segunda-feira, 24 de junho de 2024

O INTERIOR DE MINAS GERAIS TEM PÉSSIMAS ESTRADAS

 

História de Luiz Ribeiro – EM.com.br

Entre Berilo e Virgem da Lapa, no Vale do Jequitinhonha, ponte de madeira em pessimo estado é desafio extra no já crítico trecho de terra da BR-367

Entre Berilo e Virgem da Lapa, no Vale do Jequitinhonha, ponte de madeira em pessimo estado é desafio extra no já crítico trecho de terra da BR-367© Iris do Rosário/Divulgação

Populações que vivem longe dos grandes centros urbanos de Minas Gerais vêm pagando um preço alto pelas condições de transporte de que são reféns. E não se trata apenas do já pesado sofrimento de enfrentar estradas em péssimas condições, tomadas pela poeira na seca, por atoleiros na chuva e por buracos o ano inteiro, mas de custo financeiro real. “Acho que o preço das mercadorias aqui é pelo menos 20% mais alto, por causa da despesa a mais com o frete”, calcula Wagner Raimundo de Souza, dono de um supermercado em Berilo, no Vale do Jequitinhonha.

A impressão do comerciante pode ser estendida a outros ramos da economia e a outros municípios que sofrem com a elevação dos preços de transporte devido às más condições de acesso. E demonstra que a péssima situação das estradas, que resulta inclusive em acidentes fatais, como mostrou série de reportagens do Estado de Minas, provoca também um gargalo para a economia, dificultando o comércio e onerando quem, ao fim, paga a conta: os consumidores.

Uma das principais causas do problema é a falta de investimentos em infraestrutura para melhoria das estradas, afirma o presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística de Minas Gerais (Setcemg), Antônio Luís da Silva Júnior. “Há mais de 20 anos, não temos nenhuma obra estruturante e de melhoria na nossa infraestrutura. A nossa realidade é de estradas ruins, sem segurança, sem estrutura adequada de armazenamento, sem locais adequados para descanso dos motoristas, e de embarcadores que não respeitam as leis vigentes no país”, afirma.

Conforme mostrou o EM, a última edição da pesquisa CNT Rodovias, divulgada pela Confederação Nacional do Transporte no fim de 2023, mostra que as estradas em piores condições no território nacional estão em Minas Gerais, estado que tem a maior malha rodoviária do país. O presidente do Setcemg salienta que a situação crítica das rodovias tem impacto direto no setor de logística e transporte de cargas, com reflexo em toda a cadeia produtiva.

“As condições de nossas estradas impactam, de certa forma, todo o transporte rodoviário do país. Interferem na produtividade, na segurança, no tempo de viagem, gerando custos com manutenção, e a necessidade de um maior número de veículos e motoristas para atender à demanda”, avalia.

Inflação na pista da “Rodovia da Morte”

Antônio Luís da Silva Júnior salienta que a questão da violência no trânsito – exposta em série do EM que apontou as rodovias mais letais do estado – também tem consequências nos custos e no dinamismo do setor de transporte e logística. “Nos últimos anos, houve uma elevação de nossos custos impactados pelos preços dos combustíveis, de peças e sobremaneira pelos custos indiretos em função da insegurança jurídica e dos acidentes, que aumentam nas estradas ruins”, descreve.

“Para ilustrar, os custos para se trafegar na BR-381 em direção a Governador Valadares (trecho que inclui a chamada “Rodovia da Morte”) sofrem impactos de até 50% em função da improdutividade e tempo de viagem”, afirma o presidente do Sindicato das Empresas do Transporte de Cargas.

O representante do setor ressalta que o tempo gasto a mais nos deslocamentos de carretas e caminhões devido a deficiências na pista ou acidentes acaba onerando o serviço e afetando o desempenho financeiro das empresas. “No transporte de cargas, tempo é um recurso valioso e escasso, tanto na operação quanto na logística. Ele impacta diretamente a rentabilidade das empresas, em relação à produtividade e também ao bem-estar dos colaboradores”, afirma.

 Veículos de 1º mundo em trilhas malcuidadas

De acordo com o Setcemg, Minas Gerais conta com mais de 25 mil empresas de transportes rodoviário de cargas. O setor gera no estado mais de 1 milhão de empregos diretos e 3 milhões indiretos, de acordo com o último levantamento da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

Ainda segundo o sindicato, com o avanço do e-commerce, após a pandemia de COVID-19, houve um aumento de 50% no volume das entregas de cargas na comparação com o período pré-pandemia. “Esse tipo de comércio movimenta muito mais a parte de entregas urbanas. Estimamos um crescimento em torno de 25%, especialmente no transporte de cargas fracionadas, os chamados ‘pacotinhos’”, informa Antônio Luís da Silva Júnior.

O líder empresarial alega ainda que há um contraste entre a modernização do setor e as condições de tráfego. “O transporte de carga está bem estruturado, tem equipamentos e caminhões modernos, treinamentos e está preparado para enfrentar as mais diversas situações. Temos maquinário de primeiro mundo em estradas em péssimas condições de trafegabilidade”, compara.

Minas fica para trás em competitividade

A preocupação com a alta de custos do transporte, com reflexos em outros segmentos produtivos devido ao estado ruim das rodovias, é reforçada pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe. “As estradas de Minas Gerais estão em más condições, e especialmente a BR-381 está no pior cenário possível. Isso gera um extraordinário aumento de custo logístico e perda de competitividade da indústria mineira”, afirma.

“Nós esperamos um cronograma pesado de investimentos por parte do governo federal na malha rodoviária do nosso estado. O governo do estado também tem uma situação bastante complexa nas rodovias estaduais, mas colocou um plano de investimento neste ano que vai passar de R$ 1,5 bilhão. Ajuda. Não é suficiente, mas é um norte”, avalia o presidente da Fiemg.

“A condição precária das estradas atrapalha em várias perspectivas. Primeiro, o custo do transporte aumenta. Com a ocorrência de acidente, o tempo de duração da frota cai, pois, há uma depreciação maior. O custo operacional de manutenção sobe. Além disso, os atrasos na entrega fazem aumentar o custo das empresas. O caminhão e o caminhoneiro ficam mais tempo na estrada. E o caminhão é um ativo de valor alto. Então, o custo do frete aumenta sobremaneira”, avalia o dirigente da Federação das Indústrias.

Caminhoneiro sofrem consequências na pele

Para além dos problemas para consumidores, comerciantes, empresas e a sociedade em geral, as consequências da falta de estrutura adequada nas rodovias e da precariedade do asfalto são sofridas por aqueles que carregam a economia sobre rodas: os trabalhadores do transporte.

A reportagem do Estado de Minas ouviu testemunhos de vários deles na BR-251, ligação entre Montes Claros e a Rodovia Rio-Bahia (BR-116), passando por Salinas, no Norte de Minas – uma das estradas mais movimentadas pelo transporte de cargas do país, mas que continua com pistas simples, condições ruins de asfalto, curvas perigosas e pontes estreitas, que representam riscos e prejuízos para os milhares de motoristas que passam por ela diariamente, entre o Sul/Sudeste e o Nordeste e Norte.

“Sempre tenho prejuízos com a manutenção do caminhão por causa da condição ruim da estrada. Além do risco de acidente, a gente sofre com rolamentos e molas quebrados e pneus estourados por causa dos buracos e da trepidação. Tem ainda o desgaste constante do caminhão, que não aguenta a buraqueira”, enumera o caminhoneiro Guilherme de Oliveira Gouveia, natural de Louveira (SP).

Guilherme estava com o veículo parado em uma oficina no estacionamento de um posto de combustíveis, às margens da BR-251, no município de Montes Claros, e contou que teve prejuízo de cerca de R$ 4 mil com os danos ao seu caminhão. “Com a trepidação do asfalto, estourou o cubo de uma roda traseira. Quebraram também o tambor de freio, lona de freio e rolamentos”, disse.

O caminhoneiro transporta carregamentos de peixe de São Paulo para o Nordeste, principalmente para Recife (PE). Por se tratar de uma carga perecível, faz agendamento de horário para entrega. “Mas as viagens sempre atrasam por causa das más condições do asfalto. Nesta estrada (BR-251), se o motorista não andar devagar, destrói o caminhão. Além disso, quase todo dia acontecem acidentes que interrompem o trânsito”, lamenta.

Queixa semelhante é feita por José dos Anjos, outro trabalhador das estradas. “Temos muitos prejuízos por causa da condição ruim da pista, principalmente desgaste dos pneus. A gente nunca que consegue fazer as viagens dentro do tempo previsto, porque tem de andar devagar”, disse o caminhoneiro, que passou pela BR-251 transportando uma carga de coco de Aracaju (SE), onde ele mora, com destino a São Paulo.

“Com o atraso da entrega, a pessoa que vai receber a carga também perde vendas, por não receber o produto a tempo”, comentou. José dos Anjos disse que, na viagem, ficou parado por mais de 10 horas durante a noite na BR-251, perto de Salinas. “Um caminhão de óleo tombou na pista e o trânsito foi interrompido, aguardando a retirada”, detalhou.

Também natural de Sergipe, da cidade Itabaiana, o motorista de caminhão José Dílson, reclama que quase todas as vezes que percorre a BR-251 precisa preparar o bolso. “Por conta da precariedade da estrada, os prejuízos são constantes, principalmente com pneus estourados e com os atrasos. A gente tem que andar devagar, de 30 a 40 quilômetros por hora”.

De Curitiba, o caminhoneiro Juliano Barros reclama das condições da malha rodoviária federal em Minas Gerais, por onde sempre passa, fazendo transporte de cargas secas entre Paraná, São Paulo e Goiás. “Na Fernão Dias (BR-381), pagamos caro pelo pedágio, mas o asfalto tem muita trepidação e danifica os pneus”, exemplifica ele, que reclama também da lentidão no trânsito. Disse que, quando chega pela Fernão Dias vindo de São Paulo, demora de três a quatro horas para atravessar a Região Metropolitana de BH (passando por Betim e Contagem) para alcançar a BR-040 no sentido Brasília.

 Supermercado em Berilo sofre impacto no movimento e nos preços dos produtos Arquivo pessoalSupermercado em Berilo sofre impacto no movimento e nos preços dos produtos Arquivo pessoal© Fornecido por EM.com.br

Quem pode menos paga mais

 O aumento do custo de vida em função do valor elevado do transporte atinge em peso municípios mais afastados, com população de baixa renda. Nesses lugares, o preço das mercadorias no comércio já sofre impacto da elevação do frete, devido à maior distância dos maiores centros urbanos, onde as mercadorias são produzidas. As más condições das estradas pioram a situação.

É o caso de Berilo, no Vale do Jequitinhonha, onde a economia sofre impacto da situação crítica da BR-367, que corta a região. Conforme mostrou reportagem do Estado de Minas, depois de anos de promessas, trechos da rodovia federal continuam sem pavimentação. Um deles é o percurso de 26 quilômetros entre Berilo e Virgem da Lapa

O trecho, além dos percalços da poeira (no atual período de seca) e da lama (na época das chuvas), tem três pontes de madeira, igualmente em condições precárias, expondo motoristas de carros de passeio e de cargas ao perigo.

No mesmo segmento, veículos precisam passar dentro do leito do Córrego do Barbosa, porque a ponte que havia no local desabou há mais de 30 anos e nunca foi reconstruída.

Mais de 200 km para fugir da estrada de terra

Dono de Supermercado em Berilo, o comerciante Wagner Raimundo de Souza afirma que caminhões que fazem o transporte de mercadorias adquiridas na Ceasa-MG, em Belo Horizonte, fazem um desvio de cerca de 210 quilômetros para evitar a estrada de terra ao levar produtos até a cidade do Vale do Jequitinhonha.

Nesse percurso, pegam a perigosa BR-381, de BH a Governador Valadares, de onde seguem pela BR-116 até Itaobim. Lá, pegam o trecho pavimentado (que se encontra cheio de buracos) do município até Araçuaí, entram pela LMG-676 e passam por Francisco Badaró para, finalmente, chegar a Berilo. Segundo ele, com isso a viagem da capital à cidade do Jequitinhonha chega a 690 quilômetros. Sem o “desvio”, passando pelo “percurso normal” da BR-367, seriam 480 quilômetros.

O comerciante afirma que o aumento de preço em função das dificuldades do transporte afeta todos os produtos que comercializa, sobretudo, cereais como arroz e feijão e outros itens da cesta básica, como açúcar e óleo de soja, “por se tratar de produtos mais pesados”.

Pontes de madeira e desabastecimento

A professora aposentada Íris do Rosário Amaral Eleutério, moradora de Berilo, há anos lidera o Movimento Filhos do Vale, na luta pela pavimentação da BR-367 e por obras de concreto em substituição às velhas e precárias pontes da estrada.

Uma delas é a ponte sobre o Rio Araçuaí, situada na saída da cidade para Virgem da Lapa. Em setembro do ano passado, um motorista morreu depois que o caminhão que dirigia despencou de cima da travessia de madeira, caindo da altura de 12 metros no leito. Iris do Rosário afirma que a situação precária da estrutura contribuiu para a tragédia.

Após o desastre, a ponte de madeira passou por reforma. “Mas, daqui a uns tempos, vai estragar de novo”, diz Iris, cobrando a construção de uma travessia de concreto sobre o Rio Araçuaí.

A líder do Movimento Filhos do Vale disse que a situação do trecho não pavimentado da BR-367, acaba provocando falta de abastecimento no comércio de Berilo. “Devido às más condições da estrada de terra, os fornecedores não entregam produtos como roupas e sapatos na cidade”, afirma.

Ela argumenta que ainda por causa da “poeira e da lama” e da insegurança na travessia das pontes de madeira, moradores de comunidades rurais e de outros municípios evitam viajar para Berilo. “Com isso, o comércio também perde, pois fica sem ter para quem vender”, observa a professora aposentada.

Os prejuízos por conta das condições da BR-367 são sentidos também pelos comerciantes de Virgem da Lapa (na mesma região), como testemunha Jeferson Braz Alves Barroso, dono de uma loja de eletrodomésticos na cidade, da qual também é vice-prefeito. “Transportadoras evitam vir aqui, por causa da precariedade da estrada. Com isso, o comércio de Virgem da Lapa perde muito”, afirma.

Ele lembra que mesmo o trecho pavimentado da BR-367 entre Virgem da Lapa, Araçuaí, Itinga e Itaobim está muito danificado. “Entre Araçuaí e Itaobim, o asfalto praticamente acabou”, disse. “Turistas que viagem de Minas para as praias de Porto Seguro (BA) não querem mais passa por aqui. Linhas de ônibus que passavam também foram desativadas, devido à falta de condições da estrada. Com isso, as perdas são muito grandes, tanto para restaurantes e churrascarias quanto para o comércio em geral”, reclama.

Até o remédio custa a chegar

O vice-prefeito acrescenta que as dificuldades de acesso, principalmente em períodos de chuvas, impedem moradores de comunidades rurais de se deslocar até a sede do município para sacar pagamentos de aposentadorias e cuidar de outros afazeres. “As pessoas da zona rural têm dificuldades para ir à cidade até para fazer feira. Dessa forma, a economia do município fica para trás”, avalia o empresário e vice-prefeito.

A reclamação é reforçada por Clésio Kleber Prates Murta, dono de uma farmácia em Virgem da Lapa. “Com a dificuldade para passar pela estrada de terra, muita gente deixa de vir à cidade. E se as pessoas não vêm, deixam de comprar na loja, na farmácia ou na lanchonete”, declara Kleber, que afirma também perder vendas por causa do atraso na chegada de medicamentos. Foi o que ocorreu há pouco tempo, com o roubo de um carregamento que saiu de Belo Horizonte com destino ao Vale do Jequitinhonha e foi interceptado por ladrões na BR-116.

PUTIN ENCONTRA ALIADOS INCONDICIONAIS ENTRE AQUELES QUE GOVERNAM COM MÃO DE FERRO

 

História de Henry-Laur Allik – DW Brasil

Visitas à Coreia do Norte e ao Vietnã evidenciam padrão que está se consolidando desde a guerra da Ucrânia: Putin encontra aliados incondicionais entre aqueles que governam com mão de ferro.

Provided by Deutsche Welle

Provided by Deutsche Welle© GAVRIIL GRIGOROV/AFP/Getty Images

Sanções de países ocidentais e um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) limitaram muito a movimentação internacional do presidente da Rússia, Vladimir Putin. Restam poucos países para onde ele pode ir sem temer ser preso.

Desde que conquistou um quinto mandato como presidente, em março, em eleições que não foram nem livres nem justas, o presidente russo fez cinco visitas internacionais: a Belarus, Uzbequistão, China, Coreia do Norte e agora ao Vietnã.

Ou seja, mesmo com o apoio à Rússia significando risco de sofrer sanções, Putin ainda pode contar com aliados firmes, apesar de eles não serem muitos.

China

O principal parceiro comercial da Rússia, a China, anunciou uma parceria “sem limites” com a Rússia antes da invasão da Ucrânia e, depois desta, dobrou a aposta, pouco se importando com o impacto negativo que isso poderia ter sobre sua economia e imagem internacional.

A posição da China em relação à guerra na Ucrânia está longe de ser neutra. Seus esforços diplomáticos para convencer países a não participarem da recente cúpula de paz da Suíça sobre a Ucrânia – para a qual o país agressor não foi convidado – é apenas um exemplo disso. A própria China, claro, também não foi.

Ao longo do conflito, os chineses fizeram sua parte para manter a economia da Rússia funcionando, além de servirem como intermediários para produtos militares sancionados necessários para manter a máquina de guerra russa em funcionamento.

A China vê a Rússia como um parceiro estratégico para combater uma ordem mundial dominada pelos EUA e seus aliados. Putin visitou a China em maio deste ano, e o presidente Xi Jinping visitou a Rússia em 2023, quando deram um novo impulso as relações já calorosas.

Coreia do Norte

A Coreia do Norte pode ser um dos países mais isolados do mundo, mas nada que a impeça de forjar uma firme aliança com a Rússia de Putin. Afinal, para o ditador Kim Jong-un, qualquer aliado é melhor do que nenhum aliado.

O líder russo e o norte-coreano fecharam esta semana uma parceria de defesa que consolida o que o Kim chamou de uma “poderosa aliança”, incluindo a promessa de defesa mútua caso um dos países seja atacado.

A Rússia precisa de toda ajuda militar que puder obter na guerra da Ucrânia, e a Coreia do Norte, altamente militarizada, está pronta para fornecer armas sem fazer perguntas – países aliados a acusam de já ter feito isso, o que ambos os países negam.

A Coreia do Norte tem sido uma apoiadora sem restrições da Rússia na guerra contra a Ucrânia. Por exemplo quando as Nações Unidas votam resoluções contrárias às ações da Rússia na Ucrânia. A Coreia do Norte, ao contrário da China, sempre votou contra.

Belarus

Belarus é o aliado mais próximo e devoto da Rússia – ao ponto de alguns especialistas preferirem tratá-lo como “estado fantoche”, controlado por Putin. Seja como for, Belarus tem vários tratados e acordos com a Rússia, que é sua maior parceira econômica.

Belarus depende da Rússia em muitos níveis, desde a importação de petróleo e gás até subsídios econômicos.

Belarus também tem tropas e equipamentos militares russos estacionados em seu território e foi um dos locais de preparação para a invasão russa da Ucrânia, em 2022. O presidente Alexander Lukashenko, que já foi chamado de “o último ditador da Europa”, permitiu que a Rússia instalasse armas nucleares no país.

Irã

O Irã, assim como a Rússia, é alvo de fortes sanções internacionais dos países ocidentais. Nada mais natural que os dois países tenham uma forte aliança econômica e militar. De acordo com os serviços secretos dos Estados Unidos, a Rússia e o Irã intensificaram fortemente sua cooperação militar depois que a Rússia invadiu a Ucrânia.

O Irã forneceu à Rússia drones e munição, que são essenciais para a frente de batalha. Uma das raras visitas internacionais de Putin depois da invasão de 2022 foi ao Irã.

Após a morte do presidente do Irã, Ebrahim Raisi, em maio, Putin enviou suas condolências e disse que o via como um parceiro confiável que deu uma enorme contribuição para a expansão das relações entre os dois países.

Síria

A Síria é o bastião da Rússia no Oriente Médio, e o presidente Bashar al-Assad é um grande aliado de Putin. A Rússia estabeleceu uma presença militar regular no país, e o apoio militar russo foi decisivo para virar o jogo a favor de Assad na guerra civil da Síria.

Assad já disse que a guerra na Ucrânia é uma “correção na história e a restauração do equilíbrio que foi perdido no mundo após a dissolução da União Soviética”.

A Síria, assim como Belarus e Coreia do Norte, votou contra as resoluções da ONU para que a Rússia interrompesse a invasão.

Vietnã

O Vietnã e seu governo comunista são os mais recentes a estreitarem os laços com a Rússia. O país assinou um acordo de defesa estratégica com a Rússia durante a viagem de Putin pela Ásia, na qual ele tentou ampliar o alcance internacional da Rússia e discutiu comércio, defesa e a guerra na Ucrânia.

O Vietnã se esquivou de condenar a agressão russa na Ucrânia. Durante a visita, o presidente To Lam parabenizou Putin por sua reeleição em março e o elogiou por ter alcançado “estabilidade política interna”.

Putin disse que o fortalecimento de uma parceria estratégica com o Vietnã era uma das prioridades da Rússia.

Autor: Henry-Laur Allik

LEAD EM MARKETING É UMA OPORTUNIDADE DE NEGÓCIO

 

Entenda como implementar uma estratégia de marketing digital eficaz para identificar e captar leads para o seu negócio.

SEBRAE-MG

Em marketing digital, um lead é uma oportunidade de negócio. Lead é uma pessoa que fornece seus dados de contato em troca de uma oferta, que pode ser um e-book, ferramenta, newsletter, entre outros. Essa pessoa demonstra interesse pelo seu produto ou serviço quando preenche um formulário on-line, passando, assim, a ser um potencial cliente.

É preciso entender que o consumidor passa por etapas até chegar à tomada de decisão. É o que chamamos de funil de vendas. A primeira vez que uma pessoa entra em contato com um produto ou marca pode não ser o momento da venda, mas é uma oportunidade de conquista. 

A geração de leads serve, justamente, para inserir os potenciais clientes no funil de vendas e seguir nutrindo-lhes com conteúdo até a etapa da compra. Gerar leads é uma estratégia relevante para conquistar e fidelizar clientes. 

Visitantes, assinantes e leads

Qualquer pessoa que acessa o seu site ou landing page é um visitante. Geralmente, eles estão em busca de informações e chegam até o seu site por meio de buscadores ou de redes sociais. Essa é a primeira etapa do contato e é quando você precisa captar a atenção do potencial cliente com conteúdo de qualidade.

Já os assinantes estão na fase seguinte, depois que o visitante fornece os dados por meio de um formulário on-line. O assinante é aquele que demonstra interesse pelo seu produto ou serviço. É a pessoa que vai abrir seu e-mail ou entrar em contato por direct ou telefone. Ao tornar-se assinante, o consumidor passa a ser um lead. 

Ainda podemos seguir no funil e falar em:

MQL (Marketing qualified lead): são os leads que engajaram com o conteúdo enviado e reconhecem na sua empresa uma solução para o seu problema.

SQL (Sales qualified lead): é o lead qualificado para vendas, que já foi contatado pela área de vendas, por exemplo.

Como gerar leads? 

O marketing digital oferece inúmeras ferramentas para atrair e gerar leads. Separamos algumas estratégias que você pode utilizar para converter mais leads. Confira!

Blog

É uma das principais estratégias de marketing de conteúdo. Como muitos visitantes encontram os blogs quando estão em busca de informações, é interessante integrar a página com a geração de leads e incluir chamadas para ação (CTAs) para despertar o interesse pela marca ou produto.

E-mail marketing 

A base de contatos pode ser utilizada para envio de e-mail marketing. É possível enviar ofertas personalizadas e manter o relacionamento. Lembre-se que é preciso autorização do lead para recebimento de mensagens.

Tráfego pago

É o tráfego gerado por links patrocinados, anúncios ou mídia display. São canais que permitem uma melhor segmentação do público. As plataformas mais utilizadas são o Google Ads e o Facebook Ads.

Redes sociais

As redes sociais são ambientes para interação com o público. Você pode aproveitar para divulgar links do seu site ou blog e direcionar seus seguidores para a conversão. Também é possível iniciar uma conversa nos comentários ou pelo direct para aprofundar o relacionamento e obter o contato. 

Assinatura de newsletter

Quando a pessoa assina uma newsletter, ela já demonstra interesse pelo seu conteúdo ou marca. Você pode nutrir esse lead com conteúdo relevante e de qualidade, mantendo a relação por meio da newsletter. 

Conversão em landing page

É uma página específica na qual o visitante é direcionado quando clica em algum link de divulgação. A landing page deve ser focada na conversão do visitante em lead. Tudo é pensado para esse fim: o texto, as imagens, os CTAs. 

Vale ressaltar a importância de manter a sua base de e-mails sempre organizada e segmentada. Assim, você pode entrar em contato ou enviar conteúdo para os leads de forma mais personalizada e estratégica.

Como a Plataforma Site Valeon pode ajudar as empresas a crescerem

A Plataforma Site Valeon pode ajudar as empresas a crescerem de diversas maneiras:

1. Aumentando a visibilidade online:

  • Oferecendo um site profissional e otimizado para mecanismos de busca, aumentando a visibilidade da empresa na internet e atraindo mais visitantes.
  • Integração com ferramentas de marketing digital, como Google Ads e Facebook Ads, para alcançar um público mais amplo e direcionado.
  • Otimização do site para conversão, com formulários de contato e botões de ação que facilitam a interação com os clientes.

2. Melhorando a experiência do cliente:

  • Conteúdo informativo e relevante, que ajuda os clientes a encontrarem as informações que procuram e a entenderem os produtos e serviços da empresa.
  • Ferramentas de autoatendimento, como chat online e FAQs, que respondem às perguntas dos clientes de forma rápida e eficiente.
  • Design intuitivo e responsivo, que garante uma boa experiência de navegação em qualquer dispositivo.

3. Aumentando as vendas:

  • Integração com plataformas de e-commerce, permitindo que os clientes comprem produtos e serviços consultando diretamente no site.
  • Ferramentas de marketing automation, que automatizam o envio de emails e mensagens personalizadas para leads e clientes.
  • Análise de dados, que fornece insights sobre o comportamento dos clientes e ajuda a otimizar as campanhas de marketing.

4. Reduzindo custos:

  • Automação de tarefas repetitivas, como o envio de emails e a gestão de leads.
  • Otimização do site para SEO, que reduz a necessidade de investir em publicidade paga.
  • Integração com ferramentas de CRM, que ajuda a gerenciar o relacionamento com os clientes de forma mais eficiente.

5. Aumentando a produtividade:

  • Ferramentas de colaboração, como compartilhamento de arquivos e calendários, que facilitam o trabalho em equipe.
  • Integração com ferramentas de gestão de projetos, que ajuda a organizar e acompanhar o andamento das tarefas.
  • Automação de tarefas repetitivas, que libera tempo para os funcionários se concentrarem em atividades mais estratégicas.

A Plataforma Site Valeon é uma solução completa e acessível que pode ajudar empresas de todos os portes a crescerem.

Para saber mais, visite o site <valedoacoonline.com.br> ou entre em contato com a equipe de vendas pelo telefone (31) 98428-0590.

Contatos:

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domingo, 23 de junho de 2024

EVENTO JURÍDICO GILMARPALOOZA EM PORTUGAL

 

História de Levy Teles – Jornal Estadão

BRASÍLIA — O Fórum Jurídico de Lisboa, evento realizado na capital de Portugal pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e por isso batizado de “Gilmarpalooza” irá para sua 12ª segunda edição e reunirá representantes dos Três Poderes do Brasil, empresários do País e figuras notáveis lusitanas em painéis variados para discutir temas pertinentes ao Direito entre os dois países.

O “Gilmarpalooza” é organizado pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP) — que tem como sócio o próprio Gilmar —, pelo Instituto de Ciências Jurídico-Políticas da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (ICJP) e pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

Gilmar Mendes reúne principais autoridades brasileiras em Portugal em um evento anual. Foto: Andressa Anholete/STF

Gilmar Mendes reúne principais autoridades brasileiras em Portugal em um evento anual. Foto: Andressa Anholete/STF© Fornecido por Estadão

Segundo a organização do próprio evento, trata-se de um fórum jurídico anual “para dialogar sobre desafios, visões e diferentes modelos de sistemas jurídicos presentes em ambos continentes a partir de perspectivas variadas”.

Neste ano também estarão o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), líderes das duas Casas do Congresso Nacional, ministros do presidente Luiz Inácio Lula Silva, do Supremo Tribunal Federal (STF), do Superior Tribunal de Justiça (STJ), do Tribunal de Contas da União (TCU), governadores, entre outros.

Também são discutidos múltiplos temas pertinentes ao presente e futuro do Brasil. Entre os dias 26, 27 e 28 de junho, empresários, pensadores e políticos discutirão, entre outros temas, a separação dos Poderes, transição energética, conflitos globais, desinformação, inteligência artificial e a judicialização da política.

Autoridades brasileiras costumam usar recursos públicos para participar do Fórum em Portugal. Quatro ministros de Lula — Jorge Messias (Advocacia-Geral da União), Anielle Franco (Igualdade Racial), Vinícius Carvalho (Controladoria-Geral da União) e Luciana Santos (Ciência e Tecnologia) — confirmaram para o Estadão que estarão nos seminários. As viagens serão custeadas com verba pública dos ministérios.

Do lado da Suprema Corte, seis ministros estarão presentes, segundo informa o Fórum. São estes Cristiano Zanin, Luís Roberto Barroso, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Flávio Dino e Alexandre de Moraes. Os três últimos não confirmaram presença em resposta ao Estadão.

O STF explicou que somente o presidente ou quem estiver na representação da Presidência pode ter passagens e diárias internacionais custeadas pelo Tribunal. Barroso, porém terá seus custos pagos pela organização do evento e não receberá diárias. A Corte será responsável pela viagem de seguranças dos magistrados.

LULA VOLTA TURBINAR ESTADO EMPRESÁRIO COM AGENDA NAS ESTATAIS

 

História de José Fucs – Jornal Estadão

De meados de 2016 a 2022, nos governos Temer e Bolsonaro, o Brasil viveu um raro período em sua história de encolhimento do Estado empresário, com a retomada da privatização, ainda que em marcha lenta, a venda de diversas subsidiárias de estatais e a realização de concessões em série de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias.

Em pouco mais de seis anos, o número de estatais, que havia voltado a subir nos primeiros mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff, caiu quase pela metade, de 228 para 122, segundo dados oficiais. Com a aprovação da Lei das Estatais, em 2016, que restringiu a nomeação de políticos, dirigentes partidários e sindicalistas para o comando e o conselho de administração das empresas e bancos públicos, houve também uma certa melhoria na gestão e na governança, apesar dos malfeitos e das pressões de Brasília que continuaram a pipocar aqui e ali.

No governo Lula 3, o número de funcionários, as subvenções do Tesouro, o endividamento e o déficit primário das empresas públicas aumentaram, enquanto o lucro líquido e os dividendos diminuíram Foto: Wilton Júnior/Estadão

No governo Lula 3, o número de funcionários, as subvenções do Tesouro, o endividamento e o déficit primário das empresas públicas aumentaram, enquanto o lucro líquido e os dividendos diminuíram Foto: Wilton Júnior/Estadão© Fornecido por Estadão

Com a mudança de rumo, mesmo com eventuais percalços pelo caminho, parecia que uma nova era, centrada na iniciativa privada e na economia de mercado, estava se abrindo para o País. Mas, com a o retorno de Lula ao Palácio do Planalto, o novo ciclo foi interrompido abruptamente, antes que seus frutos pudessem ser totalmente colhidos. Passados quase 18 meses do governo Lula 3, o Estado empresário, que havia marcado os governos anteriores do PT, voltou a ganhar força.

“O governo Lula é movido ideologicamente. Não tem a menor preocupação com custos e com o aumento de produtividade, que é uma alavanca importante do desenvolvimento econômico”, afirma o economista Roberto Castello Branco, ex-presidente da Petrobras (2019-2021) e ex-diretor do Banco Central e da Vale, ele próprio pressionado por Bolsonaro para segurar os preços dos combustíveis e depois demitido do cargo por interferência do ex-presidente. “As empresas estatais são muito ineficientes. Veja o caso da Petrobras: em 2021, a Petrobras tinha 33 mil funcionários a menos do que no início de 2015 e estava produzindo mais petróleo do que produzia antes.”

Num artigo escrito em 2018, cujo conteúdo continua atual, Castello Branco resumiu o que para ele está em jogo nesta questão: “É inaceitável manter centenas de bilhões de dólares alocados a empresas estatais em atividades que podem ser desempenhadas pela iniciativa privada, enquanto o Estado não tem dinheiro para cumprir obrigações básicas”.

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Para o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), o fortalecimento das estatais tem o objetivo de aumentar suas contribuições para o crescimento econômico. “O governo federal valoriza as empresas estatais, buscando fortalece-las para que contribuam cada vez mais para o desenvolvimento do País”, diz o MGI, que herdou a Sest (Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais) do extinto Ministério da Economia, por meio de nota enviada à reportagem do Estadão. “Valorização, aliás, que pode ser encontrada nas principais economias do mundo e em órgão multilaterais como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) frente a desafios globais como os da transição ecológica e da reindustrialização.”

Embora o número de estatais tenha permanecido quase o mesmo até agora, passando das 122 existentes no fim de 2022 para as 123 em atividade hoje, devido ao “renascimento” da Ceitec, mais conhecida como “a empresa do chip do boi”, que estava em processo de liquidação, as iniciativas estatistas do governo Lula 3 se multiplicam em ritmo acelerado e seus efeitos já começam a aparecer no radar.

Pela primeira vez desde 2015, o número de funcionários das estatais não dependentes do Tesouro voltou a crescer. De janeiro de 2023 a março de 2024 (último dado disponível), quatro mil novos empregados passaram a integrar o quadro de pessoal das empresas e bancos públicos, conforme as informações da Sest, elevando o total de 434 mil para 438 mil – um aumento de 0,9% no efetivo em 15 meses.

Ao mesmo tempo, as subvenções destinadas às estatais dependentes do Tesouro deram um salto de 9% em 2023, bem acima da inflação, para R$ 23,9 bilhões, segundo a Sest. A dívida das empresas do setor produtivo não dependentes do Tesouro, que vinha em queda desde 2020 e havia atingido o menor patamar em dez anos em 2022, também teve um crescimento considerável, de 8,9%, chegando a R$ 319,5 bilhões em setembro do ano passado (dado mais recente disponível).

Em relação ao lucro líquido, os dados consolidados de 2023 ainda não foram divulgados pela Sest. Mas, quando se consideram apenas as cinco principais estatais (Petrobras, Banco do BrasilBNDESCaixa e Correios), houve uma queda no lucro líquido de 24% em 2023, para R$ 182,1 bilhões, principalmente em razão da redução de 33% no resultado da Petrobras, de R$ 188,3 bilhões para R$ 124,6 bilhões.

Déficit primário

No caso dos dividendos distribuídos aos acionistas privados e à União pelas sete estatais federais com ações negociadas em Bolsa – Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Seguridade, BB Seguridade, Banco da AmazôniaBanco do Nordeste e Telebras – a queda chegou a 42%, de acordo com dados da Elos Ayta Consultoria, passando de R$ 214,2 bilhões em 2022 para R$ 124,4 bilhões em 2023 (veja os gráficos abaixo). “Hoje, os números ainda não refletem totalmente o que está sendo implementado. É o início de um processo. No futuro, vai ficar pior”, afirma Castello Branco.

De acordo com o MGI, a soma do lucro líquido das principais estatais acaba por levar a distorções na análise. “Em 2023, bancos públicos, como o Banco do Brasil e a Caixa, tiveram grande crescimento em seu lucro líquido. A Petrobras, apesar da queda na cotação global do petróleo, bateu recordes de produção e teve o segundo maior lucro de sua história, demonstrando a importância das estatais para a economia brasileira.”

Pelas contas do Banco Central, porém, as estatais federais, excluída a Petrobras, registraram um déficit primário de R$ 656 milhões em 2023 ante um superávit de R$ 4,8 bilhões em 2022. Exceto por 2020, no auge da pandemia, quando houve um rombo de R$ 614 milhões, foi o primeiro resultado negativo desde 2017.

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Em seu terceiro mandato, Lula não está apenas seguindo o receituário heterodoxo que marcou a atuação das estatais nas gestões anteriores do PT (leia a segunda parte desta reportagem). Ele também está fazendo o que pode para promover um revogaço de tudo ou quase tudo que foi feito após o impeachment de Dilma, para reduzir a participação do Estado no mundo dos negócios e reforçar a profissionalização da gestão das empresas e bancos públicos.

De certa forma, parece que Lula quer governar como se pudesse dar continuidade ao governo Dilma no exato ponto em que ela o deixou. O presidente “se esquece”, no entanto, de que, na gestão de Dilma, o País enfrentou sua pior recessão em todos os tempos, com queda de acumulada de 7% no PIB (Produto Interno Bruto) em 2015 e 2016, devido, em boa medida, ao fracasso da agenda estatista adotada na época, que ele agora quer retomar.

“São visões diferentes de Brasil”, diz Martha Seillier, ex-diretora-executiva do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e ex-responsável pela secretaria especial do PPI (Programa de Parcerias de Investimento). “O grande motor da economia, que vai fazer o Brasil crescer, não vai ser o setor público, mas o setor privado, até porque a gente está numa crise fiscal profunda.”

Logo no começo do governo, Lula mandou cancelar todas as privatizações que estavam em andamento no PPI e até concessões que estavam prontas para ser realizadas, como a da Autoridade Portuária de Santos (antiga Codesp), que incluiria obrigações para realização de obras de dragagem, melhoria de acessos viários e ferroviários e construção do túnel Santos-Guarujá.

“A gente não iria privatizar o porto. Iria fazer a concessão para o setor privado da infraestrutura portuária, a um prazo longo, de décadas, e a privatização da estatal que é responsável pela gestão do porto”, afirma Martha. “Eu acompanhava as missões internacionais para conversar com investidores sobre os projetos que estavam mais avançados e via o interesse no mundo todo por um ativo como o Porto de Santos. Aí, o governo afasta o investidor privado e diz que o Estado é que vai fazer o projeto. Vai fazer com que recurso? De onde virá o dinheiro? Esta é a pergunta.”

Nomeações de políticos e correligionários

Além de paralisar as privatizações e algumas concessões na largada, Lula contornou a Lei das Estatais, nomeando políticos e correligionários do PT para a diretoria e o conselho de empresas e bancos públicos, amparado numa liminar concedida em março de 2023 pelo então ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Ricardo Lewandowski, hoje ministro da Justiça e Segurança Pública, em uma ação que questionava a constitucionalidade do dispositivo.

No mês passado, mais de um ano depois, ao julgar o mérito da ação, o STF considerou que a Lei das Estatais está em linha com a Constituição e, portanto, em pleno vigor. Apesar disso, o STF abriu uma exceção e deu seu aval para o presidente manter nos cargos quem foi nomeado antes do julgamento, mesmo que as nomeações estejam em desacordo com a legislação. “As ações do governo passam pelo pleno cumprimento da Lei das Estatais, a permanente fiscalização dos órgãos de controle e a consolidação dos mecanismos internos de governança de cada empresa” diz o MGI na nota enviada à reportagem.

Em outra iniciativa de judicialização das medidas adotadas nos últimos anos para conter o avanço do Estado empresário, Lula entrou com uma ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) no STF, por meio da AGU (Advocacia-Geral da União), com o objetivo de retomar o comando da Eletrobras, privatizada em 2022. Sua alegação é de que o modelo de corporation adotado na privatização, que limitou o direito de voto dos acionistas a no máximo 10% do capital, independentemente das participações acionárias de cada um, é lesivo à União, que ainda detém cerca de 42% das ações.

Em dezembro de 2023, o ministro Kassio Nunes Marques, relator da ADI no STF, determinou que a controvérsia seja resolvida por meio de acordo entre as partes e concedeu um prazo de 90 dias para que isso ocorresse. No início de abril, no entanto, como as partes ainda não haviam chegado a um acerto, ele prorrogou o prazo por mais 90 dias. A questão é que os interesses parecem inconciliáveis, já que o governo quer reassumir o comando, passando por cima da decisão do Congresso que estabeleceu as regras de privatização da companhia e dos acionistas privados que hoje respondem pela sua gestão.

Lula também tentou alterar o novo marco do saneamento, aprovado em 2020, que tornou mais atraentes para a iniciativa privada os investimentos no setor e estabeleceu metas de universalização do serviço até 2033. Seu plano, que visava liberar as empresas estaduais de saneamento para realizar a renovação de contratos sem licitação, só não foi adiante porque o Congresso resistiu à mudança, obrigando o governo a buscar uma saída negociada, sem alterar a essência do dispositivo aprovado pelo Legislativo, de ampliar a concorrência na área, para melhorar o atendimento à população.

Mantega na Vale

Hoje, nem empresas privadas, como a Vale, privatizada em 1997, estão a salvo do apetite estatista de Lula. No começo do ano, ele tentou aproveitar a troca de comando na mineradora para emplacar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega como seu presidente. E só não conseguiu porque, apesar de a Previ (fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil) ser o maior acionista da Vale, com uma participação de 8,7% no capital e dois representantes no conselho de administração, seus votos não são suficientes para impor aos demais integrantes do órgão a vontade de Lula, que tem laços antigos com os dirigentes da entidade.

Provavelmente, se o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) não tivesse vendido na gestão de Gustavo Montezano a fatia de 6,1% que detinha na Vale, reduzindo o poder de pressão do governo sobre o conselho, Mantega a esta altura estaria ocupando a sala do presidente da companhia. Foi a venda das ações da Vale pelo BNDES, hoje criticada pelo presidente da instituição, Aloizio Mercadante, que acabou por blindar a empresa contra incursões indesejadas de Brasília.

“A Vale não pode pensar que ela é dona do Brasil, não pode pensar que ela pode mais do que o Brasil”, afirmou Lula, depois de tomar conhecimento de que o conselho não aprovaria o nome de Mantega. “As empresas brasileiras precisam estar de acordo com aquilo que é o pensamento de desenvolvimento do governo brasileiro. É isso que nós queremos”, acrescentou, sem constrangimento, como se os empresários do País não tivessem a liberdade de definir o destino dos negócios que controlam, dentro das regras de mercado.

LULA SE ACHA CANDIDATO REDENTOR DO BRASIL

 

História de Notas & Informações – Jornal Estadão

Tem sido cada vez mais difícil para Lula da Silva encontrar um espaço em sua concorrida agenda de candidato – à reeleição, ao Nobel da Paz e ao Olimpo – para exercer a função de presidente da República, para a qual foi eleito por estreitíssima margem em 2022. Sabe-se que Lula não tem nem vontade nem traquejo para governar, pois seu hábitat é o palanque, e não o gabinete presidencial. Mas mesmo para os padrões do demiurgo, declarar-se candidato faltando ainda longos 30 meses para o fim de seu errático e preguiçoso terceiro mandato, como fez Lula há poucos dias, parece um pouco demais.

Lula, no entanto, claramente entendeu que precisa desde já tratar todos os crescentes problemas de seu governo e do País como resultado não de sua incompetência atávica e de sua visão antediluviana de economia, mas da sabotagem política dos “trogloditas” – nome que ele deu aos bolsonaristas – que almejam voltar ao poder.

Nesse terreno, em que tudo se resume à luta política, Lula joga em casa. Os seguidos ataques desferidos ao presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, são parte da manjada estratégia de arranjar um inimigo que incorpore todo o “mal” que Lula e o PT se julgam destinados a combater. As mais recentes declarações de Lula a respeito de Campos Neto não deixam margem a dúvidas: para o petista, o presidente do BC “tem lado político” e “trabalha muito mais para prejudicar do que para ajudar o País”. O “lado político”, claro, é o campo bolsonarista, do qual Campos Neto, lamentavelmente, nunca se afastou.

É fato que o presidente do BC deveria ter sido mais prudente e evitado que sua imagem se identificasse com este ou aquele grupo político, mas mesmo que Campos Neto fosse um dos Eremitas da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, ainda assim seria denunciado por Lula como o enviado do Cramulhão para sabotar o projeto petista de fazer do Brasil o Paraíso na Terra. E isso se dá porque Campos Neto foi nomeado para o BC pelo Cramulhão em pessoa.

Desse modo, sendo ele a chaga bolsonarista remanescente no coração do governo lulopetista, Campos Neto é desde sempre o candidato preferencial a bode expiatório para carregar todos os pecados do mundo. Lula foi claro: “Só temos uma coisa desajustada neste país: é o comportamento do Banco Central”. Em outras palavras, não fossem Campos Neto e os “trogloditas” aos quais o presidente do BC supostamente se alinha, o País de Lula estaria voando.

Como o nome de Campos Neto até mesmo começou a ser aventado para ser ministro num hipotético governo do bolsonarista Tarcísio de Freitas, Lula trata a prudência do BC em relação aos juros como se fosse politicamente motivada, destinada a prejudicar seu governo e preparar a volta dos tais “trogloditas” à Presidência.

Incapaz de enfrentar os problemas que se avolumam e que demandam desprendimento e espírito público, Lula reage do único jeito que sabe: antecipa a campanha eleitoral e se apresenta como salvador do Brasil.

De novo, quer que acreditemos que a democracia brasileira depende dele. “Se for necessário ser candidato para evitar que os trogloditas que governaram esse país voltem a governar, pode ficar certo que meus 80 anos virarão 40 e eu poderei ser candidato”, disse Lula à Rádio CBN. E disse mais: “Não vou permitir que este país volte a ser governado por um fascista. Não vou permitir que esse Brasil volte a ser governado por um negacionista como nós já tivemos”.

Ou seja, Lula se autoatribuiu a missão de impedir que o bolsonarismo ganhe a próxima eleição presidencial, como se disso dependesse o futuro do Brasil, quiçá do mundo. Nesses termos, é uma tarefa sobre-humana, que mais ninguém além dele, nem no PT, seria capaz de cumprir. “Como Deus existe, eu estou aqui”, disse Lula em evento na Petrobrás. Resta saber se ele quis dizer que sua existência é a prova da existência de Deus, ou – o que é mais provável – que ele e Deus são uma coisa só. De um jeito ou de outro, Lula mais uma vez se apresenta aos eleitores como aquele que se sacrifica para redimi-los. Mas o Brasil não precisa de um redentor. Precisa é de um estadista – e isso, definitivamente, Lula não é.

LULA E COMITIVA SÓ FICAM EM HOTEIS CAROS NO EXTERIOR

 

História de Projeto Comprova – Jornal Estadão

Conteúdo analisadoPostagens nas redes sociais e em um blog afirmando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, iriam se hospedar no hotel cinco estrelas Borgo Egnazia, onde a diária passa dos R$ 71 mil, durante viagem à Itália para participar de um encontro do G7.

Onde foi publicado: X, Instagram, YouTube, Threads, Facebook, Kwai e TikTok.

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a Primeira-Ministra da Itália, Giorgia Meloni, durante a cerimônia de recepção do encontro do G7. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a Primeira-Ministra da Itália, Giorgia Meloni, durante a cerimônia de recepção do encontro do G7. Foto: Ricardo Stuckert/PR© Fornecido por Estadão

Contextualizando: O presidente Lula (PT) e a primeira-dama Janja estiveram na Itália, nos dias 14 e 15 de junho, para cumprir agenda junto à cúpula do G-7, realizada no hotel Borgo Egnazia, na região da Puglia. O casal esteve no resort apenas durante a programação do evento e não ficou hospedado no local.

O resort é um complexo luxuoso com casas, apartamentos, restaurantes e jardins, com diárias que variam de 2.380 euros (R$ 13.822,00) a 3.520 euros (R$ 20.443,00). A conversão dos valores foi feita pela ferramenta disponibilizada pelo Banco Central seguindo a cotação do dia 20 de junho.

Conforme informado pela Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo federal, o presidente se hospedou no Sole in Me, que se descreve como um resort de luxo cinco estrelas situado na cidade de Ostuni, também na região da Puglia. O órgão se recusou a informar, contudo, o valor pago por cada diária do quarto do casal.

O Comprova verificou a diária mais cara no estabelecimento, na Suíte Embaixador, que custava 432 euros no dia 20 de junho, ou seja R$ 2.483,98. A reportagem identificou dois pagamentos feitos pelo Ministério das Relações Exteriores ao hotel, um em maio e outro em junho, para hospedagem de parte da equipe de Lula no contexto da preparação do presidente na cúpula do G-7. Os valores somam 60.500 euros (R$ 336.997,10). A Secom e o Itamaraty não informaram quantas pessoas ficaram hospedadas no local e por quantos dias.

Um terceiro pagamento também foi feito ao hotel, no valor de R$ 27.338,52, para aluguel de equipamentos como computadores e roteadores, além de contratação de cerimonial.

A reportagem fez a mesma busca no Portal da Transparência por pagamentos ao Borgo Egnazia, mas nada foi encontrado.

Antes da viagem, o jornal Folha de S.Paulo havia noticiado que o encontro da cúpula ocorreria no resort Borgo Egnazia, mas que o presidente brasileiro não ficaria hospedado no local. De acordo com o veículo, a sede do encontro teria sido escolhida pela primeira-ministra Giorgia Meloni, que hospedou no local Joe Biden (EUA), Emmanuel Macron (França), Olaf Scholz (Alemanha), Rishi Sunak (Reino Unido), Fumio Kishida (Japão) e Justin Trudeau (Canadá).

Lula participou do evento no hotel nos dias 14 e 15, realizando reuniões com diferentes lideranças, a convite de Giorgia Meloni.O G7 é composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, mas os eventos do grupo costumam contar com a presença de países convidados.

O colunista Cláudio Humberto e o site Diário do Poder, que também publicou nota sobre a hospedagem de Lula, foram procurados pela reportagem, mas não retornaram até esta publicação.

Fontes consultadas: A reportagem consultou o Portal da Transparência do governo federal, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) e o Ministério das Relações Exteriores. Também foram feitas tentativas de contato com os hotéis Borgo Egnazia e Sole in Me, além de cotados os preços das diárias do último. Por fim, o Comprova procurou também o colunista Cláudio Humberto e o site Diário do Poder.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O Comprova já explicou outro conteúdo que cita a viagem de Lula à Europa e mostrou que ele e a primeira-dama foram ao continente para cumprir agenda diplomática, e não para festejar o Dia dos Namorados. O projeto também checou anteriormente conteúdo desinformativo sobre valores pagos pelo governo brasileiro em diárias fora do país, informando que, em 2019, a hospedagem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em um hotel de luxo de Abu Dhabi não foi paga com dinheiro público brasileiro.

SINAIS PREOCUPANTES NA GESTÃO E GOVERNANÇA DAS ESTATAIS

 

História de José Fucs – Jornal Estadão

Por seu gigantismo e sua visibilidade, a Petrobras é um exemplo emblemático dos rumos que vem sendo dados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva às estatais, enquanto ele tenta viabilizar em outras frentes o revogaço das mudanças implementadas de 2016 a 2022 para conter a atuação do Estado empresário.

Embora a Petrobras tenha autonomia de gestão, Lula age como se fosse dono da empresa, dando pitacos na política de preços dos combustíveis, nos investimentos, na distribuição de dividendos e em tudo o mais que envolva a petroleira, símbolo maior do estatismo nacional.

“O presidente já falou um milhão de vezes que, tanto em relação à política de preços quanto em relação à política de investimentos da Petrobras, sendo uma empresa estratégica, ele vai atuar como o controlador”, disse recentemente o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista à CNN Brasil.

Interferência de Lula na Petrobras inclui retomada de obras da Refinaria Abreu e Lima, reativação da Araucária Nitrogenados, que havia sido desativada, e investimentos na indústria naval Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Interferência de Lula na Petrobras inclui retomada de obras da Refinaria Abreu e Lima, reativação da Araucária Nitrogenados, que havia sido desativada, e investimentos na indústria naval Foto: Pedro Kirilos/Estadão© Fornecido por Estadão

Amparado por uma liminar concedida em março de 2023 pelo então ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Ricardo Lewandowski, hoje ministro da Justiça e Segurança Pública, que suspendeu a Lei das Estatais até o julgamento de sua constitucionalidade pelo plenário, o que só ocorreu no mês passado, Lula conseguiu indicar velhos “companheiros” para ocupar cargos relevantes na empresa.

Apesar de o STF ter decidido que a Lei das Estatais, que restringe a nomeação de políticos, dirigentes partidários e sindicalistas para o comando de empresas e bancos públicos, está em conformidade com a Constituição, deu seu aval para o presidente manter nos cargos quem foi nomeado antes do julgamento, mesmo que as nomeações estejam em desacordo com a legislação em vigor.

“As ações do governo passam pelo pleno cumprimento da Lei das Estatais, a permanente fiscalização dos órgãos de controle e a consolidação dos mecanismos internos de governança de cada empresa”, diz o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), em nota enviada à reportagem do Estadão.

Por sua obsessão em ampliar a produção nacional de fertilizantes, mesmo que a iniciativa se mostre antieconômica, Lula também levou a Petrobras a retomar as atividades da Araucária Hidrogenados, que tinham sido paralisadas em 2020, porque a empresa só dava prejuízo. Ele também determinou a retomada das obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que já consumiu US$ 18,5 bilhões da estatal, e quer que a companhia ajude a alavancar a indústria naval brasileira.

“O Brasil não tem uma indústria naval competitiva. A China, a Coreia e o Japão têm uma tecnologia superior e produzem em larga escala para o mercado global e não para um mercado só e para um cliente só. Mesmo que o cliente seja grande, o custo da produção no País é superior, a qualidade não é tão boa, há atrasos na entrega e, no passado, isso já foi muito danoso para a Petrobras”, afirma o economista Roberto Castello Branco, ex-presidente da Petrobras. “É uma aposta no que já deu errado. O bom senso manda não fazer isso. Você pode errar, mas repetir erros é imperdoável.”

Também por pressão de Lula, a Petrobras conseguiu reverter uma decisão de 2019 do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) que determinava a venda de oito refinarias da empresa – das quais três (RLAM, Reman e Six) chegaram a ser repassadas para o setor privado no governo Bolsonaro – com a justificativa de que um mesmo controlador, no caso a própria estatal, não poderia manter ativos considerados potencialmente concorrentes.

Agora, com o novo posicionamento do órgão, a Petrobras poderá manter o controle das outras cinco refinarias que a empresa teria de vender. Além disso, a Petrobras cancelou a venda da refinaria Lubnor, em Fortaleza, que havia sido anunciada em maio de 2022, e estava em processo de conclusão, rescindindo o contrato firmado com o comprador, a Grepar Participações.

Imbróglio dos dividendos

Até a marca BR Distribuidora, licenciada para a Vibra Energia até 2029 quando da privatização da companhia, há três anos, o governo Lula quer retomar, para um eventual retorno da Petrobras ao mercado de distribuição de combustíveis, que o presidente defende com entusiasmo.

O imbróglio em relação ao pagamento de dividendos pela estatal, que recheou o noticiário algumas semanas atrás, é outro episódio que ilustra com perfeição a que nível chegou a interferência política na sua gestão. Em março, o então presidente da Petrobras Jean Paul Prates chegou a reter, com apoio de Lula, 100% dos dividendos extraordinários (R$ 42 bilhões) da empresa, alegando que os recursos eram indispensáveis para viabilizar seu plano de investimentos.

Haddad, no entanto, interessado em receber a parte da União nesse quinhão, para amenizar o rombo nas contas públicas, conseguiu convencer Lula a rever sua posição e no fim a Petrobras acabou aprovando a distribuição de 50% do valor que havia retido, de R$ 21,5 bilhões, dos quais R$ 6 bilhões foram destinados à União, controladora da companhia, segurando a parcela restante para pagamento futuro.

O episódio, porém, deixou sequelas. A resistência de Prates em distribuir os dividendos extraordinários e em realizar investimentos pesados para recuperar a indústria naval do País, como quer Lula, acabou levando à sua demissão e à indicação da ex-diretora-geral da ANP (Agência Nacional de Petróleo), Magda Chambriard, para substituí-lo. “Nossa gestão está totalmente alinhada com a visão do presidente Lula e do governo federal” disse a nova comandante da Petrobras, ao tomar posse no cargo, na quarta-feira, 19.

“O presidente da Petrobras está subordinado ao presidente da República, que costuma se julgar dono da companhia, e tem de conciliar interesses políticos com interesses econômicos, que são inconciliáveis”, afirma Castello Branco. “O presidente da República quer intervir nos preços, quer intervir na gestão do portfólio da empresa, quer investir em ativos que não fazem parte do negócio, quer influenciar as decisões da diretoria, dos executivos, da gerência. Então, é simples: ou a pessoa se subordina integralmente ao que o presidente da República quer ou então está fora, o que acaba gerando essas crises.”

Apesar de o governo Lula 3 ainda não ter completado dois anos, outras estatais também já apresentam sintomas preocupantes na gestão e na governança. Os Correios, por exemplo, cuja privatização estava na fase de consulta pública no PPI, colocaram o balanço do primeiro trimestre do ano sob sigilo, pela primeira vez na história. A medida teria sido tomada para esconder o enorme prejuízo registrado no período. De acordo com fontes da empresa, as perdas teriam chegado a R$ 800 milhões, puxadas pela alta das despesas gerais e administrativas, e superariam o rombo registrado no ano passado todo, de R$ 597 milhões.

O caso já teve repercussões no Congresso e ainda deverá gerar muito tititi. Em meados de junho, a deputada Bia Kicis (PL-DF) apresentou à Comissão de Desenvolvimento Econômico da Câmara uma proposta de fiscalização e controle para investigar possíveis irregularidades e apurar responsabilidades na gestão financeira e patrimonial dos Correios.

Por orientação de Lula, até os bancos públicos (BNDESCaixa e Banco do Brasil), que já foram protagonistas no mundo dos negócios nas gestões anteriores do PT, voltaram a entrar na farra estatista, com a liberação de financiamentos de R$ 56,4 bilhões a estados e municípios, para realização de obras de infraestrutura – uma quantia que supera a soma dos valores liberados pelas mesmas instituições nos quatro anos anteriores. “Tem gente que acha que o dinheiro do BNDES deveria ser devolvido para os cofres do Tesouro, quando na verdade o dinheiro é para investir”, disse o presidente em cerimônia realizada para anunciar os créditos, em dezembro do ano passado.

Lula "ressuscitou" a Ceitec, mais conhecida como "a empresa do chip do boi", que estava em processo de liquidação por só dar prejuízo Foto: Assessoria Ceitec

Lula “ressuscitou” a Ceitec, mais conhecida como “a empresa do chip do boi”, que estava em processo de liquidação por só dar prejuízo Foto: Assessoria Ceitec© Fornecido por Estadão

Lembrando os tempos em que o governo se metia no mercado de alimentos, controlando preços na canetada, na década de 1980, Lula forçou a realização de um leilão, que acabou anulado por suspeita de irregularidades, para compra de quase 300 mil toneladas de arroz importado pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), já rebatizada nas redes sociais de Arrozbras. O objetivo alegado pelo governo era conter uma suposta alta de preços provocada pela falta do produto – negada pelos produtores gaúchos – em razão das cheias que atingiram o Rio Grande do Sul.

Chip do boi

Mesmo depois do fracasso do primeiro leilão, que levou à demissão do secretário de Política Agrícola, Neri Geller, suspeito de envolvimento nas irregularidades, o governo não desistiu da compra do arroz importado. A ideia é vender o produto diretamente para supermercados, com preço tabelado em R$ 4 por quilo – um valor menor do que o preço médio cobrado hoje do consumidor – em uma embalagem com a logomarca do governo federal.

Depois de “ressuscitar” Ceitec, mais conhecida como “a empresa do chip do boi”, que estava em processo de liquidação, por nunca ter dado lucro desde a sua fundação, em 2008, Lula agora pretende criar uma espécie de Internetbras. Com a retirada de uma proposta do Ministério da Educação para contratar a Starlink, do empresário Elon Musk, para oferecer um sistema de acesso à internet por satélite a escolas localizadas em áreas remotas, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) decidiu incumbir a Telebras de oferecer o mesmo serviço. Detalhe: hoje, a Starlink é a única empresa do mundo que tem uma rede de satélites capaz de atender a necessidade do governo com conexão de alta velocidade.

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