Britânicos
elegem governo em clima de ameaça terrorista
AFP
Eleitores chegam a
local de votação na cidade de Glasgow
Os britânicos
começaram a ir às urnas nesta quinta-feira para eleições legislativas cruciais,
tendo em vista as negociações do Brexit em um ambiente de ameaça
terrorista. Apesar de ainda serem apontados como favoritos pelas
pesquisas, os conservadores da primeira-ministra Theresa May perderam a grande
vantagem que tinham, de mais de 20 pontos, frente aos trabalhistas de Jeremy
Corbyn.
Em Londres,
Birmingham, Manchester, Liverpool ou Glasgow, as assembleias de voto abriram às
07h00 (03h00 de Brasília) e fecharão às 22h00 (18h00 de Brasília) em um país
abalado por três ataques reivindicados pelo grupo Estado Islâmico (EI) que
fizeram 35 mortos em menos de três meses.
Medidas especiais de
segurança foram implementadas em Londres para permitir a rápida resposta das
forças policiais, indicaram as autoridades, cinco dias após um ataque que
resultou em 8 mortes na capital.
May e Corbyn votaram
no meio da manhã. Ela na localidade de Sonning, a oeste de Londres, e ele em
uma escola do bairro londrino de Islington. O Brexit e a segurança serão
duas das principais questões a serem levadas em conta no momento da votação.
"Fiz a minha
escolha com base nestas duas questões: ter um bom acordo sobre o Brexit e a
segurança", declarou à AFP Angus Ditmas, de 25 anos, em um bairro do norte
de Londres.
No mesmo local,
Simon Bolton, de 41 anos, afirmou que deseja votar num "líder forte,
alguém que transmita segurança, que poderá obter o melhor acordo possível para
o Brexit".
Perto de Oxford
(centro), uma assembleia de voto foi instalada em uma lavanderia. Em Brighton
(sul), um local de votação foi instalado em um moinho de vento do século
19. Será preciso esperar o fechamento das urnas para a publicação das
primeiras pesquisas de boca de urna e sondagens. O resultado final é esperado
para a madrugada de sexta-feira.
A votação, à qual
mais de 47 milhões de britânicos são chamados a participar, foi convocada três
anos antes do fim da legislatura por Theresa May, que espera obter uma maioria
qualificada para negociar o Brexit com os 27.
A última pesquisa do
instituto You Gov para o Times, de 5 a 7 de junho com 2.130 pessoas, apontava
os conservadores com 42% dos votos contra 35% para os trabalhistas.
O impacto dos
atentados sobre a votação é difícil de avaliar. Se os conservadores são, de
acordo com analistas, considerados "mais fortes" em questões de
segurança, passaram a ser criticados por não impedirem tais ataques e por
suprimirem 20.000 postos policiais desde 2010.
'Mandato claro'
As apostas vão muito
além das fronteiras do país, enquanto a União Europeia deseja começar o mais
rápido possível as negociações sobre o Brexit.
Theresa May quer
fortalecer sua estreita maioria de 17 assentos que dispõe no Parlamento para
evitar qualquer rebelião em seu acampamento ao negociar o seu projeto
"duro" de Brexit.
"Me dê seu
apoio para liderar o Reino Unido, me dê a autoridade e um mandato claro para
falar em nome do Reino Unido, me fortaleça para lutar pelo Reino Unido",
pediu na terça-feira May em Stoke-on-Trent, a cidade com maior índice de apoio
ao Brexit no referendo de junho de 2016.
Jeremy Corbyn, de 68
anos, um veterano da ala esquerda do Labour, não questiona "a realidade do
Brexit". Mas ele quer adotar um tom mais conciliador com Bruxelas e manter
o acesso ao mercado único europeu.
Se o Brexit é a
razão desta eleição, ele esteve, paradoxalmente, quase ausente do debate. May e
Corbyn nunca desenvolveram suas visões de um futuro pós-Brexit. "Não
sabemos realmente o que vão fazer sobre o Brexit", lamentou Joe Kerney, de
53 anos, estimando que "não houve realmente uma campanha eleitoral".
Apenas os centristas
do partido Liberal-democrata e os nacionalistas escoceses do SNP colocaram a
questão europeia no centro de sua campanha. Mas pesam pouco, enquanto o SNP é
um partido regional cujo objetivo principal é a independência da Escócia.
'Fraca e tremulante'
No plano nacional, a
campanha - nervosa, curta e abalada pelos ataques - foi disputada
principalmente sobre temas internos, tais como a defesa do sistema público de
saúde NHS, que favorecem tradicionalmente os trabalhistas.
Já Theresa May
precisou se esforçar para inspirar seus partidários. Filha de pastor, de
60 anos, que se recusou a participar de debates televisivos cara-a-cara, viu
sua vantagem começar a desabar quando anunciou planos para mudar as modalidades
da proteção social dos idosos, antes de voltar atrás.
Enquanto o lema de
sua campanha era por uma "liderança forte e estável", foi acusada de
ser "fraca e tremulante". Tim Bale, professor da universidade
Queen Mary de Londres, continua, no entanto, a apostar "em uma vitória
confortável para os Tories". Graças especialmente à contribuição de vozes
do partido anti-europeu Ukip, que tem se deteriorado desde a retirada de seu
ex-líder Nigel Farage.