Como nasce a dependência emocional
Simone
Demolinari
Essa semana recebi
uma história que, apesar de desconhecer a veracidade, possui um forte conteúdo
psicológico e ilustra, brilhantemente, como ocorre a dependência emocional.
“Em uma de suas
reuniões, Hitler pediu que lhe trouxessem uma galinha. Agarrou-a forte com uma
das mãos enquanto a depenava com a outra. A galinha, desesperada pela dor, quis
fugir mas não pôde. Assim, Hitler tirou todas suas penas, dizendo aos seus colaboradores:
“Agora, observem o
que vai acontecer”.
Hitler soltou a
galinha no chão e afastou-se um pouco dela. Pegou um punhado de grãos de trigo,
começou a caminhar pela sala e a atirar os grãos de trigo ao chão, enquanto
seus colaboradores viam, assombrados, como a galinha, assustada, dolorida e
sangrando, corria atrás de Hitler e tentava agarrar algumas migalhas, dando
voltas pela sala.
A galinha o seguia
fielmente por todos os lados. Então, Hitler olhou para seus ajudantes, que
estavam totalmente surpreendidos, e lhes disse: “Assim, facilmente, se governa
os estúpidos. A galinha me seguiu, apesar da dor que lhe causei. Tirei-lhe as
penas e a dignidade, mas, ainda assim ela me segue em busca de farelos”.
O texto se refere às
questões políticas, porém é igualmente aplicável aos aspectos emocionais.
Costumamos julgar
como bobos, fracos, e “burros”, pessoas que permanecem estagnadas por anos, em
situação de dor emocional. Consideramos que a permanência na condição de
sofrimento é opcional e depende exclusivamente de uma “tomada de decisão”.
Temos que ter cautela ao afirmar isso.
Pensar dessa forma,
reduz um comportamento complexo numa ideia simplória. De fato, tomar a decisão
é o primeiro passo para sair desse cárcere emocional, porem não podemos
desprezar o fator “dependência”.
Sofrer vicia!
Um indivíduo
submetido a maus tratos emocionais por muitos anos, perde a autonomia sobre a
própria vida e entra num paradoxo perturbador de desejo e repulsa:
racionalmente repudia a situação, mas emocionalmente não consegue se
desvencilhar dela. É como um usuário de droga que sabe que sua vida está
descendo ladeira abaixo, mas não consegue abandonar o vício.
Sair dessa prisão,
vai muito além da vontade. É preciso empenho para vencer a luta entre duas
forças poderosas: a razão, que sabe que a mudança é necessária, e a emoção, que
reage contra a decisão como um impulso involuntário.
Alguns conseguem
romper o cativeiro quando a sua vida já está insustentável, mas outros,
incluindo os inteligentes, se mantém na mesma condição da galinha: depenada e
vivendo da migalha do próprio algoz.