segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

DECADÊNCIA DO OCIDENTE - NEM TANTO



Decadência do Ocidente

Frei Betto







Chegou a vez de o Oriente merecer o lugar de destaque antes ocupado pelo Ocidente. A liderança mundial dos EUA vem sendo minada pela ascensão econômica da China, da Rússia e da Índia. E, como sabemos, o sonho europeu se desvanece desde a crise financeira de 2008.
Finda a Guerra Fria, em 1989, os EUA se apoderaram da hegemonia global, com supremacia econômica, bélica, tecnológica e ideológica. Hoje, entretanto, o mundo é multipolar. O peso dos países ocidentais na economia do planeta é de 56%. E, pelo andar da carruagem, em 2030 será de apenas 25%. Em menos de 15 anos, o Ocidente perderá mais da metade de sua hegemonia econômica.
Isso poderá resultar em mais paz para a humanidade, já que os EUA não terão fôlego para se arrogar em polícia do mundo. Em sua campanha eleitoral, Trump prometeu fazer soar o toque de recolher e trazer de volta aos quartéis de seu país as tropas espalhadas mundo afora.
As nações ocidentais cometem erros no combate ao terrorismo. Querem erradicá-lo adotando o mesmo método: a força bruta. Fracassaram no Iraque (2003), na Líbia (2011), no Afeganistão (2012) e, agora, na Síria, onde se unem à Arábia Saudita, Turquia e Qatar para apoiar os terroristas sunitas no intuito de derrubar Bachar El Asad, apoiado pela Rússia e o Irã.
A China, para se afirmar como potência mundial, cedo ou tarde terá que encarar sua mais forte contradição, a de um Estado comunista autoritário que administra uma implacável economia capitalista. Terá que decidir entre a crescente acumulação do lucro obtido com a sua mão de obra barata, o que dilata a desigualdade social, ou enfrentar essa disparidade, investir em projetos sociais e reduzir seu crescente processo acumulativo.
Desde o fim da Segunda Grande Guerra, os EUA saíram vitoriosos apenas na Guerra Fria, com a derrubada da União Soviética. Fracassaram no Vietnã (1975), em Cuba (1961), na Nicarágua sandinista (1979), no Afeganistão, no Iraque e na Somália (1994). Como no conflito bíblico entre Davi e Golias, nem sempre o mais forte ganha.
As nações ocidentais ainda ressentem a crise financeira de 2008. A democracia perde credibilidade. A política da antipolítica ganha adeptos e espaços. A unidade europeia é ameaçada pelo “Brexit” e ocorre a ascensão da direita e da xenofobia nas disputas eleitorais. Valores e instituições entram em crise e geram medo, ressentimento e ódio.
Enquanto Trump vence a eleição graças ao discurso anti-Wall Street e anti-mídia, o “não” ao tratado de paz, entre guerrilha e governo, ganha na Colômbia, e golpes de Estado derrubam presidentes legítima e democraticamente eleitos em Honduras, Paraguai e Brasil.
O velho retorna com cara nova. A falta de esperança no horizonte suscita o desespero. Apenas o papa Francisco aponta luz no fim do túnel. Mas há que percorrer o túnel.

domingo, 5 de fevereiro de 2017

TRUMP PODE FAZER OS EUA FICAR ISOLADO DO RESTO DO MUNDO



Trump preocupa à medida em que retórica se torna política, afirma Europa

Estadão Conteúdo 





Líderes da União Europeia reiteraram o compromisso de se manterem unidos frente às fortes críticas dirigidas ao bloco pelo presidente dos Estados Unidos, que ameaça minar a forte relação entre as nações dos dois lados do Atlântico Norte.

Esta semana, o presidente do Conselho da União Europeia (UE), Donald Tusk, já havia colocado Estados Unidos de Trump na categoria de "ameaça", insistindo que o presidente americano, Donald Trump, está contribuindo para a perspectiva "altamente imprevisível" para o bloco.

"Talvez a melhor evidência de que estamos neste contexto é o fato de alguns colegas meus colocarem um apelido em mim, de forma espontânea. Eles me chamam de "nosso Donald", afirmou Tusk nesta sexta-feira, sublinhando as novas divisões na aliança de mais de um século entre europeus e norte-americanos.

O presidente da França, François Hollande, afirmou ser inaceitável que Trump possa colocar pressão sobre a UE através de seus comentários. Já o líder da Lituânia, presidente Dalia Grybauskaite, notou que era quase impossível construir uma ponte com Trumpo porque "estamos comunicando com os EUA principalmente através do Twitter."


Mesmo antes da eleição, Trump tem questionado a Aliança do Tratado do Atlântico Norte (Otan), afirmando que ela é "obsoleta". Seu governo tem sinalizado que o acordo de livre comércio entre a UE e os EUA está ameaçado.

Além disso, Trump insultou os líderes europeus ao chamar a decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia de "um tremendo ativo, e não um tremendo passivo".

Para a França e a Alemanha, existe apenas uma única solução ao se confrontar com um parceiro tão imprevisível.

"Muitos países precisam entender que seu futuro está primeiramente na União Europeia, e não em um acordo bilateral com os Estados Unidos", disse Hollande.

Angela Merkel, chanceler da Alemanha, afirmou que "quanto mais claros fomos em relação ao nosso papel no mundo, melhor poderemos entender nossa relação com o outro lado do Atlântico".

Fonte: Associated Press.

CONFISCO DE IMÓVEIS POR INADIMPLÊNCIA



Bancos retomam número recorde de casas e apartamentos de inadimplentes

Tatiana Lagôa 




O microempresário Joelson Fonseca sentiu o baque da crise e está prestes a perder a casa que comprou em Ribeirão das Neves


Depois do boom imobiliário, ficaram as dívidas. E com a crise, veio o desemprego e a inadimplência. O resultado dessa conjunção é que milhares de imóveis estão sendo retomados pelos bancos. Apenas a Caixa Econômica Federal (CEF) confiscou no ano passado 15.881 propriedades, número recorde que supera em 80% os 8.775 de 2015.
Segundo a Caixa, em Minas Gerais, cerca de 1,5 mil casas e apartamentos foram retomados em 2016 por causa da inadimplência. No ano anterior foram 877. Ou seja, o número de mutuários que perderam o teto também quase dobrou.
Dados do Banco Central (BC) mostram que o estoque dos bancos, chamados de bens imóveis de uso próprio, que engloba os imóveis retomados, aumentou 50% no país, passando de R$ 6,5 bilhões para R$ 9,8 bilhões, entre novembro de 2015 e o mesmo mês de 2016. A instituição não divulga dados específicos sobre o mercado mineiro.
Atraso
A retomada acontece porque os contratos de financiamento prevêem como garantia o próprio imóvel. E a Lei de Alienação Fiduciária, de 1997, dá aos bancos o direito de posse sobre a casa ou apartamento em caso de mais de três meses de atraso das prestações.
Apesar dos números expressivos, a Caixa ressalta que executar a garantia não é objetivo do banco. “As medidas legais de retomada do bem, previstas em contrato, apenas são adotadas após o esgotamento da negociação entre banco e cliente”, diz em nota.
A crise é um dos fatores que explicam o fenômeno, segundo o presidente da Associação de Mutuários e Moradores de Minas Gerais, Silvio Saldanha. “Os brasileiros estão sofrendo com queda da renda e o desemprego. A dificuldade para pagar as prestações nesse contexto já era esperada”, afirma.
Mas a explicação vai além. Segundo Saldanha, em anos recentes houve grande estímulo para a aquisição da casa própria, com facilitação do acesso ao financiamento. “Como sempre tem o jeitinho brasileiro, as pessoas declaravam uma renda familiar maior que a real para conseguir um imóvel mais caro. O problema é que isso aumentou muito o risco da inadimplência”, afirma.
Leilão
Independentemente da justificativa, uma vez passados os três meses de inadimplência, os bancos já podem executar a garantia e levar os imóveis a leilão. É o que está acontecendo com o microempresário Joelson Leite Fonseca, que financiou uma casa em Ribeirão das Neves.
Com os negócios de manutenção de equipamentos afetados pela crise econômica, ele não deu conta de pagar o financiamento que tinha com um banco privado. E agora está com o imóvel sendo leiloado. “Moro com minha esposa e minha filha de 18 anos. Não saí porque ainda tenho esperanças de negociar e manter a posse da casa”, afirma.
Por outro lado, o fenômeno aquece o mercado de leilões belo-horizontino. Segundo o leiloeiro oficial da GP leilões, Gustavo Costa Aguiar Oliveira, o número de imóveis leiloados por ele cresceu 36% no ano passado frente a 2015, fechando em 700. É o maior número leiloado pela GP desde o início das operações, em 2002.
Mas, também em função da crise, a quantidade de imóveis vendidos nos leilões não seguiu a mesma tendência da oferta. “Aumentaram os leilões, mas o número de vendas fechadas foi mantido”, afirma.
Caixa fecha parceria com corretores para vender estoques não arrematados
O número de imóveis retomados por inadimplência é tão grande que a Caixa Econômica Federal fechou um acordo um corretores de imóveis para vender parte do estoque. A princípio serão colocados à venda 24 mil casas e apartamentos em todo o Brasil.
A parceria foi fechada entre o banco e o Conselho Federal de Corretores Imobiliários (Cofeci) em um primeiro momento. Mas os Conselhos Regionais de Corretores de Imóveis (Creci) de cada estado entraram no processo e iniciaram a preparação dos corretores. Só poderão vender esses imóveis profissionais cadastrados pelas instituições.
Segundo o vice-presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis de Minas Gerais (Creci-MG), Vinicius Araújo, serão colocados à venda imóveis já leiloados duas vezes e não arrematados. “A Caixa tem 40 mil imóveis disponíveis para a venda, mas a parceria vai incluir só os 24 mil inicialmente”, afirma.
Araújo explica que ainda estão sendo definidos os próximos passos da parceria. Procurada, a Caixa não detalhou o acordo.
O fato é que a medida foi tomada em uma fase em que os leilões não estão trazendo tantos resultados mais. Segundo o leiloeiro oficial da GP leilões, que é também diretor do Sindicato dos Leiloeiros de Minas Gerais (Sindilei-MG), Gustavo Costa Aguiar Oliveira, a maior dificuldade é que os preços não estão atraentes.
O que ocorre é que no segundo leilão os imóveis são vendidos pelo valor da dívida. Como muitos estão perdendo os apartamentos no início do financiamento, os lances iniciais nos leilões são muito próximos dos valores de mercado.
E os imóveis leiloados, na maior parte, estão ocupados, o que torna o processo de compra em leilões menos atraente.



sábado, 4 de fevereiro de 2017

A QUEM INTERESSA O SIGILO DAS DELAÇÕES?



Deputados também pressionam Justiça a abrir sigilo das delações premiadas

Estadão Conteúdo 






Deputados da base aliada e da oposição engrossaram o coro dos senadores e passaram a pressionar a Justiça a abrir o sigilo das delações premiadas. Cobram, em especial, divulgação das 77 colaborações de executivos da Odebrecht no âmbito da Operação "Lava Jato", homologadas nesta semana pelo Supremo Tribunal Federal.

Oficialmente, a justificativa é de que tornar as delações públicas "facilita" as investigações e evita vazamentos seletivos. Nos bastidores, porém, a avaliação dos parlamentares é de que a divulgação de uma só vez das colaborações é melhor, pois dividirá as atenções da sociedade e da imprensa e diluirá os efeitos negativos entre os diversos investigados.

"Tem que abrir o sigilo. Quando você abre as janelas da colaboração, facilita a investigação", afirmou o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. "Tem que levantar esse sigilo. Só o levantamento evita vazamentos seletivos e especulações", defendeu o líder da minoria, José Guimarães (PT-CE).

Esperidião Amin (PP-SC) cobrou a "imediata" quebra do sigilo. Para ele, a divulgação evita vazamentos "seletivos e remunerados". "Não tem justificativa para preservar sigilo de uma investigação que já tem três anos. Manter é favorecer o vazamento seletivo ou remunerado", afirmou o parlamentar do PP, um dos partidos com mais políticos investigados.

Na avaliação de Amin, a manutenção do sigilo das delações da Odebrecht será um "grave erro" do Judiciário. "Manter o sigilo é ofender a República. Se for manter, o Judiciário vai se desmoralizar. Por quê? a quem ele está servido? Se o Judiciário mantiver isso, é um grave erro que comete, favorecendo extorsão e vazamento remunerado", disse.



Urgente

Para o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), é "urgente" que o novo relator da "Lava Jato" no STF, ministro Edson Fachin, autorize a quebra de sigilo das delações da Odebrecht. "Além de ser direito da sociedade, é também direito dos citados para que exerçam o direito democrático de ampla defesa e defendam sua imagem", cobrou.

Para o tucano, "não é possível que a palavra de pessoas que são réus confessos se transforme em critério da verdade sem contraditório e sem provas efetivas". "Vazamento parcial e seletivo não contribui para o esclarecimento dos fatos. Temos que combater firme a corrupção e assegurar o Estado de Direito", disse.

A cobrança dos deputados mostra que o projeto do líder do governo no Congresso, senador Romero Jucá (PMDB-RR), investigado pela "Lava Jato", para retirar os sigilos de investigações terá boa recepção na Câmara. A proposta conta com apoio do ex-presidente do Senado e atual líder do PMDB na Casa, Renan Calheiros (AL).

O SUPREMO DELEGADO FEDERAL DO STF

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