'Pink money':
público LGBT tem cada vez mais peso no mercado de consumo
Fábio Corrêa
No bar onde
trabalha, Giselle afirma que os clientes LGBTs não reclamam de pagar R$ 20 por
um drinque; alto poder aquisitivo faz com que esse público gaste mais
O público LGBT
(Lésbicas, Gays, Bissexuais e Trans) tem cada vez mais peso na economia do
país. Movimentado por esse segmento, o chamado “pink money” (ou “dinheiro
rosa”) soma cerca de R$ 420 bilhões por ano somente no Brasil, conforme dados
da associação internacional de empresas, a Out Leadership.
Levantamento do site
Guia Gay coloca a capital mineira como a segunda cidade brasileira com maior
número de estabelecimentos voltados para o atendimento desse público específico
– cerca de 50 –, à frente do Rio de Janeiro e atrás apenas de São Paulo.
Para se ter ideia, a
Parada do Orgulho LGBT realizada em BH no ano passado girou em torno de R$ 4,3
milhões, de acordo com pesquisa da Belotur em parceria com a
UFMG. “Reflete em lotação de hotéis, emprego gerado, restaurante aberto,
corrida de táxi e até em visitas à feira hippie. Quando o turista chega, ele
vai viver a cidade no geral, e quem ganha com isso, além dos empresários, são o
município e o Estado”, diz Welton Trindade, sócio-proprietário da Guiya
Editora, responsável pelo Guia Gay BH, publicação que tem roteiros em mais seis
capitais.
Êxito
Empresário no ramo
hoteleiro, Douglas Drumond apostou no setor e está colhendo bons frutos. Há
quatro anos, trouxe para a capital o 269 Chilli Pepper, empreendimento que
mistura boate com hospedagem de diárias curtas voltado para o público gay.
“Quando inauguramos, batíamos recorde de faturamento a cada mês. Em 2016,
tivemos uma parada de crescimento, que voltou ao normal no ano passado. Janeiro
de 2018 já foi bastante positivo”, diz.
A agência de viagens
Friendly Tour também comemora os ganhos com o atendimento exclusivo para LGBTs.
“O cliente mineiro é de uma classe diferenciada. São universitários, na faixa
etária acima dos 30 anos”, conta o sócio-proprietário Roberto Dunkel. A empresa
trabalha em parceria com navios e festas internacionais.
Dificuldades
Apesar do sucesso,
nem tudo é um mar de rosas. Elismar Marcelino, proprietário da In Par
Cerimonial, criada há um ano na cidade com foco em casamentos homoafetivos,
afirma que ainda existe o preconceito por parte de alguns fornecedores.
Desde a inauguração,
a empresa realizou três uniões de pessoas do mesmo sexo. Já está com mais um
contrato fechado para 2018 e outros dois para o ano que vem, com até 500
convidados.
Porém, há
dificuldades para encontrar fornecedores. “Informo o nosso direcionamento, com
clareza, mas apenas 30% deles respondem”, diz Elismar.
Recentemente, o
tratamento dado ao cerimonial por uma casa de eventos mudou de “cortesia para
grosseria” quando os proprietários descobriram que o casamento era entre
pessoas do mesmo sexo. “Cancelamos e eles perderam R$ 4 mil e outras parcerias
futuras”, lembra o dirigente da In Par.
“Pedi para o funcionário anotar o modelo e o ano dos carros. Descobrimos
que os casais gays têm, em média, os melhores veículos” (Ddouglas
Drumond, dono do Green Park Motel)
Alto poder
aquisitivo leva gays a desembolsar mais
O poder aquisitivo é
uma das explicações para o alto consumo do público gay. Segundo o Censo IBGE
2010, enquanto as famílias brasileiras formadas por pessoas de gêneros
diferentes representam 3,41% da parcela que recebe de cinco a dez salários
mínimos, casais LGBTs chegam a 9,55% desse grupo.
Como a maioria não
tem herdeiro, fica livre de arcar com alimentação e educação. “Não existe esse
planejamento de ‘quando eu morrer vou deixar para os meus filhos’, e a grande
parte quer mais é gastar”, frisa Douglas Drumond, também proprietário do Motel
Green Park.
Foi na hospedagem
que o empresário comprovou o poder de compra LGBT. “Pedi ao funcionário da
portaria para anotar o modelo e o ano dos carros que entravam. Descobrimos que,
em média, os casais gays têm os melhores veículos”, conta.
“A população LGBT
tenta se fazer respeitada e entendida de diversas formas, e uma das grandes
forças que ela tem é a de consumo”, explica Ricardo Gomes, presidente da Câmara
de Comércio e Turismo LGBT do Brasil. Ele lembra a máxima de que o cliente pode
fechar uma empresa ao gastar em outros lugares.
Sem confusão
Produtor da festa
Caramelo Sundae, realizada há oito anos, Eduardo Ponzio crê que o consumidor
homossexual, além de gastar mais, ainda promove ambiente agradável. “Nunca vi
confusão em eventos que abarcam o público. Por isso, heterossexuais acabam
frequentando locais destinados aos LGBTs, onde se sentem mais à vontade”,
afirma.
A bartender Giselle
Salviano, funcionária de uma boate LGBT, também percebe o potencial de compra
dessa parcela da população. “Vendo drinks que geralmente custam mais de R$ 20.
Ninguém reclama do preço. O público é bem fiel, e não para de beber”.
Giselle integra o
segmento e avalia que BH ainda precisa ofertar mais opções de diversão. Assim
como Douglas Drumond, para quem um dos poucos atrativos na cidade é a Parada
Gay. “Mas deveria ser vinculada a um feriado”, diz.