Plantas alimentícias não
convencionais são nutritivas e saborosas
Igor Patrick
Você já se imaginou comendo flor capuchinha? Sabia que o caule do
mamão-do-mato dá um ótimo doce? Pouco conhecidas na mesa dos brasileiros,
Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) começam a se popularizar, graças
às receitas disseminadas via internet, cardápios de chefs renomados e até
reality show de culinária que explorou tais sabores. Antes de torcer o nariz e
fechar a boca para a proposta, é bom você saber que o valor nutritivo delas é
bem alto, o que as torna um complemento e tanto para a alimentação.
Estima-se que 3 mil das 15 mil espécies de planta em Minas são
comestíveis. Porém, na avaliação do pesquisador Valdely Kinupp, maior
especialista no assunto, a diversidade do Estado é mal aproveitada.
“É importante disseminar a informação para que as pessoas pesquisem e
cultivem essas plantas. Biodiversidade que não entra pela boca é abstrata, não
dá dinheiro”, pondera Kinupp. “Dessa forma, as plantas alimentícias não
convencionais são destruídas para a plantação de soja, batata. Existe um
preconceito com elas, mas podem ser até mesmo geradoras de emprego e renda à
medida que começarem a ser cultivadas”, complementa.
Se bem aproveitadas, Kinupp afirma que essas plantas ajudam a reduzir a
carência em nutrientes da população mais pobre. O zinco, por exemplo, é pouco
encontrado em alimentos industrializados e é essencial para a memória,
cicatrização e o bom funcionamento do sistema reprodutor.<QA0>
Cuidados
O consumo de plantas comestíveis deve ser feito com cuidado. Fundamental
conhecer a procedência do alimento e ter certeza de que é comestível. Algumas
espécies de plantas selvagens oferecem riscos. No início do mês, mãe e filha
morreram em Cabo Frio depois de comerem uma espécie conhecida como charuteira,
de aspecto semelhante à couve. Facilmente encontrada em Minas, a planta contém
nicotina e é altamente venenosa.
“Não há uma forma geral de reconhecer essas plantas. Na dúvida, o ideal
é fotografá-las e levar até a algum agrônomo ou a um herbário”, aconselha o
pesquisador.
Até legumes e hortaliças comuns podem apresentar riscos se o consumo não
for bem orientado. É o caso do inhame. Com poder antibiótico e bom para a
corrente sanguínea, o legume cru possui uma variedade roxa com alta
concentração de oxalatos, substâncias que sobrecarregam os rins e podem causar
gota e até irritação severa da mucosa do intestino.
“Muitas pessoas recomendam o suco de inhame, mas todo cuidado é pouco.
Nada pode ser consumido sem orientação de um especialista”, observa o
pesquisador.