Nova perícia
sobre acidente da Air France acusa tripulação
Agência France
Presse
Na época, parte do leme da aeronave foi recuperada
pela equipe da Marinha do Brasil
Mais de oito anos
após o acidente com o avião da Air France, que caiu enquanto voava entre Rio de
Janeiro e Paris, uma nova perícia judiciária agora acusa a tripulação da
aeronave, gerando indignação nas famílias das vítimas, que temem ver a fabricante
Airbus escapar das ações.
O acidente com o voo
AF447, em 1º de junho de 2009, quando a aeronave ainda sobrevoava o Brasil,
matou os 228 passageiros e tripulantes a bordo. A Air France e a fabricante
europeia do avião, a Airbus, foram acusadas em 2011 de "homicídio culposo"
no contexto da investigação aberta em Paris.
Tendo como pano de
fundo as disputas entre a companhia aérea e a construtora, que tentavam evitar
um processo, o inquérito, encerrado em 2014, deveria ter sido reiniciado após a
anulação da primeira perícia de comprovação. Familiares das vítimas e a Air
France a criticaram junto à corte de apelações, por considerá-la tendenciosa a
favor da fabricante.
Em 20 de dezembro,
novos especialistas enviaram seu relatório provisório a juízes de instrução da
área de acidentes coletivos em Paris.
Em suas conclusões,
às quais a reportagem teve acesso, os especialistas estabelecem como
"causa direta" do acidente a "perda de controle" da
aeronave, que "resultou em ações inadequadas em pilotagem manual" da
tripulação.
"A pilotagem
manual foi imposta pelo desligamento do piloto automático, consecutivo ao
congelamento das sondas" Pitot, acrescentaram. Este congelamento das
sondas é o ponto de partida da catástrofe e um elemento-chave do inquérito
porque teria levado a uma incoerência nas medições de velocidade do Airbus
A330.
Nas "causas
indiretas", eles listam, sobretudo, uma "insuficiência de treinamento
da tripulação na pilotagem de altitude elevada", falta de formação e
ausência inicial do comandante de bordo. Nas conclusões, a única acusação à
Airbus é "a ambiguidade na ordenação do procedimento Stall" (alarme
de queda) na documentação tanto da fabricante, quanto da Air France.
A primeira perícia,
em 2012, já tinha apontado erros da tripulação, problemas técnicos e um déficit
de informação dos pilotos no caso de congelamento das sondas, apesar de
incidentes anteriores.
"Nós nos
sentimos enojados de indignação", reagiu Danièle Lamy, presidente da
associação das vítimas Ajuda mútua e Solidariedade AF447, ouvida pela
reportagem.
"O problema das
sondas Pitot é deixada de lado, temos a impressão de que a Airbus é
intocável", irritou-se a representante de cerca de 360 familiares e amigos
das vítimas francesas, brasileiras e alemãs. "Sempre é culpa dos pilotos,
que não estão aqui para se defender", acrescentou.