Rodrigo Maia
diz que Meirelles deveria apresentar agenda pós-Previdência
Estadão Conteúdo
A respeito da
votação da reforma na Câmara, marcada para a semana do dia 19 de fevereiro
O presidente da
Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acredita que o ministro da Fazenda e possível
candidato à Presidência da República, Henrique Meirelles (PSD), deveria
apresentar à sociedade uma agenda que avance além da reforma da Previdência.
"Na minha opinião, a agenda do ministro Meirelles, e não estou aqui
querendo criticar... Ela comete (um erro), do meu ponto de vista, e já disse
(isso) a alguns assessores dele. Ela vai só na primeira parte do processo. A
sociedade quer saber como você faz a segunda", disse o deputado, em
entrevista ao programa Canal Livre, da TV Bandeirantes, exibida no início da
madrugada desta segunda-feira, 8. "Todos nós que temos essa agenda (da
reforma) como prioritária, temos que falar da segunda parte da agenda. Senão
fica muito árida. Fica só a parte que, em tese, vai tirar alguma coisa de
alguém. Que não é verdade, mas é o que se vende aí, pelos campos da
esquerda."
Ao responder uma questão sobre a convergência de pensamento de pré-candidatos
que se colocam como alternativas de centro nas eleições deste ano - caso de
Meirelles e do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) -, Maia
demonstrou distanciamento do ministro da Fazenda. "Discordo frontalmente
de que a minha agenda necessariamente é 100% igual ao que pensa o
Meirelles", afirmou, para então dizer que o possível candidato do PSD à
Presidência deveria apresentar à sociedade um discurso que justifique a reforma
da Previdência e que mostre o impacto que ela terá na vida das pessoas.
"Por que vai fazer a reforma da Previdência? Ela existe porque na hora que
tem uma rebelião em Goiás (como ocorreu no início deste ano), os governadores fazem
uma carta e todos os pedidos deles têm relação com dinheiro. Porque está
faltando recurso para a segurança. A gente quer a reforma da Previdência para
reduzir o gasto aqui para sobrar recurso e cuidar da segurança", afirmou o
parlamentar.
A respeito da votação da reforma na Câmara, marcada para a semana do dia 19 de
fevereiro, Maia manteve o discurso otimista. "Dia 19 vamos ter voto",
afirmou. "O deputado é pragmático. É um tema polêmico, mas
fundamental." O parlamentar afirmou que o governo, "em um primeiro
momento", falhou na comunicação das mudanças na Previdência. Agora, no
entanto, ele acredita que o "que está colocado para a população é
facilmente explicável para a sociedade". Maia contou um episódio recente
em que teria saído aplaudido após fazer um discurso em defesa da reforma em um
"bairro simples" (sem identificar a cidade).
O presidente da Câmara voltou a lamentar que a reforma não tenha sido aprovada
no ano passado, por causa das denúncias da Procuradoria-Geral da República
contra o presidente Michel Temer. "Em março ia votar. A gente estaria hoje
com previsão de crescimento de 4% a 4,5% da economia. Ia ter que estar
controlando o consumo de energia por causa disso."
Presidenciável. Maia participou do programa Canal Livre no âmbito
de uma série de entrevistas dedicada aos possíveis candidatos à Presidência.
Apesar disso, disse que, no momento, a chance de ser o escolhido do DEM é
"zero", embora reconheça que seu nome esteja "colocado no
debate". "O DEM vai ter um candidato nessa bancada aqui (durante as
eleições), o candidato do DEM, não estou dizendo que sou eu." Ele citou
como outros possíveis nomes do partido o ministro da Educação, Mendonça Filho
(PE), e o prefeito de Salvador, ACM Neto. A última vez que o DEM encabeçou uma
chapa presidencial foi em 1989, com Aureliano Chaves (o partido ainda se
chamava PFL).
Maia disse que, acima da discussão sobre candidaturas ou sobre a eventual união
de partidos de centro-direita, é preciso que seja definido um projeto "que
saia do populismo, da demagogia". "Quero fazer parte de um projeto
que seja muito transparente com a sociedade, que fale pra sociedade de forma
clara: 'tem aqui um volume de despesas que é incompatível com a realidade do
Brasil'." Não é possível, no entanto, "misturar o governo com a
construção de um projeto", disse Maia. "O governo é beneficiário
desse candidato (que defenderia a agenda reformista e de corte de gastos). A
agenda que o governo colocou na pauta é uma agenda que é convergente com a
desse candidato. Agora se você começar a estar preocupado com candidato que é
pra defender governo, não vai sair do lugar. Você vai perder a oportunidade de
atrair outros polos da sociedade em um primeiro momento."
O presidente da Câmara acredita ser possível participar da eleição com o
discurso da austeridade. "Se for pra ganhar mentindo, é melhor perder
falando a verdade." Em tom de brincadeira, Maia afirmou que o centro está
congestionado (por causa do grande número de pré-candidatos), mas ao mesmo
tempo vazio (pois não há um pré-candidato dessa linha que apareça bem nas
pesquisas). "Tem que ver como se constrói um cento com votos." Maia
declarou "apostar tudo" na ideia de que a aprovação da reforma da
Previdência irá gerar efeitos econômicos positivos ainda em período eleitoral,
o que tem o potencial de beneficiar eleitoralmente seus defensores. "Se (a
reforma) não for aprovada, o cenário econômico será pior para a eleição e ruim
para quem está na base do governo, mas o debate da reforma do estado está
colocado", disse.
Lula. Sobre o líder das pesquisas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, Maia disse preferir que ele seja vencido nas urnas. "Queria
disputar com o Lula. Ele sairá derrotado da eleição. Vamos acabar com o mito."
Segundo o presidente da Câmara, a campanha servirá para mostrar que o petista é
o "culpado" pela crise. "Lula está bem nas pesquisas porque o
governo do presidente Michel está injustamente muito mal avaliado", disse.
"O candidato que for para o debate, colocar o dedo na ferida, tem espaço
para que ele (Lula) não tenha os 30% (de intenção de voto) que tem hoje."
Maia disse não crer em "convulsão social" caso a condenação de Lula
seja confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, no
dia 24.
Regra de ouro. O presidente da Câmara afirmou que a flexibilização
da chamada "regra de ouro", que impede o governo de emitir dívida em
volume superior a investimentos, é necessária para 2019. Segundo ele, com o
atual crescimento das despesas, "a regra de ouro fica impossível de ser
atingida" no próximo ano. Maia disse que a discussão sobre a medida é a
"prova" da necessidade de aprovar a reforma da Previdência.
O parlamentar aproveitou a discussão sobre o tema para alfinetar o presidente
do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Paulo Rabello
de Castro. O deputado lembrou que o cumprimento da regra para este ano pode ser
assegurado com a devolução de R$ 180 bilhões pelo banco ao Tesouro Nacional.
Rabello, no entanto, já mostrou resistência em devolver os recursos. "Ele
deve ter sido nomeado pelo presidente (dos Estados Unidos, Donald) Trump e aí
não quer devolver", comentou Maia.