DE VOLTA PARA O FUTURO –
VIAGEM NO TEMPO
Um breve
histórico dos cientistas que tentaram caçar viajantes do tempo
Por: Adam Clark Estes
Viajar no
tempo é possível; é o que dizem vários físicos bastante sérios. Provavelmente
não é possível fazer isso em um Delorean, mas há diversas teorias inspiradas
por Einstein – como buracos de minhoca e cilindros de Tipler – de como isso
poderia funcionar. O que levanta a questão: onde estão os visitantes de outras
épocas?
Parece
uma pergunta boba, mas é algo que muitos cientistas realmente levam a sério.
Encontrar alguém do futuro serviria, claro, como prova definitiva de que
podemos realmente viajar através do tempo, e seria uma forma bastante simples
de resolver um grande enigma científico. Então não é nenhuma surpresa que
alguns entusiastas e especialistas criaram experimentos a fim de atrair
viajantes do tempo que poderiam estar se escondendo entre nós.
Um deles
é Stephen Hawking. O renomado físico acredita mesmo que a viagem no tempo é uma possibilidade científica,
e ainda diz que sabe como construir uma máquina do tempo.
Ele também jogou a questão: “se é possível viajar no tempo, onde estão os
turistas do futuro?” É uma boa pergunta, e é assim que estamos tentamos
respondê-la.
Por que achamos que é possível viajar no tempo
Viajar no
tempo é um sonho que vem durando ao longo dos séculos. Mas, no século passado,
cientistas criaram uma teoria sugerindo que era de fato plausível dar um salto
para o futuro. Voltar no tempo, infelizmente, é muito mais complicado.
Buracos de minhoca são uma
ponte através do espaço-tempo, um atalho que liga dois pontos em lugares e
momentos diferentes. Eles são previstos pela teoria da relatividade geral de
Einstein. Teoriza-se que certos buracos de minhoca poderiam permitir a viagem
no tempo em qualquer direção, mas há diversas ressalvas quanto a voltar no
tempo. A principal é esta: nós precisamos de um método para criar buracos de
minhoca, e quando ele for criado, ele só nos permitirá viajar de volta até o
momento em que ele foi criado.
Outra opção
para viajar no tempo envolve um fenômeno chamado dilatação do tempo, também com base nas teorias
da relatividade de Einstein. Isso remete à ideia de que o tempo passa mais
lentamente para um relógio em movimento do que para um relógio parado. A força
da gravidade também afeta a passagem do tempo. Naves espaciais lidam com esse
efeito há muitos anos: é por isso que os relógios da Estação Espacial
Internacional se movem um pouco mais lentamente
do que os relógios na Terra.
Se você
levar isso ao extremo, voando em uma nave espacial super-rápida, o tempo
passaria mais rapidamente para as pessoas na Terra. Você poderia fazer uma
volta ao redor da galáxia e, ao voltar, você estaria no futuro. A questão é:
até onde podemos ir? E assim também é possível voltar no tempo?
Mais uma
vez, nós realmente não sabemos. E só vamos saber como isso funciona até
testarmos; mas, no momento, não temos os meios para fazer isso. Uma maneira
fácil de descobrir é simplesmente procurar por viajantes do tempo entre nós.
Nem precisa de laboratório! E isso é exatamente o que vários cientistas malucos
fizeram.
Fazendo uma festa
Uma das
primeiras tentativas bem divulgadas em encontrar viajantes do tempo não era
científica. (Em breve voltaremos aos métodos científicos reais.) Foi o que
aconteceu no início dos anos 80, quando computadores e eletrônicos de consumo
começaram a fundir ciência e ficção científica de maneiras fascinantes. Foi
também quando decolou o Columbia, primeiro ônibus espacial. Tudo isso deixou as
pessoas curiosas.
Em 1982,
um grupo de artistas em Baltimore (EUA) resolveu fazer um evento que o New
York Times descreveu como “uma epidemia de loucura temporária”. Em março
daquele ano, todos os nove planetas estavam muito próximos – mais que nos 200
anos anteriores – e o grupo Krononauts se reuniu para acolher “os visitantes do
futuro”. Do NYT: “os Krononauts beberam, dançaram e, depois da meia
noite, alguns deles tiraram a roupa”. Nenhum viajante do tempo apareceu, mas
parece que todo mundo se divertiu.
Trinta
anos depois, aconteceu um evento levemente similar em Cambridge, Inglaterra.
Desta vez, o líder não era um jovem de vinte e poucos anos – era o próprio
Stephen Hawking.
A festa
de Hawking foi maravilhosamente séria. Havia champanhe e petiscos em um salão
chique na Universidade de Cambridge, onde foi pendurado um banner: “Bem-vindos,
viajantes do tempo”. Hawking sempre sugeriu que turistas do tempo poderiam
provar que a viagem no tempo era possível, por isso ele os convidou. Ninguém
apareceu.
É difícil
dizer se a festa de Hawking era algo realmente sério. Por um lado, Hawking
acredita que a viagem no tempo é possível, então ele não estava necessariamente
rindo da ideia. Mas, nas palavras de Hawking: “há uma reviravolta”. O cientista
sorrateiramente só divulgou a festa depois que ela aconteceu. Alguém no futuro
teria que descobrir o evento e entrar em uma máquina do tempo para conversar
com o famoso físico.
Ainda
assim, há uma boa chance de que Hawking só estava tentando provar um ponto. Kip
Thorne, amigo dele, explica no livro Buracos Negros e Túneis do Tempo
que um dos métodos mais viáveis para arquitetar uma máquina do tempo envolve criar e manipular buracos de minhoca. Mas
isso só permitiria às pessoas do futuro viajar até o ponto em que a própria
máquina foi inventada. Ou seja, se ela ainda não foi criada, seria impossível
para as pessoas do futuro voltar até a festa de Hawking.
Convenções
Alguns
anos antes da festa de Hawking, um ambicioso pós-graduando do MIT tentou outra
abordagem. Em vez de manter o evento em segredo, Amal Dorai organizou uma
convenção geral sobre viagem no tempo e incentivou todos a se espalhar pelo
mundo. Ele escreveu em seu site:
Precisamos
de voluntários para publicar os detalhes da convenção em formas duradouras,
para que os viajantes do futuro estejam cientes da convenção daqui a milênios.
Esta convenção não pode nunca ser esquecida! Precisamos de publicidade em
GRANDES veículos da mídia, não apenas em notícias da internet: pode ser New
York Times, Washington Post, livros, esse tipo de coisa. Se você
tiver boas conexões, use-as, por favor.
Sonhos se
tornam realidade. O New York Times publicou a notícia. A grande emissora de rádio
americana NPR também cobriu o evento. A Wired
escreveu uma reportagem.
Até fizeram piada sobre a convenção no Saturday Night Live.
Expor o
evento faz muito sentido. A MIT é uma universidade famosa que tende a atrair a
atenção da mídia, e a programação envolvia famosos professores falando sobre
viagem no tempo. E a própria premissa é curiosa o bastante para merecer
atenção.
Mesmo
assim, ela não funcionou. “A convenção foi um sucesso misto”, disse Dorai no
site do evento. “Infelizmente, não tivemos viajantes do tempo confirmados nos
visitando, mas muitos podem ter ido sem se revelar, para evitarem perguntas
infindáveis sobre o futuro.” Um evento semelhante ocorreu na mesma época em
Perth, Austrália, mas também decepcionou.
Talvez
Dorai tenha subestimado o poder da internet. A convenção ocorreu em 2005,
quando ele disse: “é improvável que a World Wide Web permaneça em sua forma
atual permanentemente”. Ele ainda está funcionando em 2014.
No
entanto, provavelmente há uma explicação mais simples. É a mesma que os físicos
do MIT, e a mesma que Hawking sugeriu: se descobrirmos como construir uma
máquina do tempo, só será possível voltar ao tempo até quando essa máquina foi
construída.
A abordagem acadêmica
Este ano,
dois físicos publicaram os resultados de um estudo com um título bastante
autoexplicativo, “Pesquisando na internet por evidências
de viajantes do tempo“. Em vez de organizar algum tipo de evento e
atrair publicidade contando com as pessoas do futuro, estes cientistas buscaram
pistas de que viajantes do tempo estiveram online. Em certo sentido, eles
estavam em busca de pegadas digitais.
Robert
Nemiroff e Teresa Wilson, da Universidade Tecnológica de Michigan (EUA),
fizeram suas buscas no Twitter, no Facebook, no Google, Google+ e Bing. Mas
eles não conseguiram achar nada. Entre janeiro de 2006 e setembro de 2013, não
foi possível encontrar uma única menção de dois termos do futuro que as pessoas
não teriam conhecido durante esse tempo. Nenhum.
Foi um
bom esforço. No entanto, dadas as limitações do experimento, eles acabaram
procurando um tipo muito específico de viajante do tempo. Por que essa pessoa
colocaria palavras do futuro na internet? “Viajantes do tempo podem ter tentado
recolher informações históricas que não sobreviveram no futuro, ou procuraram
um termo do futuro por acharem erroneamente que esse evento já tinha ocorrido,
ou procuraram para ver se determinado evento ainda iria ocorrer”, o documento
explica.
A difícil caçada
Todas as
tentativas são meio bobas, se olharmos bem: fazer uma festa sem convidar
ninguém, ou fazer uma convenção para celebrar uma tecnologia que ainda não
existia.
Dito
isto, parece haver uma conclusão bastante concreta, enraizada em algumas ideias
amplamente aceitas da física teórica: ainda não inventamos uma máquina do
tempo. Se e quando isso acontecer, vamos entrar em uma nova era de viagens no
tempo. No entanto, nós não poderemos voltar no tempo antes de quando a máquina
foi construída.
Isso tudo
assume que esta máquina do tempo hipotética pode realmente voltar no tempo.
Mais uma vez, isso é muito difícil.
A viagem
no tempo é algo real, apesar de tudo. De certa forma, os astronautas a bordo da
Estação Espacial Internacional fazem isso todo dia, ainda que por alguns
microssegundos. Os princípios da relatividade e da própria natureza do
espaço-tempo tornam isso possível.