pobreza e corrupção em Honduras. Esta caravana é
diferente das migrações em massa anteriores, tanto por seu volume quanto pela
forma como começou - em grande parte, por meio do boca-a-boca espontâneo.
Ajuda
Os imigrantes têm recebido ajuda de moradores mexicanos nas regiões por onde
passam, que oferecem comida, água e roupas. Além das doações, centenas de
moradores dirigindo caminhonetes, vans e caminhões de carga ajudavam no
trânsito, carregando alguns grupos.
A Defesa Civil do Estado de Chiapas, no sul do México, disse ter se oferecido
para levar os imigrantes de ônibus para um abrigo montado por funcionários de
imigração a cerca de 7 quilômetros de Tapachula, mas os migrantes recusaram,
temendo ser deportados quando embarcassem.
O funcionário da Cruz Vermelha Ulises García disse que alguns imigrantes com
ferimentos decorrentes da longa caminhada se recusaram a ser levados para
clínicas ou hospitais porque não queriam deixar a caravana. "Tivemos
pessoas com lesões no tornozelo ou no ombro, por quedas durante a viagem, mas
eles temem ser detidos e deportados. Eles querem continuar seu caminho."
García disse ter visto casos de pés inchados, lacerados e infeccionados.
"Eles continuarão andando e seus pés não vão melhorar enquanto continuarem
andando", disse.
O mexicano Jesús Valdivia, de Tuxtla Chico, foi um dos muitos que ofereceram
sua picape para carregar de 10 a 20 migrantes por vez. "Você tem que
ajudar o próximo. Hoje é para eles, amanhã para nós", disse, acrescentando
que está recebendo um presente valioso daqueles que ajudou. "Aprendemos a
valorizar o que eles não têm."
Além dos caminhões de carga, veículos menores, como tuc-tucs, carregados de
passageiros, também ajudavam os imigrantes. A hondurenha Brenda Sánchez, que
andava no caminhão de Valdivia com três sobrinhos de 10, 11 e 19 anos,
expressou gratidão a "Deus e os mexicanos que nos ajudaram". Fonte:
Associated Press