iPad vai revolucionar o ensino,
diz criador de escolas Steve Jobs
Escolas que foram inauguradas em
agosto adotam novo modelo de ensino, que troca cadernos por iPads e séries por
grupos de estudo
“O mundo
está mudando cada vez mais rápido, principalmente sob a influência da revolução
digital.” Assim começa o manifesto do grupo holandês “Educação para uma nova
era”, iniciativa que pretende revolucionar o formato de ensino nas salas de
aula do mundo. Partindo de quatro princípios - unir o mundo real ao virtual,
reconhecer diferentes tipos de talento, desenvolver habilidades coletivamente e
aproximar a escola da comunidade -, as Escolas Steve Jobs, como estão sendo
chamadas pelo uso do iPad como principal ferramenta pedagógica, tentam se
adequar à vida no século 21. “Para a educação, a tecnologia cria novos desafios,
bem como novas oportunidades”, declara o manifesto.
O
pesquisador holandês Maurice de Hond, 65 anos, é um dos criadores do projeto.
Para ele, as escolas atuais preparam as crianças para uma realidade que já não
existe. “Em casa, as crianças vivem em um mundo multimídia, interativo e
digital. E quando elas vão para a escola, elas veem como eram as coisas no
passado. É um museu onde as crianças são preparadas para 1990 em vez de 2020”,
diz.
Em casa,
as crianças vivem em um mundo multimídia, interativo e digital. E quando elas
vão para a escola, elas veem como eram as coisas no passado. É um museu onde as
crianças são preparadas para 1990 em vez de 2020
Maurice
de Hond especialista
em tecnologias
Foi em
casa que Hond percebeu o potencial da tecnologia no mundo da educação. Uma de
suas filhas (são cinco), então com menos de 2anos, pegou seu iPad e o manuseou
com muita familiaridade. “O que me surpreendeu foi ela ter mostrado habilidades
que eu jamais diria que uma criança daquela idade teria”, conta o holandês.
“Era a revolução das crianças tomando forma”, revela.
Dali em
diante, em 2010, com a parceria da professora Irene Felix, do especialista em
educação digital Erik Verhulp e do diretor educacional Luc de Vries, Hond, que
a princípio não tinha interesse em se envolver com o mundo da educação por
considerá-lo “conservador” demais, passou a dar corpo à ideia de uma nova
escola, preparada para os novos tempos. “Comece pelo novo olhando para o velho,
em vez de começar pelo velho olhando para o novo”, ensina Hond.
Essa nova
escola, que, para Hond, aproxima o real e o virtual, traz consigo a necessidade
de uma reestruturação física e organizacional. A sala de aula tradicional, com
quadro-negro, cadeiras, um professor à frente de 30 alunos, perde espaço para
ambientes diferenciados e instigantes, como ateliês e classes com um número
reduzido de crianças. Os potenciais máximos de cada realidade - física e
virtual - devem ser explorados, explica Hond. “O prédio é o lugar onde as
crianças se encontram no espaço físico. Use essa oportunidade para fazer as
coisas em que o mundo virtual é inferior: se concentre em atividades físicas,
interação social e cooperação”, afirma.
Com seus
iPads constantemente próximos (dentro e fora das salas), os alunos têm a escola
virtual disponível sempre e em toda a parte. Hond defende o uso do aparato
tecnológico, pois ele auxilia a criança de uma forma que um professor, atento a
toda uma turma, não consegue. “As crianças aprendem o que os professores
conseguem ensinar, e normalmente o desenvolvimento pessoal do aluno é
restringido pela velocidade do desenvolvimento médio da sala de aula. O iPad é
uma ferramenta personalizada de ensino perfeita, pela qual a criança é capaz de
desenvolver-se fora da zona de conforto do professor”, aponta. Tudo isso,
ressalta Hond, mostra que o papel do professor está se tornando mais o de um
guia e treinador do que de alguém que está dando uma lição para toda a classe.
Grupos
por idades
Outra mudança de formato nessa nova sala de aula é a divisão por idades. O grupo “Educação para uma nova era” defende que as crianças sejam divididas em dois grupos etários: 4 a 7 anos e 8 a 12 anos. As atividades coletivas acontecem entre as 11h e as 15h, horários que os alunos devem estar presentes no colégio. Fora desse turno, é o próprio estudante que define, com o professor, sua tabela horária.
Outra mudança de formato nessa nova sala de aula é a divisão por idades. O grupo “Educação para uma nova era” defende que as crianças sejam divididas em dois grupos etários: 4 a 7 anos e 8 a 12 anos. As atividades coletivas acontecem entre as 11h e as 15h, horários que os alunos devem estar presentes no colégio. Fora desse turno, é o próprio estudante que define, com o professor, sua tabela horária.
Os
aplicativos utilizados no iPad pelas crianças registram os avanços conquistados
e estão disponíveis para avaliação dos pais e professores, podendo ser
substituídos se não apresentarem os resultados esperados. Outro uso da
ferramenta é para a criação: “Nós queremos que os pupilos usem os iPads para
registrar o que aprendem e sabem, seja através de vídeos, áudios, fotos,
animações. Esse é um valor novo e revolucionário do tablet que se diferencia do
velho formato de ensino”, analisa Hond.
Inicialmente,
11 escolas ensinarão sob os preceitos da “educação da nova era”. Elas abriram
as portas em agosto de 2013, em diversas partes da Holanda. No entanto, revela
Hond, muitas outras instituições estão mostrando interesse por esse novo
formato de ensino, e novas Escolas Steve Jobs poderão surgir em 2014. Hond
explica que o nome das instituições, além de se referir ao uso de iPads, é uma
homenagem ao criador da Apple, que, na sua visão, “mudou o mundo com produtos
que unem tecnologia e criatividade”.
O
questionamento levantado pelo manifesto do grupo holandês “Educação para uma
nova era” ecoa pelo mundo: “Nós realmente preparamos nossos alunos para o
futuro em vez do passado?”. No fundo, a verdadeira questão, aponta Hond, não é
a tecnologia, são as pessoas. “Nossa iniciativa é um pouco uma jornada ao
desconhecido. Mas muitos professores sentem que atualmente estão presos em um
sistema antigo, no qual as crianças têm se desenvolvido muito fora da escola
com o uso de ferramentas digitais. O que estamos dizendo a eles é que os
componentes mais importantes para o professor são: confiem nos jovens, não
queiram controlar tudo e deixem as crianças surpreendê-los”, ensina.