Analistas dizem que o agravamento da crise será
medido pelo público nas ruas
Giulia Mendes - Hoje
em Dia

Diante da iminência da definição do rito do processo de impeachment da
presidente Dilma Rousseff (PT) e da repercussão da última fase da operação
“Lava Jato”, que teve como alvo principal o ex-presidente Lula,
intensificaram-se as organizações para as manifestações populares deste
domingo, que vão pedir novamente a saída da presidente.
Representantes dos movimentos à frente dos protestos acreditam que mais de 40
mil pessoas participarão dos atos na Praça da Liberdade, região Centro-Sul de
Belo Horizonte, às 10h, e na Praça da Estação, no Centro, às 14h. Na avenida
Paulista, em São Paulo, a expectativa dos organizadores é que o público supere
1 milhão de pessoas.
São esperados protestos em mais de 230 cidades nos 26 estados e no Distrito
Federal. Em Minas Gerais, 27 municípios programaram protestos contra o governo
federal, segundo os grupos “Vem Pra Rua” e “Movimento Brasil Livre”.
Um ano depois da manifestação que teve maior público registrado, no dia 15 de
março de 2015, especialistas avaliam que a adesão ao movimento deste domingo
servirá de termômetro para medir a insatisfação do brasileiro, culminando ou
não no agravamento da crise institucional.
“A tendência é que as manifestações alcancem um público maior em todo o país.
Vai ser uma movimentação grande em função do estado de ânimo da população
frente às novas denúncias de corrupção, à condução coercitiva do ex-presidente
Lula (na semana passada) e aos indicadores econômicos, que não demonstram
melhoras”, analisa o sociólogo e professor de Ciência Política do Ibmec, Lucas
Azambuja.
DESGASTE
Para ele, o reflexo de manifestações do porte das que são esperadas hoje é um
desgaste ainda maior para o PT e para a relação do Executivo com a base na
Câmara dos Deputados e no Senado, agravando ainda mais a crise política.
“Dificulta a vida do partido e impacta diretamente na capacidade da presidente
de governar. Se as manifestações forem mesmo de peso, a corrente pelo
impeachment ganhará mais força”, afirmou Azambuja.
Impeachment que não resolverá os problemas do país, pondera o professor da
PUC-MG, Malco Camargos. “Não dá para centralizar os males da política
brasileira na figura da presidente e do PT. Uma possível substituição não
significa que teremos alternativas melhores. O que tem que mudar é a forma como
as pessoas agem para chegar ao poder, independente de partido”. Camargos também
acredita que as manifestações de hoje terão maior adesão. “O ritmo de queda de
público, que observamos nas últimas manifestações, deverá ser quebrado agora”.
Governabilidade de economia dão tom dos manifestos
O Hoje em Dia foi às ruas para saber como anda a percepção e a motivação dos
belo-horizontinos a respeito dos atos de oposição e de apoio ao governo
federal, marcados para este domingo e para a próxima sexta-feira, na capital e
em outras cidades do país.
Para a estudante Sofia Ramos, de 18 anos, a única saída para colocar fim aos
escândalos de corrupção e à crise no país é fazer pressão pela saída da
presidente Dilma Rousseff.
“Sou a favor da saída dela. Só assim teremos uma chance de acabar com os
escândalos de corrupção e com a crise. Já participei de outros protestos
pró-impeachment e vou continuar participando”.
Apesar da vontade de manifestar neste domingo, Luísa Laureano, de 21 anos, que
também é estudante, não irá aos atos que acontecerão nas praças da Liberdade e
da Estação, porque teme uma disputa de espaço nas ruas entre movimentos sociais
ligados ao PT e manifestantes pró-impeachment de Dilma.
“Já participei de protestos mais vazios. Como este promete ser maior e pode ter
a presença de manifestantes com ideais contrários, fico insegura de presenciar
confusões. Sou a favor da saída da presidente, apesar de não saber se, com
isso, os problemas políticos e econômicos vão ser resolvidos”, afirmou.
A comerciante Clara Bizzotto, 32, conta que vai para as ruas, mas para defender
Dilma e a democracia, no dia 18. “É muito difícil para Dilma governar com o
Congresso fazendo essa oposição tão veemente”.
PT e CUT pedem a grupos aliados manifesto em data diferente
Aproveitando a data em que ocorreu o golpe militar em 1964, movimentos sociais
programaram um ato em defesa do mandato da presidente Dilma Rousseff para 31 de
março.
A manifestação, chamada de “ocupação”, será em Brasília, e reunirá a Frente
Brasil Popular, composta pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST) e entidades sindicais como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), além
da Frente Povo Sem Medo.
Apesar de defenderem a permanência da presidente, os líderes dos movimentos
seguem críticos à orientação da política econômica do governo federal, mas
garantem que isso não significa compactuar com a tentativa de “golpe”.
Os principais alvos da manifestação serão o ajuste fiscal, o corte nos
investimentos sociais, a reforma da previdência, a saída do deputado Eduardo
Cunha (PMDB) da Câmara e contra o impeachment. Em Minas Gerais, o PT organiza
também um protesto na próxima sexta-feira. Os manifestantes se reunirão às 16h
na praça Afonso Arinos, na região Central.
CONFRONTO
Temendo confrontos pelo país, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) nacional
e o Partido dos Trabalhadores em Minas (PT-MG) decidiram orientar suas centrais
estaduais e diretórios municipais, respectivamente, a não fazerem manifestações
neste domingo, quando grupos pró-impeachment sairão às ruas.
Segundo a presidente do PT-MG, Cida de Jesus, muitos movimentos de apoio ao
governo pretendem protestar no dia 13, mas a data deve ser de mobilização em
Belo Horizonte para planejar os atos programados para os dias 18 e 31 de março.
“Não vamos impedir quem quiser se manifestar, as pessoas são livres, mas a
orientação institucional do partido é evitar confrontos”, afirmou.
O deputado estadual Rogério Correia (PT), que faz parte da coordenação da
Frente Brasil Popular no Estado, confirmou a orientação para evitar tumulto nas
ruas, mas garante que sempre que houver tentativa de golpe, haverá reação.
“Não nos interessa confronto, mas Dilma vai terminar o mandato. Havendo
tentativa de golpe, reação terá. O direito de manifestar é livre, mas golpe não
é direito de manifestação, é burlar e retirar o direito democrático conferido
no voto”, declarou.
Análise
Para o cientista político Malco Camargos, a condução coercitiva e as
declarações do ex-presidente Lula, na semana passada, atrairão simpatizantes ao
governo e ao PT às ruas. “O patrimônio do PT, hoje, é a figura do Lula”. (GM)