Surto de Zika é estimulado
pelo El Niño de 2015, diz estudo
Agência Brasil
O estudo revelou que em 2015, quando ocorreu o surto de Zika, o risco de
transmissão foi maior na América do Sul.
O surto de Zika na América do Sul foi estimulado pelo fenômeno El
Niño de 2015, segundo novo estudo divulgado nessa segunda-feira (19),
prevendo que um potencial risco de transmissão sazonal para o vírus,
transmitido pelo mosquito, pode existir no Sudeste dos Estados Unidos, Sul da
Europa e outros lugares durante o verão.
O estudo, publicado na revista americana Proceedings of the National
Academy of Science, utilizou um novo modelo epidemiológico que analisa como o
clima afeta a propagação de Zika pelos seus principais vetores, o mosquito da
dengue (Aedes aegypti) e o mosquito asiático (Aedes albopictus).
De acordo com pesquisadores da Universidade de Liverpool, o modelo
utilizou a distribuição mundial de ambos os vetores, bem como fatores
dependentes da temperatura, entre eles taxas de picada de mosquitos, taxas de
mortalidade e taxas de desenvolvimento viral, para prever o efeito do clima na
transmissão do vírus.
O estudo revelou que em 2015, quando ocorreu o surto de Zika, o risco de
transmissão foi maior na América do Sul.
Os pesquisadores acreditam que isso é provavelmente devido a uma
combinação do El Niño - fenômeno que ocorre naturalmente, com temperaturas
acima do normal no Oceano Pacífico e provoca condições climáticas extremas em
todo o mundo - e mudanças climáticas, criando ambiente propício para os vetores
do mosquito.
O El Niño ocorre de três a sete anos em intensidade variável,
como o fenômeno de 2015, apelidado de "Godzilla", um dos mais fortes
já registrados. Os efeitos podem incluir a seca severa, as chuvas pesadas e as
elevações da temperatura na escala global.
Cyril Caminade, um pesquisador de epidemiologia e população que liderou
o trabalho, disse em comunicado: "Foi sugerido que o vírus Zika
provavelmente chegou ao Brasil a partir do Sudeste Asiático ou pelas ilhas do
Pacífico em 2013. No entanto, o nosso modelo sugere que foram as condições de
temperatura relacionadas com o El Niño de 2015 que desempenharam
papel fundamental na ocorrência do surto - quase dois anos após a crença de que
o vírus fosse introduzido no continente."
"Além do El Niño, outros fatores críticos podem ter desempenhado um
papel na ampliação do surto, como a população sul-americana não exposta, o
risco representado pelas viagens e o comércio, a virulência da estirpe do vírus
Zika e outras infecções como a dengue".
Os pesquisadores disseram que o estudo prevê potencial risco de
transmissão sazonal para o vírus Zika, no Sudeste dos Estados Unidos e, em
menor escala, no Sul da Europa, durante o verão no Hemisfério Norte.
Eles também planejaram adaptar o modelo a outros vírus, como da
chikungunya, com o objetivo de desenvolver sistemas de alerta precoce que
poderiam ajudar as autoridades de saúde pública a se preparar ou até mesmo a
prevenir futuros surtos.
A Organização Mundial da Saúde declarou recentemente que a Zika, que
está ligada a defeitos congênitos e complicações neurológicas, não será mais tratada
como emergência internacional, mas como "desafio duradouro de saúde
pública."