Ciúme: eu que sinto ou o outro que estimula?
Simone Demolinari
Um dos grandes
vilões do relacionamento amoroso é o ciúme – um sentimento intenso de raiva ou
infelicidade frente ao medo de perder a pessoa amada. A manifestação do ciúme
pode vir de diversas formas, desde atrito até silêncio, mas todas elas
triplamente maléficas: para quem sente, para o par afetivo e para relação.
Há quem diga que
ciúme na “medida certa” é bom para o casal. Mas isso não é verdade. Ciúme é
sentimento de insegurança, e sentir-se inseguro não é agradável em nenhuma
medida.
Isso não significa
que num relacionamento onde os parceiros se sintam seguros não possa surgir uma
situação de insegurança, porém, quando ocorre, ela vem de forma branda sem
chegar ao conflito. Há uma aura de paciência, respeito e preocupação em não
causar mau estar no(a) parceiro(a) sem que isso signifique ter que “pisar em
ovos”. Relações equilibradas são assim.
Por outro lado,
quando o relacionamento é doentio, o ciúme assume o papel de destaque. O
sentimento de posse e as cobranças estão sempre presentes. Aquele que sente
inseguro torna-se excessivamente desconfiado e hiper vigilante apresentando
repetidas suspeitas relativas à fidelidade do par conjugal. Não tem paz e não
deixam o outro em paz. Possui grande capacidade imaginativa e com isso fica
sempre pensando que está sendo enganado. A cabeça não para. Destinam a maior
parte do tempo à investigação – mental, virtual ou presencial. Apesar de ser um
sofredor, quem sente esse ciúme doentio acaba se tornando uma pessoa difícil de
lidar, pois não relaxa o suficiente para ser boa companhia. Costuma se afastar
de amigos, família, pois sua vida é se dedicar a essa causa.
É importante dividir
as pessoas que sentem ciúme exagerado em dois grupos: os sem razão (os
manipuladores) e os com razão (os adoecidos).
O primeiro grupo
mantém o ciúme como forma de manipulação. Convivem com parceiros fieis e
confiáveis, porém, pela sua forma doentia de amar, acabam mantendo desconfianças
infundadas, levando seu par a desgastes desnecessários. Implicam com roupas,
horários, amizades. Mesmo o par conjugal tendo um histórico de postura ilibada,
culpa-o pelo mal estar que sente (a culpa sempre é do outro). Pessoas que agem
assim, geralmente alegam “amor demais” ou “medo de perder”, mas seu
comportamento revela mais uma natureza perversa e manipuladora, do que amável
ou medrosa.
Já o segundo grupo,
os adoecidos, são pessoas que convivem com par amoroso pouco confiável,
mentiroso, e muitas vezes infiel. O diálogo é nebuloso e contraditório, não
transmite verdade. A insegurança destes ciumentos nasce da atitudes suspeitas
do(a) parceiro(a) que fica numa cruzada – não tem coragem para se separar, mas
também não tem segurança para não desconfiar. Um mal estar permanente que
costuma durar anos, ou até uma vida.
Tendo em vista que
amar implica em se entregar, não deixa de ser uma irresponsabilidade quando um
par afetivo estimula a insegurança no outro. Porém, irresponsabilidade maior, e
consigo mesmo, é se entregar a alguém que não transmite confiança.