DO URSO RUSSO NO CIRCO
Stefan Salej
No passado, não existia um bom circo que não
tivesse algo da Rússia: ou eram os artistas (a Rússia possui uma das poucas
escolas para artistas circensenses) ou então pelo menos um urso russo. Ele
dançava, às vezes se mostrava preguiçoso até ganhar uns doces, mas era enorme e
as crianças o adoravam. Não existia bom circo sem algo da Rússia.
Bem, na política internacional também parece que
não há um bom circo sem a Rússia.Ou com artistas ou com ursos. As notícias da
semana, que se concentram na expulsão dos rebeldes ou forças contrárias ao
governo sírio da cidade de Allepo e na tragédia de proporções inimagináveis que
isso representa do ponto de vista humano, têm russos no meio. O regime sírio só
conseguiu essa vitória, se pode se chamar de vitória, com apoio de força aérea
russa. Os russos mostraram, com apoio ao ditador sírio Assad, que continuam
sendo uma potência militar e que, nos territórios considerados estratégicos por
eles, não se brinca. Os Estados Unidos, mesmo enviando os aviões mais avançados
do mundo para Israel, estão enfrentando, e parece que perdendo, as batalhas, do
novo adversário velho, a Rússia.
Mas, é em outro campo que a batalha está mais
interessante: as acusações de que a Rússia interveio nas últimas eleições dos
Estados Unidos e mais: a favor do eleito Donald Trump. Bem, na verdade, Hillary
Clinton se enterrou sozinha e nem precisou de ajuda. Sua estratégia deu errado.
E que Trump, durante as eleições e depois, mostrou claramente que a Rússia não
é o principal inimigo dos Estados Unidos, ninguém pode negar. Até a nomeação do
novo Secretário de Estado, chefe da diplomacia norte-americana, teve como base
a sua amizade com o presidente russo Putin e sua capacidade de tecer acordos
favoráveis aos negócios norte-americanos.
Se for verdadeira a alegação de que os russos,
através do uso da informática, influíram nas eleições, cabe uma outra pergunta
ainda mais aterrorizante do que a afirmação do governo de Obama: os Estados
Unidos perderam a guerra cibernética, onde a Rússia, mesmo com as sanções que
lhe impuseram tanto os Estados Unidos como a União Europeia, está anos luz na
frente da chamada maior potência militar do mundo, os Estados Unidos? Ou seja,
os russos estão ganhando a guerra nas estrelas? Se os Estados Unidos podem nos
espionar, os russos intervêm nos sistemas cibernéticos e mudam os resultados
políticos?
É um mundo assustador, onde nos cabe vender
minério, milho, soja e carnes, mas nessa guerra estamos na idade de pedra.