É PRECISO ACABAR COM A
RECESSÃO
Paulo Haddad
Tudo indica que a atual estratégia da política econômica do governo
federal pode não dar certo. O que está se fazendo é indispensável,
absolutamente indispensável. Um teto para o gasto público impede que se amplie
o descompasso entre o aumento acelerado das despesas públicas e a lenta
expansão das receitas governamentais. O equilíbrio financeiro da Previdência
Social pode evitar que a sua insolvência leve também o país à insolvência.
Embora indispensáveis, tais medidas são de impacto e de resultados finalísticos
no médio e no longo prazo. Mas, quanto mais os resultados da política econômica
demoram a aparecer, mais se acumulam as mazelas econômicas e sociais. Muitas
dessas mazelas são politicamente explosivas.
Terminaremos 2016 com 12 milhões de brasileiros desempregados e quase 10 milhões subempregados ou desalentados. A concentração de renda e de riqueza no topo da pirâmide social não para de avançar. Apenas cento e dez mil investidores nos mercados financeiros e de capitais tiveram um aumento de mais de cem mil reais cada um por mês em 2016, um grupo privilegiado da elite econômica que corresponde a meio por cento da população brasileira. É bastante provável que esse pequeno grupo termine este ano apropriando mais de oitocentos e cinquenta bilhões de reais em aplicações financeiras. Os rios caminham para o mar.
Da mesma forma, a política de austeridade fiscal, que corta despesas públicas e procura aumentar impostos e taxas, compromete, de um lado, a qualidade e a quantidade dos serviços públicos tradicionais (saúde, educação, segurança, justiça) à disposição dos brasileiros que mais deles necessitam e, do outro lado, amplia os custos de empresas sufocadas pela falta de demanda e pelo endividamento de curto prazo.
Finalmente, destacam-se as mazelas induzidas pelas taxas de juros desproporcionais às perspectivas inflacionárias do país. Se compararmos os juros previstos para remunerar os papéis prefixados de um ano e as expectativas de que as taxas da inflação desacelerariam acentuadamente, veremos que os aplicadores serão premiados por uma desconcertante taxa de juros reais (acima da inflação) de sete por cento ao ano. Não é missão do Banco Central promover o enriquecimento inusitado e instigante dos que muito já têm.
A ideia de que a recessão é necessária para depurar a economia dos gastos excessivos com as políticas sociais compensatórias, com os subsídios e incentivos distribuídos generosamente a empresários “amigos do rei” e com a desvairada corrupção administrativa, cai bem na estrutura mental formada dentro de princípios religiosos de uma espiritualidade equivocada do crime e castigo. Na verdade, alternativas de política econômica precisam ser exploradas não através de experimentos mágicos, mas observando cuidadosamente o que foi concebido e implementado em outros países em contextos equivalentes ao do Brasil.
Se prevalecer o espírito conservador na formulação e na execução da política econômica, é bom ficar atento à renovação de ideias que estão se processando no FMI e no Banco Mundial, instituições consideradas matrizes genéticas das políticas tradicionais de austeridade fiscal. O economista australiano John Quiggin lançou um livro de grande sucesso denominado “A Economia Zumbi” onde, ao analisar as políticas macroeconômicas pós-crise mundial de 2008, mostra como ideias mortas ainda andam entre nós.
Quiggin defende que as mudanças ocorridas após a globalização econômica e financeira das economias nacionais e as grandes transformações do capitalismo moderno levaram ao redesenho das estratégias das políticas econômicas, tornando-as mais leves, mais exatas, mais flexíveis e mais sensíveis às vozes que vêm das ruas. Países desenvolvidos e instituições multilaterais de fomento estão, pois, repensando a natureza das políticas econômicas (a política monetária, o papel do Banco Central, as políticas sociais, etc.) e têm enterrado velhas ideias. E o Brasil? Continuará tolerante e conformista com o desemprego, com as desigualdades sociais e com o desalento de seu povo?
Terminaremos 2016 com 12 milhões de brasileiros desempregados e quase 10 milhões subempregados ou desalentados. A concentração de renda e de riqueza no topo da pirâmide social não para de avançar. Apenas cento e dez mil investidores nos mercados financeiros e de capitais tiveram um aumento de mais de cem mil reais cada um por mês em 2016, um grupo privilegiado da elite econômica que corresponde a meio por cento da população brasileira. É bastante provável que esse pequeno grupo termine este ano apropriando mais de oitocentos e cinquenta bilhões de reais em aplicações financeiras. Os rios caminham para o mar.
Da mesma forma, a política de austeridade fiscal, que corta despesas públicas e procura aumentar impostos e taxas, compromete, de um lado, a qualidade e a quantidade dos serviços públicos tradicionais (saúde, educação, segurança, justiça) à disposição dos brasileiros que mais deles necessitam e, do outro lado, amplia os custos de empresas sufocadas pela falta de demanda e pelo endividamento de curto prazo.
Finalmente, destacam-se as mazelas induzidas pelas taxas de juros desproporcionais às perspectivas inflacionárias do país. Se compararmos os juros previstos para remunerar os papéis prefixados de um ano e as expectativas de que as taxas da inflação desacelerariam acentuadamente, veremos que os aplicadores serão premiados por uma desconcertante taxa de juros reais (acima da inflação) de sete por cento ao ano. Não é missão do Banco Central promover o enriquecimento inusitado e instigante dos que muito já têm.
A ideia de que a recessão é necessária para depurar a economia dos gastos excessivos com as políticas sociais compensatórias, com os subsídios e incentivos distribuídos generosamente a empresários “amigos do rei” e com a desvairada corrupção administrativa, cai bem na estrutura mental formada dentro de princípios religiosos de uma espiritualidade equivocada do crime e castigo. Na verdade, alternativas de política econômica precisam ser exploradas não através de experimentos mágicos, mas observando cuidadosamente o que foi concebido e implementado em outros países em contextos equivalentes ao do Brasil.
Se prevalecer o espírito conservador na formulação e na execução da política econômica, é bom ficar atento à renovação de ideias que estão se processando no FMI e no Banco Mundial, instituições consideradas matrizes genéticas das políticas tradicionais de austeridade fiscal. O economista australiano John Quiggin lançou um livro de grande sucesso denominado “A Economia Zumbi” onde, ao analisar as políticas macroeconômicas pós-crise mundial de 2008, mostra como ideias mortas ainda andam entre nós.
Quiggin defende que as mudanças ocorridas após a globalização econômica e financeira das economias nacionais e as grandes transformações do capitalismo moderno levaram ao redesenho das estratégias das políticas econômicas, tornando-as mais leves, mais exatas, mais flexíveis e mais sensíveis às vozes que vêm das ruas. Países desenvolvidos e instituições multilaterais de fomento estão, pois, repensando a natureza das políticas econômicas (a política monetária, o papel do Banco Central, as políticas sociais, etc.) e têm enterrado velhas ideias. E o Brasil? Continuará tolerante e conformista com o desemprego, com as desigualdades sociais e com o desalento de seu povo?