As lições da hora presente
Manoel Hygino
Parece assim nos
cassinos: o jogo está feito. Acontece agora o desenrolar das medidas judiciais
da Operação Lava Jato, de que o capítulo Odebrecht é o mais grave e calamitoso,
se me permitem o adjetivo. Evidentemente, os seguintes serão fundamentais ao
desenlace de um drama que se abateu sobre o Brasil e alcançou dimensões
internacionais.
Os veículos
eletrônicos de comunicação, que exploram o tema à suficiência, mesmo à
exaustão, se incumbirão de divulgar o que virá pela frente, antecipando as
minúcias que os jornais publicarão. Não há como fugir às normas, mesmo com as
sôfregas tentativas da defesa dos indiciados nos delitos.
Em verdade, os
acusados insistirão na tese de que nada fizeram de errado, de que as informações
e delações são falsas, de que há uma imensurável rede de mentiras para
incriminá-los. Faz parte. Enquanto isso, advogados prestigiosos e bem pagos
procurarão honrar o compromisso de defendê-los até o último argumento. Também
faz parte.
Ao redator e ao respeitável
e desrespeitado público – composto pelos cidadãos deste país – cumpre
simplesmente acompanhar o andor, de barro e frágil. O ministro Edson Fachin, do
Supremo Tribunal Federal, ao aprovar 76 inquéritos para investigar políticos e
autoridades com base nas delações de ex-executivos da Odebrecht, abriu o jogo,
para ser disputado nas sisudas câmaras da Justiça.
É algo que vai
demorar, sendo oportuno lembrar que, até aqui, foram apenas de setenta
inquéritos e mais meia dúzia. Falta muito mais e a nação poderá estarrecer-se,
mais uma vez, do que com ela fizeram e do muito mais que pode vir à frente para
comprometê-la e degradá-la.
O Brasil não parou,
nem vai parar, e não simplesmente porque o presidente Temer o quer. Uma nação
como a nossa não se desmonta pela ação delituosa de centenas de pessoas,
numerosas já denunciadas, e outras das vindouras listas.
Estamos apenas no
começo de um grande esforço para lançar luzes sobre uma fase muito obscura na
existência deste país, que quer e precisa conhecer melhor quem está na
liderança de seus desígnios, pessoas, grupos. Partidos?
Ruy já dizia que “os
fatos de grandeza histórica, que enchem uma época, e imprimem expressão típica
a um tempo, não pertencem ao cabedal doméstico dos partidos, que à sombra deles
se formam, e lhes encarnam as ideias”.
Vivemos um período
dolorosamente dramático e não podemos perder o ensejo de extrair lições para o
futuro. Este o momento da decisão sobre quantos estigmatizaram a honra
nacional. Deveriam sabê-lo antes de perpetrarem o que perpetraram.
Em todo lugar e tempo,
há maus e malévolos, porque em toda parte existem as sementes da maldade, que
precisam ser eliminadas antes que germinem ou que sejam afastadas de vez quando
identificadas.
Temos, novamente, de
citar o grande jurista: “As catástrofes mais atrozes, mais sinistras, mais
desesperadas são as que entorpecem o caráter das nações e, depois de as
difundir no coma da indiferença, as sepultam no sono do aniquilamento”. Ao coma
da indiferença, acrescentaria eu, o da impunidade.