Mais de 22 mil
professores ameaçados por estudantes, revela pesquisa
Agência Brasil
Mais de 22,6 mil
professores foram ameaçados por estudantes e mais de 4,7 mil sofreram atentados
à vida nas escolas em que lecionam. Os dados são do questionário da Prova
Brasil 2015, aplicado a diretores, alunos e professores 5º e do 9º ano do
ensino fundamental de todo o país. As informações foram organizadas e
divulgados nesta segunda-feira (20) na plataforma QEdu www.qedu.org.br
As respostas aos
questionários mostram que há um cenário de violência nas escolas. As agressões
não ocorrem apenas com professores e funcionários, mas também entre estudantes.
A maioria dos professores (71%), o que equivale a 183,9 mil, disse ter ocorrido
agressão física ou verbal de alunos a outros estudantes da escola.
Mais de 2,3 mil
professores afirmaram que estudantes frequentaram as aulas com armas de fogo e
mais de 12 mil disseram que havia alunos com armas brancas, como facas e
canivetes. Muitas vezes, havia nas aulas estudantes que tinham bebido, segundo
13 mil professores, ou usado drogas, de acordo com 29,7 mil.
Segundo o
pesquisador da Fundação Lemann, Ernesto Faria, muitos desses conflitos vêm de
fora da escola. "O desafio não é tão simples porque a violência, muitas
vezes, não está ligada à escola, mas a problemas locais na região. É importante
não pensar a escola como uma caixinha sozinha. A escola vai ter que envolver a
comunidade e pensar que tipo de parceria deve haver", diz.
Ao todo, 262,4 mil
professores responderam aos questionários. Embora, percentualmente, os índices
de violência não sejam tão altos, quando olhados em números, segundo o
pesquisador, são preocupantes. "Temos que olhar o quanto o ambiente
escolar é agradável, a relação de professores e alunos. Temos que pensar em
gestão em sala de aula, disciplina, o trabalho com habilidades socioemocionais",
diz.
Organização deu
certo
A Escola Municipal
Armando Ziller fica na periferia de Belo Horizonte, numa região com alto índice
de violência. O estabelecimento, no entanto, é conhecido na vizinhança por
exigir o rígido cumprimento de horários e por não liberar os alunos por falta
de professores. Foi uma das escolas destacadas pela pesquisa Excelência com
Equidade, que identificou escolas públicas que atendem a alunos de baixa renda
familiar e que conseguem alcançar bons índices educacionais.
Excelência com
equidade
"A escola é
muito tranqüila, considerando a localização, a situação local é de conflitos no
entorno entre gangues rivais. A comunidade tem essa escola como referência. Por
maiores que sejam os problemas, aqui dentro parece outra realidade", diz o
diretor Hamilton Gomes Pereira. Segundo ele, quando é identificada uma situação
de violência, os responsáveis pelos estudantes são imediatamente convocados.
Eles não são
chamados apenas em situações críticas. A escola busca envolvê-los, ainda que
com dificuldade, no aprendizado dos estudantes. Logo no início do ano, os
professores se apresentam e mostram o planejamento de cada uma das disciplinas.
Ao longo do ano
letivo, os estudantes avaliam a escola e o ensino e fazem uma autoavaliação.
Isso é apresentado aos responsáveis, que também podem contribuir. Os
professores também anotam o que ocorre em sala de aula e repassam as
informações. Eles também são informados se alunos faltam às aulas.
Outra estratégia
adotada envolve a organização e a limpeza do espaço. "O aspecto físico da
escola conta muito. Uma escola suja, pichada, contribui para a indisciplina. Os
estudantes sabem que, quando eles sentam em uma carteira, ela é de
responsabilidade deles. Se há alguma pichação ou algo anormal, o estudante
específico é procurado. Quando não conseguimos identificar a autoria, tiramos
foto, mas rapidamente fazemos a limpeza". Os alunos também não ficam sem
aula. Caso haja faltas, rapidamente há uma substituição, algumas vezes até
mesmo pela direção.