Partidos pequenos são
cobiçados na guerra por votos que vai definir impechment
Bruno Moreno*
DILMA – Presidente
da República visitou base aérea em Brasília, na ocasião, concedeu entrevista
coletiva e negou que nomeará novos ministros
Mantidos no escanteio ao longo do mandato da presidente Dilma Rousseff
(PT), agora, quando cada voto pode ser decisivo no processo de impeachment, os
partidos com menor representação na Câmara dos Deputados têm sido disputados
tanto pela oposição quanto pelo governo.
A Câmara abriga parlamentares de 25 legendas, sendo que seis delas (PSL, PTN,
PHS, PROS, PT do B e PEN), somam, juntas, 32 votos. Por isso, têm recebido atenção
especial, principalmente na promessa de cargos, seja no atual governo, seja
numa futura coligação pós-Dilma.
Dentro do universo de 513 deputados, elas representam irrisórios 6,24%, mas
como a presidente precisa de 172 deputados federais a seu favor para que a
denúncia do processo de impeachment não prossiga para o Senado, e a oposição de
342, todo deputado tem peso importante na disputa.
De acordo com levantamento do movimento “Vem pra Rua”, que é contrário à
presidente, atualmente 304 parlamentares seriam favoráveis à queda de Dilma,
142 estão classificados como indecisos, enquanto a petista conta com 120 votos
favoráveis a ela na Câmara, sendo sete relativos aos “nanicos”.
Assim, o governo ainda teria margem para buscar outros 25 desses seis partidos.
A oposição acreditam que ela poderia convencer apenas nove deste grupo.
Interlocutores do Planalto estariam negociando exaustivamente com os deputados
das siglas pequenas para tentar virar o jogo.
A estratégia teria sido a divisão dos parlamentares por estados, para facilitar
a aproximação dos deputados.
Aos chamados partidos nanicos, o governo oferece parte dos 600 cargos que o
PMDB ocupava no governo federal, e que está em processo de entrega, após o
rompimento com o governo Dilma, na terça-feira da semana passada.
E ainda tenta convencê-los a não comparecer à votação. Dilma precisa que 172
deputados votem favoráveis a ela ou se abstenham, o que é considerado pelo
Planalto também como um ato de lealdade.
Varejo
Um dos deputados que foi procurado por emissários do governo foi o paranaense
Alfredo Kaefer (PSL).
Ele deixou recentemente o PSDB e foi para o PSL, no qual faz dupla com a
mineira Dâmina Pereira, e garante que manterá a posição de votar contra Dilma
no Congresso, apesar da tentação.
“Todos foram procurados. Não posso dizer em quais condições, porque não me
propus a ouvir o canto da sereia. Sozinhos, dois votos não seriam
representativos, mas junto com um grupo maior, mesmo que de partidos pequenos,
faria diferença. Fui convidado a participar de um bloco de 18 a 20 deputados,
cujo bloco foi acenado ministérios. Não poderia me desclassificar ou me
prostituir”, relatou. O deputado garantiu não ter a “mínima chance de
atravessar a avenida”, e ir para o outro lado.
O PTN, que saltou de quatro para 13 deputados federais graças à “janela
partidária”, foi o primeiro contemplado na estratégia de distribuir cargos.
Ganhou a Funasa.
“Hoje nós temos um quadro indefinido justamente pela somatória de
pequenos números, que podem dar uma somatória favorável ao governo, mas acho
que na hora do ‘pega’ mesmo, ela (Dilma) não terá os 172 votos”
:: Reforma ministerial só depois da votação do impeachment
BRASÍLIA – A presidente Dilma Rousseff (PT) descartou uma reforma
ministerial até a conclusão do atual procedimento de impeachment que tramita no
Congresso.
“O Planalto não está pretendendo qualquer estruturação ministerial antes
de qualquer processo de votação na Câmara. Não iremos mexer em nada.
Especulações sobre ministérios, sobre mudanças no governo, são absolutamente
especulações. Sem base de verdade”, afirmou a presidente à imprensa após uma
visita à Base Aérea de Brasília.
Dilma enfrenta um processo de impeachment impulsionado pela oposição no
Congresso por suposta maquiagem das contas públicas em 2014, ano de sua
reeleição.
Após a saída do PMDB do governo, a presidente tenta recompor as forças,
apesar de apenas um, de sete ministros do PMDB, ter pedido demissão.
A presidente também ironizou a possibilidade de novas eleições. “São
propostas. Não rechaço, nem aceito, mas convença a Câmara e o Senado primeiro a
abrir mão dos seus mandatos e aí vem conversar comigo”, declarou.
Cargos
Mesmo rechaçando a ideia de reforma ministerial, alguns movimentos são notados
no segundo escalão. Ontem, Dilma nomeou Antonio Iran Costa Magalhães como novo
diretor-geral do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) .
Segundo petistas, o nome seria uma indicação da família Gomes (Cid e Ciro).
Na semana passada, Dilma exonerou deste cargo Walter Gomes de Sousa, que
era indicado por Henrique Eduardo Alves, que foi o único ministro do PMDB a
pedir demissão.
Denúncia
Sem apresentar provas, o deputado Paulinho Pereira da Silva (SD-SP), o Paulinho
da Força, acusou o governo de oferecer dinheiro a deputados para não virem
votar o impeachment ou votarem contra o processo.
O deputado é presidente nacional do Solidariedade e da Força Sindical e
um dos mais ferrenhos adversários do governo Dilma Rousseff. Sem dar maiores
explicações ou dizer quem teria recebido a oferta, Paulinho disse que o governo
está oferecendo R$ 400 mil para deputados se ausentarem das votações.
Governistas negam a oferta.
ALÉM DISSO
O relator do processo de impeachment na Câmara, deputado Jovair Arantes
(PTB-GO) avisou o presidente da comissão especial, Rogério Rosso (PSD-DF), que
estará pronto para apresentar o voto a partir das 14 horas de hoje. Rosso já
convocou reunião da comissão para esta data e horário.
Como deve haver pedido de vistas, que precisa respeitar intervalo de
duas sessões, a comissão correrá contra o tempo para cumprir o prazo para a
votação, que termina na próxima segunda-feira.
Por isso, o presidente do colegiado busca um acordo para tentar iniciar
a discussão na próxima sexta-feira. O voto de Jovair será apresentado menos de
48 horas após a comissão receber a defesa de Dilma. O deputado já afirmou que
na parte expositiva do seu parecer vai abordar temas que o governo não deseja
que estejam contemplados, como a compra da refinaria de Pasadena, os escândalos
de corrupção investigados na operação “Lava Jato” e as pedaladas fiscais de
2014, já condenadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Jovair, porém,
disse que ainda decidirá se tais questões estarão na parte da sua decisão que
abrange o voto.
Para o governo, cabe à comissão analisar apenas as pedaladas de 2015 e
os decretos suplementares de crédito deste ano, uma vez que o presidente da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ao aceitar o pedido rejeitou temas que
envolvessem o primeiro mandato de Dilma.
Rosso afirmou que a comissão vem sendo conduzida dentro do rito descrito
pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e afirmou que vai ter prudência no
cumprimento dos prazos para evitar questionamentos jurídicos.