segunda-feira, 24 de março de 2025

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

 



Prezados leitores,

Após anos dedicados a informar e entreter vocês por meio de nosso site, valeonnoticias.com.br, e nosso blog, https://blogmoyses.blogspot.com, é com grande tristeza que anunciamos o encerramento de nossas atividades.

Trabalhamos arduamente, diariamente, para trazer notícias relevantes e de qualidade, utilizando tanto conteúdos de agências de notícias quanto informações de diversas fontes. No entanto, enfrentamos desafios significativos na manutenção de nossos veículos de comunicação. Recentemente, recebemos comunicados extrajudiciais e enfrentramos processos relacionados a direitos autorais, especialmente no que diz respeito ao uso de fotografias. Isso nos fez refletir sobre os riscos e custos envolvidos em nossa pauta editorial.

Apesar de nosso esforço contínuo e do suporte de nossos fiéis leitores, não conseguimos viabilizar uma estrutura sustentável para a continuidade dos nossos trabalhos. Agradecemos sinceramente a todos que nos acompanharam nesta jornada e pedimos sua compreensão em relação a essa decisão difícil.

A comunicação é um pilar fundamental da sociedade, e temos orgulho de ter contribuído para isso, mesmo que por um período temporário. Desejamos a todos vocês o melhor, e agradecemos imensamente pelo apoio ao longo dos anos.

Atenciosamente,
Moysés Peruhype Carlech
valeonnoticias.com.br e blogmoyses.blogspot.com

domingo, 23 de março de 2025

O MUNDO DO GOVERNO E O CONGRESSO É UM MUNDO DIFERENTE DO MUNDO BRASIL

 

História de Notas & Informações – Jornal Estadão

Para quem levou meses para votar o Orçamento deste ano, o Legislativo demonstrou uma presteza ímpar na última quinta-feira. Em questão de horas, a Comissão Mista de Orçamento e o Congresso aprovaram a proposta após um acordo com a ministra Gleisi Hoffmann, que recentemente assumiu a Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República. Pudera. A negociação custou a bagatela de R$ 61,7 bilhões.

O Congresso fixou a verba reservada para as emendas parlamentares em R$ 50,5 bilhões. Mas deputados e senadores também terão voz na indicação de R$ 11,2 bilhões em despesas discricionárias do Executivo. Esses recursos poderão ser usados para retomar emendas de anos anteriores, as quais o governo havia se comprometido a pagar nas negociações para aprovação do pacote fiscal, no fim do ano passado, mas que haviam sido suspensas por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino, por falta de transparência a respeito da autoria ou do destino das indicações.

O pacto abriu caminho para destravar a apreciação da peça orçamentária, que caminhava para entrar no mês de abril sem ser aprovada. Sem o Orçamento, o governo só podia executar uma fração dos gastos previstos para o ano, equivalente a 1/18 avos. O boicote do Congresso chegou ao ponto de prejudicar a liberação de financiamentos do Plano Safra aos agricultores e exigiu do governo a edição de uma medida provisória, com abertura de crédito extraordinário, para evitar que as operações fossem suspensas.

Agora que o Orçamento foi finalmente aprovado, problemas como esse não devem se repetir, mas outros certamente surgirão. A proposta, afinal, continua com uma previsão otimista de receitas e uma projeção subestimada de despesas, e será difícil remanejar recursos para garantir que todos os gastos previstos sejam realmente executados.

O Pé-de-Meia, que concede bolsas a estudantes inscritos no Cadastro Único para incentivá-los a concluir os estudos e a fazerem o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), tem apenas R$ 1 bilhão para este ano. O programa ainda precisa de R$ 13 bilhões, a serem incluídos depois, por meio de um projeto de lei ou eventual remanejamento.

O Bolsa Família teve a verba cortada em R$ 7,7 bilhões para garantir dinheiro para o Auxílio Gás. Ninguém, no entanto, espera uma redução no número de famílias beneficiadas, mas apenas um pente-fino para apurar irregularidades.

Gastos com aposentadorias e pensões, Benefício de Prestação Continuada (BPC), seguro-desemprego e abono salarial foram suplementados, mas os valores reservados continuam insuficientes para arcar com o gasto previsto para o ano todo.

Quanto à arrecadação, o Orçamento projeta uma arrecadação de R$ 28,5 bilhões com julgamentos no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), ainda que eles tenham rendido apenas R$ 307,8 milhões ao governo no ano passado.

Também estão previstas receitas de R$ 20,9 bilhões com o aumento das alíquotas da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e do Imposto de Renda dos Juros sobre Capital Próprio (JCP), embora as propostas não tenham sido aprovadas pelo Legislativo.

E a despeito desse evidente descasamento entre receitas e despesas, os parlamentares ainda acreditam que o País encerrará o ano com um superávit de R$ 15 bilhões, prova de que o papel, de fato, aceita tudo. Já a Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado estima um déficit de R$ 15 bilhões.

Atingir um superávit estrutural entre receitas e despesas só será possível quando houver reformas, e não é isso que governo e Congresso almejam. Parece absurdo para um país como o Brasil contar com um Orçamento pouco realista, mas é isso que possibilita ao governo adiar ao máximo a necessidade de bloquear ou contingenciar despesas.

Para o Executivo, isso significa assegurar verba para os programas sociais que serão usados como bandeiras eleitorais de Lula da Silva, e para o Congresso, é o caminho para garantir o pagamento de suas emendas parlamentares. A contrapartida é uma taxa básica de juros a 14,25% ao ano, mas isso não parece incomodá-los.

PROJETO DE ANISTIA NA CÂMARA DOS DEPUTADOS E PREVISÃO DE VOTOS DOS DEPUTADOS

 

História de Gabriel de Sousa, Levy Teles e Weslley Galzo – Jornal Estadão

BRASÍLIA – Diante da possibilidade de o projeto de lei que anistia os condenados pelos atos de 8 de Janeiro ir a votação na Câmara, as bancadas do PT, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro, estão unânimes em posicionamentos opostos sobre o tema, que pode inclusive beneficiá-lo. Porém, o apoio do Centrão e as indefinições em partidos historicamente de esquerda podem pesar a favor de um eventual perdão aos extremistas.

Placar da Anistia do Estadão

Como mostra o Placar da Anistia do Estadão, levantamento exclusivo divulgado neste domingo, 171 deputados são favoráveis a anistiar os condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) envolvidos no 8 de Janeiro. Outros 115 parlamentares discordam da proposta. Optaram por não responder outros 92. A proposta em discussão é o projeto de lei 2.858/2022, de autoria do deputado federal Major Vitor Hugo (PL-GO).

O extremistas foram condenados a penas que chegam até a 17 anos de prisão por crimes como associação criminosa armada, dano qualificado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e deterioração de patrimônio tombado. Os que não participaram de atos violentos tiveram a oportunidade de firmar acordos de não persecução penal, com penas mais brandas e sem prisão.

O STF já responsabilizou 898 pessoas pelos atos golpistas de 8 de Janeiro, segundo relatório divulgado pelo gabinete de Alexandre de Moraes em janeiro. Os processos somam 371 condenações, além de 527 acordos com o Ministério Público Federal (MPF).

Estadão contatou todos os 513 deputados presencialmente, por telefone, via assessoria de imprensa e por e-mails enviados aos gabinetes. Até a publicação deste texto, três em cada quatro parlamentares (74%) responderam ao questionário. Outros 135 deputados não deram retorno. O levantamento é dinâmico, e será atualizado constantemente caso os parlamentares que não responderam se manifestem ou se houver mudança de posição.

O partido de Bolsonaro é o maior da Câmara, com 92 deputados. Na bancada, 70 disseram que apoiam a anistia e sete não quiseram responder. Outros 15 não retornaram.

Entre os 70 deputados do PL que apoiam a anistia, 50 acreditam que o benefício deve ser estendido a Bolsonaro e outros aliados denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR). A maioria do partido (54) também prefere que seja aprovada uma anistia total e somente sete concordam com uma redução das penas.

Já a sigla de Lula possui a segunda maior bancada, com 67 deputados. Entre os petistas, 59 disseram que votam contra a anistia, três não quiseram responder e outros cinco não retornaram.

Apesar da unanimidade no PT, partidos que comandam ministérios no governo Lula contam com deputados que apoiam a anistia. Um projeto que perdoa as penas de condenados e que está engavetado na Câmara possui brechas que podem livrar Bolsonaro, principal rival do petista.

O líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), anunciou na manifestação convocada por Bolsonaro no último dia 16 que iria pedir urgência na tramitação do projeto da anistia nesta quinta-feira, 20. Porém, ele recuou por falta de um acordo com o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB).

Republicanos, que comanda a pasta de Portos e Aeroportos com o ministro Silvio Costa Filho, tem 16 deputados favoráveis a anistia e somente um contrário. Os que não responderam somam 12 e 14 não atenderam a equipe de reportagem.

Apesar do posicionamento da bancada, o presidente do partido, deputado Marcos Pereira (SP), causou atritos com bolsonaristas ao afirmar, em uma entrevista à CNN na última terça, 18, que o projeto não deveria ser votado de imediato pelo fato de o processo não ter sido finalizado no STF. Aliado de primeira hora de Bolsonaro, o pastor evangélico Silas Malafaia chamou o dirigente partidário de “cretino”, ao que Pereira respondeu dizendo que o pastor é “uma espécie de Rasputin Tupiniquim”.

Já no MDB, partido que chefia os ministérios do PlanejamentoCidades Transportes, 16 deputados apoiam o perdão aos bolsonaristas. Apenas dois disseram que devem votar contra. Outros sete não quiseram responder e 17 não deram retorno.

Um dos emedebistas que apoiam a anistia é o deputado Alceu Moreira (RS). Ao Estadão, ele disse que os julgamentos contra os bolsonaristas são “perseguição política pura”.

Ele também citou o julgamento da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, que pichou a frase “perdeu, mané” na Estátua da Justiça, na frente do STF. Nesta sexta-feira, 21, o ministro do STF Alexandre de Moraes votou para condenar ela a 14 anos de prisão em regime inicial fechado.

“O golpe não houve. Se tem que identificar o crime para fazer dosimetria, tem que fazer o crime. Dar 14 anos para quem passou batom numa estátua não tem sentido. Não tem lógica. Esta é uma ação que não tem nada de processo judicial, não cumpre nenhum dos pré-requisitos. É perseguição política pura e vergonhosa”, disse.

União Brasil, que comanda as pastas do TurismoComunicações Integração Regional, tem 59 deputados. Procurados pelo Estadão, 22 disseram que apoiam a anistia e somente três disseram serem contra. Outros 18 não quiseram responder e 16 não deram retorno.

“O que eles fizeram é um crime inominável. Nossa democracia ainda é muito jovem e o que está acontecendo com essa autocracia é um momento delicado para que a gente transija sobre essas agressões às nossas instituições. Então sou contra a anistia para que as pessoas sejam punidas e nunca mais pensem em planejar um golpe em nosso país”, afirmou Luciano Bivar (PE), um dos três deputados do União que declarou voto contra o perdão aos condenados por depredar os Três Poderes.

Partido que comanda o Ministério dos Esportes, o PP também deve ser decisivo em uma eventual votação da anistia na Câmara. Na sigla, 16 apoiam o perdão aos golpistas e apenas um é contra. Optaram por não responder 14 deputados e 19 não atenderam a equipe de reportagem.

PSD, que comanda Pesca e Aquicultura, Minas e Energia e Agricultura, tem uma divisão maior entre a bancada. Dos deputados, 12 apoiam e seis discordam da anistia. Outros oito não retornaram e 18 preferiram não responder.

PSB e PDT têm deputados com posição indefinida

Entre o PSB, do vice-presidente Geraldo Alckmin, e o PDT, do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, nenhum deputado declarou abertamente que votaria a favor da anistia. Ainda assim, alguns de seus parlamentares podem dar votos para o perdão em uma deliberação na Câmara.

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No PDT, seis dos 18 deputados preferiram não responder se são contra ou a favor da anistia aos condenados por golpismo. Um dos parlamentares disse ser a favor da proposta, mas iria esperar uma deliberação da sigla. Outros cinco disseram que são contra o perdão e seis não deram retorno.

Já no partido de Alckmin, oito disseram que são contra a anistia e quatro não quiseram responder. Um deles foi o deputado Duarte Júnior (MA), que afirmou à equipe de reportagem que ainda “não definiu questão” sobre o tema.

Por outro lado, os deputados Pedro Campos (PE) e Mário Heringer (MG), líderes do PSB e do PDT, respectivamente, declararam votos contrários.

COLABORARAM ADRIANA VICTORINO E GABRIELA CARVALHO, ESPECIAL PARA O ESTADÃO

UCRÂNIA DESENVOLVE MÍSSIL DE LONGO ALCANCE E RÚSSI FICA EM ALERTA MÁXIMO

 

História de Realidade Militar – Realidade Militar

Em 14 de março de 2025, um ataque à refinaria de petróleo na cidade russa de Tuapse, localizada a 480 quilômetros da fronteira ucraniana, resultou no incêndio de um tanque contendo 20 mil toneladas de gasolina. O fogo, que se espalhou por mais de mil metros quadrados, levou três dias para ser controlado.

Embora autoridades russas tenham inicialmente classificado o incidente como um “acidente industrial”, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky revelou no dia seguinte que o ataque foi realizado com um novo míssil de longo alcance desenvolvido pela Ucrânia – o “Long Neptune”.

“Recebemos relatórios sobre nosso programa de mísseis. Temos resultados significativos. O ‘Long Neptune’ foi testado e usado com sucesso em combate. Um novo míssil ucraniano, um ataque preciso. O alcance é de mil quilômetros,” afirmou Zelensky em seu canal oficial no Telegram.

Desenvolvimento do míssil

O desenvolvimento do Neptune começou em 2015, após a anexação da Crimeia pela Rússia. Os engenheiros ucranianos partiram de um design soviético, o míssil Kh-35, e o aprimoraram significativamente, melhorando alcance, precisão e sistemas eletrônicos.

O míssil entrou em serviço com a Marinha ucraniana em 2021, pouco antes da invasão russa em larga escala. Em abril de 2022, dois mísseis Neptune afundaram o cruzador Moskva, navio-almirante da Frota Russa do Mar Negro, um navio de 186 metros que pesava cerca de 12.500 toneladas

Características do Long Neptune

A versão aprimorada, batizada de Long Neptune, apresenta melhorias significativas:

  • Alcance estendido para 1.000 quilômetros
  • Sistema de navegação que combina orientação inercial, GPS e radar ativo
  • Capacidade de detectar alvos a 20 quilômetros de distância
  • Ogiva com capacidade de 100 a 300 quilogramas de explosivos
  • Custo estimado de 1,5 milhão de dólares por unidade (comparado aos 4,5 milhões do Tomahawk americano)

Impacto estratégico

O alcance de 1.000 quilômetros do Long Neptune tem implicações estratégicas significativas:

  1. Permite à Ucrânia atingir aproximadamente 70% das refinarias de petróleo russas
  2. Coloca Moscou dentro do alcance dos mísseis ucranianos
  3. Cria uma “zona cinzenta” de 300 quilômetros em território russo, limitando operações aéreas russas
  4. Oferece à Ucrânia independência estratégica, sem as restrições impostas por armas fornecidas por aliados ocidentais

Produção e parcerias

De acordo com estimativas, a Ucrânia pode fabricar entre 30 e 60 Long Neptunes por mês em 2025. O presidente Zelensky afirmou que o país pretende produzir até 3.000 mísseis de cruzeiro este ano, incluindo diferentes tipos de mísseis e drones explosivos.

A Romênia já estabeleceu uma parceria para produção conjunta, e outros países europeus demonstram interesse na tecnologia ucraniana, uma vez que o Neptune é atualmente o único míssil superfície-superfície na Europa capaz de alcançar 1.000 quilômetros, com flexibilidade para ser lançado de plataformas terrestres, marítimas ou aéreas.

Reação russa

A resposta russa ao anúncio do Long Neptune foi imediata: navios da frota russa no Mar Negro foram temporariamente retirados das áreas costeiras, e depósitos de munição foram movidos para mais de 1.200 quilômetros da fronteira.

O ataque à refinaria de Tuapse parece ter sido escolhido estrategicamente, não apenas por representar aproximadamente 10% do petróleo exportado pela Rússia, mas também por sua proximidade (55 quilômetros) do palácio construído pelo presidente Putin em Gelendzhik.

Contexto político

O desenvolvimento do Long Neptune ocorre em um momento de incerteza sobre o apoio militar ocidental à Ucrânia, com pressões da administração Trump para um cessar-fogo. A capacidade de produzir armas sofisticadas domesticamente proporciona à Ucrânia maior independência estratégica.

Em suas palavras, Zelensky afirmou: “A Ucrânia está ficando mais forte, e continuamos trabalhando para garantir nossa segurança.”

Esta arma representa não apenas um avanço tecnológico, mas também um símbolo da determinação ucraniana em desenvolver soluções próprias para sua defesa, mesmo enfrentando um adversário com recursos significativamente maiores.

PLANO DE DUARDO BOLSONARO PARA PENALIZARMORAES NOS EUA

 

História de JULIA CHAIB – Folha de S. Paulo

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – O plano do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e aliados de Donald Trump contra Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), nos Estados Unidos inclui um possível processo no Departamento de Justiça mirando o ministro.

Além de sanções econômicas e medidas para bloqueio de visto, o roteiro considera que o órgão dos EUA, que tem funções de Ministério Público —órgão inexistente no país—, pode investigar o ministro pelo crime de conspiração contra direitos fundamentais.

Segundo um advogado próximo da gestão Trump, a lei prevê como delito que se conspire ou ameace uma pessoa nos Estados Unidos no sentido de impedi-la de exercer prerrogativas garantidas na Constituição, como a liberdade de expressão, sem que se tenha autoridade para isso

Esse advogado avalia que as ações do magistrado são uma tentativa de coação contra a liberdade de expressão. A pena para quem é condenado por esse crime varia de pagamento de multa a prisão por até dez anos.

O argumento é que Moraes se enquadraria na infração por ter emitido decisões que preveem a aplicação de sanções a empresas de redes sociais como o X e o Rumble, com ordens para fornecimento de informações sobre usuários e suspensão de contas sob pena de aplicação de multas, além de ter mirado pessoas nos EUA.

Integrantes da articulação no país têm tentado mostrar às autoridades que 14 indivíduos em solo americano foram alvo de Moraes, entre eles: Elon Musk, dono do X; Jason Miller, ex-assessor de Trump que foi detido num aeroporto brasileiro e ouvido no inquérito das fake news; Steve Bannon, que foi o principal estrategista do presidente americano e é citado no inquérito das milícias digitais; e os brasileiros que estão nos EUA Paulo Figueiredo, Rodrigo Constantino, Allan dos Santos e Ludmila Lins Grillo.

As informações constam num documento extenso, de mais de mil páginas, que está sendo levado a órgãos do governo com cópias de processos.

Na última semana, Moraes determinou às empresas Meta e X que informem à PF em até dez dias os dados de contas de perfis utilizadas pelo influenciador bolsonarista Allan dos Santos, sob pena de multa de R$ 100 mil por dia em caso de descumprimento. O ministro atendeu a um pedido da Polícia Federal em investigações sobre fake news contra uma jornalista.

Allan é considerado foragido desde 2021. Ao menos duas pessoas envolvidas na estratégia contra Moraes dizem ter ido prestar informações ao Departamento de Justiça, que estaria ciente da situação.

O presidente da comissão judiciária da Câmara americana intimou oito big techs a fornecer todas as decisões que poderiam significar tentativa de censura. A expectativa de aliados de Bolsonaro é que a medida revele outras ordens de Moraes que possam reforçar as acusações nos EUA.

O processo no Departamento de Justiça, se for consolidado, ocorreria em paralelo ao esforço por outras sanções contra o ministro.

Uma das apostas de bolsonaristas é que Moraes possa ser sancionado com base na chamada Lei Magnitski. A legislação, aprovada no governo Barack Obama, impõe restrições a vistos, congela contas e ativos dos alvos no exterior e impõe restrições financeiras a empresas.

A ideia seria que Moraes seja punido de modo parecido com as sanções aplicadas ao procurador do Tribunal Penal Internacional, Karim Khan, em retaliação pelo mandado de prisão contra o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu.

Khan não pode entrar nos EUA e recebeu uma sanção da Ofac, Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros, que pertence ao Departamento do Tesouro dos Estados Unidos. Com isso, ele teve eventuais bens nos EUA bloqueados e ficou impedido de fazer transações com instituições americanas.

O decreto de Trump determinando a sanção foi emitido em fevereiro.

A sugestão levada a integrantes da Casa Branca é por uma punição semelhante a Moraes, na qual mais pessoas poderiam ser incluídas em 120 dias. Isso porque bolsonaristas avaliam que delegados da Polícia Federal e o procurador-geral, Paulo Gonet, também teriam atentado contra a liberdade de expressão de pessoas e empresas em solo americano.

Eduardo Bolsonaro afirmou à Folha acreditar que a sanção é factível. Outras duas pessoas envolvidas na articulação também consideram uma questão de tempo para a punição. A reportagem não conseguiu resposta do Departamento de Estado nem do Departamento de Justiça a respeito das medidas.

A expectativa de um bolsonarista que está nos Estados Unidos é que o discurso ganhe mais corpo agora que Eduardo se licenciou do mandato por 120 dias, alegando temer a apreensão do seu passaporte e uma eventual prisão.

Em última instância, o objetivo da articulação bolsonarista é que eventuais sanções a Moraes provoquem pressão sobre o Judiciário brasileiro e levem a um recuo nas ações contra Bolsonaro e aliados, o que, por ora, é difícil de ocorrer. O ex-presidente terá sua denúncia pela acusação de ter tramado um golpe de Estado analisada pelo STF na próxima terça (25).

Na sexta (21), uma decisão do governo americano foi usada como exemplo por um aliado de Bolsonaro de como a possibilidade de sanção é real. O secretário do Departamento de Estado, Marco Rubio, baniu a entrada nos EUA da ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner, seus dois filhos e um dos ministros de sua gestão à frente da Casa Rosada.

Eles foram proibidos de entrar em território americano sob a acusação de “envolvimento em corrupção significativa”. Kirchner é uma das antecessoras de Javier Milei, que tem a simpatia de Trump.

A ARMADILHA QUE PUTIN ARMOU CONTRA TRUMP

 

História de The Economist – Jornal Estadão

Eles conversaram pelo telefone por mais de duas horas, mas Vladimir Putin deixou Donald Trump sem quase nenhum resultado para mostrar — um tapa na cara que somente um homem possuidor de coragem ilimitada poderia fingir que foi uma vitória. Uma semana antes, os negociadores dos Estados Unidos e da Ucrânia concordaram com um cessar-fogo de 30 dias em um conflito que já dura mais de três anos. Trump disse que, se a Rússia não assinasse, ele poderia atingi-la com novas sanções duras. No caso, ele cedeu. Até Boris Johnson, um ex-primeiro-ministro britânico que admira Trump, declarou que Putin está “rindo de nós”

Em vez de um cessar-fogo incondicional, Putin propôs apenas que ambos os lados parassem de atacar a infraestrutura energética um do outro, uma área em que a Ucrânia tem desferido alguns golpes pesados contra o invasor. Para que algo mais aconteça, diz o governo russo, a Ucrânia deve aceitar um congelamento na ajuda militar estrangeira e o fim do recrutamento e treinamento, embora a Rússia não proponha tais restrições a si mesma. Putin também quer uma solução para as “causas-raiz” do conflito, com o que ele realmente quer dizer o fim da existência da Ucrânia como um país independente. Essas não são as palavras de um homem que está ansioso para fazer concessões.

Os otimistas podem extrair disso um pouco de conforto. Uma pausa nos ataques a alvos de energia, acordada em uma ligação com Volodmir Zelenski, presidente da Ucrânia, é um pequeno avanço. Trump também sugeriu que as usinas nucleares passem para a propriedade americana, para sua proteção, e disse que tentaria obter alguns mísseis Patriot da Europa. Em público, ele se absteve de endossar as exigências mais severas de Putin para a Ucrânia.

O verdadeiro perigo está à frente. Putin quer que o presidente americano acredite que, como estadistas, eles têm peixes maiores para fritar do que ficar brigando por um lugar abandonado como a Ucrânia. Contanto que isso não atrapalhe, a Rússia e os EUA podem realizar quase tudo juntos. A Rússia poderia ajudar a resolver crises no Oriente Médio e além, talvez pressionando seu amigo Irã a abrir mão da bomba. O investimento americano em negócios russos, como exploração de gás no Ártico, poderia avançar. As sanções seriam suspensas e a Rússia poderia voltar a se juntar ao G7. Imagine se a Rússia fosse separada de sua “parceria sem limites” com a China. A “terceira guerra mundial”, uma preocupação constante de Trump, teria sido evitada.

Tudo isso é uma fantasia projetada para fazer Trump cair na tentação de entregar a Putin o que ele quer na Ucrânia em troca de promessas vazias. A realidade é que a Rússia agora depende mais da China do que jamais dependerá dos EUA, e não será separada dela. A influência da Rússia no Irã é limitada. A economia da Rússia é menor que a da Itália e sujeita aos caprichos de um déspota, o que significa que as oportunidades de negócios são escassas.

Pelo contrário, se em busca dessa quimera Trump aliviar a pressão que o Ocidente impôs à Rússia, os EUA perderão. Para começar, isso criará uma nova divisão entre os EUA e a Europa, que não seguirá Trump. A Ucrânia será desestabilizada, representando riscos para toda a Europa. As alianças e valores que os Estados Unidos têm defendido por décadas serão degradados, e os próprios Estados Unidos ficarão mais fracos como resultado disso. Trump pode se importar pouco com essas coisas, mas certamente ficará preocupado com o risco de parecer fraco, como seu antecessor Joe Biden fez quando o Talibã tomou conta do Afeganistão.

A ligação Putin-Trump ocorreu quando um cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos em Gaza estava se rompendo em meio a ataques israelenses. O estilo pessoal de diplomacia de Trump pode quebrar impasses, mas a pacificação parece muito cansativa e detalhada para que ele a leve adiante. O comunicado da Casa Branca sobre a ligação com a Rússia falou de “enormes acordos econômicos e estabilidade geopolítica quando a paz for alcançada”. Está claro o que Putin quer. É estranho que Trump pareça tão pronto a entregar isso a ele. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

sábado, 22 de março de 2025

JUSTIÇA ALEGA QUE OS PENDURICALHOS PAGOS POR ELS SÃO PREVISTOS NA LEI

 

História de ARTHUR GUIMARÃES DE OLIVEIRA – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes receberam em 2024 penduricalhos retroativos de órgãos do Ministério Público onde trabalharam antes da magistratura.

Ao longo dos 12 meses do ano, Moraes ganhou do MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo), onde ocupou o cargo de promotor de Justiça entre 1991 e 2002, um valor total líquido de R$ 177.645,76.

Decano da corte, Gilmar atuou como procurador da República pelo MPF (Ministério Público Federal) de 1985 a 1988. Nos meses de dezembro e março do ano passado, recebeu da instituição R$ 109.893,76 líquidos, segundo o portal de transparência.

A remuneração total líquida de Moraes no STF em 2024 foi de R$ 364 mil e a de Gilmar, de R$ 382 mil. Na prática, os recursos recebidos do Ministério Público turbinaram os rendimentos anuais deles em 49% e 29%, respectivamente.

O pagamento de penduricalhos no Judiciário que excedem o teto constitucional (R$ 44 mil em 2024 e R$ 46 mil em 2025, equivalente ao salário bruto de um ministro do Supremo) tem sido motivo de controvérsia após a divulgação de casos em tribunais que chegam a alcançar centenas de milhares de reais em um único mês.

Essas verbas que escapam do limite remuneratório incluem indenizações diversas, como auxílios para alimentação, saúde, moradia, abonos de permanência e outros direitos retroativos.

O fato de um magistrado como Moraes e Gilmar receber dinheiro por ter feito parte de carreira no Ministério Público, que é parte de processos no Supremo, enfrenta questionamentos de parte dos especialistas consultados pela Folha — outra parte considera ser um direito e diz não ver problemas.

Indagado, o MP-SP sustentou não haver a “mínima controvérsia”. De acordo com o órgão, as transferências a Moraes correspondem a pagamentos devidos em atraso que estão sendo quitados em cronograma adaptado à disponibilidade orçamentária da instituição.

“Esses atrasados são reconhecidos por lei e decisões judiciais”, diz, lembrando que a verba (que não entra na conta do teto do funcionalismo) foi reconhecida por decisão do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) no campo administrativo.

Da mesma forma, o MPF diz que esse tipo de pagamento é devido a pessoas que integram ou integraram o órgão em determinado período e que todos os pagamentos do Ministério Público da União, do qual faz parte, seguem estritamente as regras fixadas pelo CNMP.

Além do MPF e do MP-SP, a reportagem tentou ouvir o STF e os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes. Destes, somente o último retornou, dizendo em resposta do gabinete que oficialmente não iria se manifestar.

Para Rafael Viegas, cientista político, professor na FGV-SP e pesquisador na Enap, as associações de classe dessas carreiras atuam de tal forma, com estratégias de comunicação, lobby e advocacy em diversas frentes, que seria possível falar em conflito de interesses.

“As diferentes formas de interação que essas associações têm dentro e fora do Estado com órgãos públicos e privados nos possibilita aventar esse tipo de hipótese: de que faz parte da estratégia de determinadas associações beneficiar [autoridades] e influenciar potenciais decisões”, diz.

“Elas estão tão capilarizadas e o lobby que exercem é tão predatório que essa hipótese pode ser aventada. Não é uma fantasia. Não é algo fora da realidade, pelo contrário”, afirma. “[É] um tipo de corporativismo que não mede esforços para alcançar seus objetivos.”

O pesquisador se refere a entidades que defendem os interesses da carreira, como a ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República) ou a APMP (Associação Paulista do Ministério Público), da qual Moraes até foi secretário entre 1994 e 1996.

Em resposta, Ubiratan Cazetta, presidente da ANPR, diz que a ideia de que pode ser tudo uma estratégia de lobby é algo desconectado da realidade. “Fazemos nosso trabalho de convencimento, sim, mas não por meio de pagamentos retroativos a quem quer que seja.”

A APMP afirma em nota que “pauta sua atuação pelo respeito à legislação e aos princípios éticos” e que “defende os direitos e prerrogativas de seus associados em todas as frentes”, inclusive do ministro Alexandre de Moraes.

Juliana Sakai, diretora-executiva da Transparência Brasil, concorda que seria possível falar em um possível conflito de interesses, por se tratar de um interesse privado (recebimento de dinheiro) podendo influenciar uma decisão de um agente público.

Sakai lembra que há um problema constante de instituições como o CNMP ou o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), no caso do Judiciário, aprovando novos penduricalhos que acabam driblando o teto em benefício próprio.

A lógica é semelhante na Justiça e no Ministério Público. Leis, atos administrativos e medidas aprovadas pelos conselhos autorizam o pagamento de vantagens fora do limite constitucional ou limitadas a ele, mas que aumentam o ganho final.

“Este é mais um problema de: quem decide é o próprio beneficiado da decisão -uma excrescência em termos de boa governança e frontalmente contra o princípio da impessoalidade na administração pública”, afirma a diretora-executiva.

O advogado Felippe Angeli, coordenador de advocacy da Plataforma Justa, diz que um magistrado receber benefícios retroativos do Ministério Público não caracterizaria, por si só, um conflito de interesses.

“Entendo a controvérsia da questão, mas é um pouco ousado classificar diretamente isso como um conflito de interesses, porque o fato gerador é algo que ocorreu no passado, na profissão passada. E se é devido, é devido”, afirma o especialista.

No final, continua ele, embora a situação diga respeito a ministros do Supremo, a cúpula do Judiciário, a transição de carreiras e a própria evolução no âmbito do mesmo Poder são situações comuns ao mundo jurídico.

“Muitas vezes temos um jurista, seja juiz, promotor, advogado, que em outro momento estava do outro lado do balcão, advogados que ascendem aos tribunais pelo quinto constitucional e que foram muitas vezes partes contrárias em outras situações. Isso faz parte do modelo.”

O professor de direito administrativo Thiago Marrara, da USP de Ribeirão Preto, também diz não ver problemas ao considerar que os ministros têm um crédito reconhecido oficialmente por uma decisão, judicial ou administrativa, que diga respeito ao momento em que eles exerciam a função.

“Não haveria um conflito de interesse, porque esse não é um pagamento voluntário”, afirma. “Pode ser que tenha sido preciso reconhecer que, na época em que estavam vinculados à carreira, tinham direito a algo que o Estado não pagou. Então é feito o reconhecimento em processo administrativo ou judicial para poder pagar, mesmo depois. O fato de terem assumido outro cargo não retira esse crédito.”

CONDENAR UMA SRA. QUE PICHOU A ESTÁTUA EM FRENTE AO STF POR 14 ANOS É A MAIOR INJUSTIÇA FEITA NESSE PAÍS COMETIIDA POR QUEM DEVE FAZER JUSTIÇA

 

História de Notas & Informações – Jornal Estadão

Na tarde de ontem, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes votou para condenar a sra. Débora Rodrigues dos Santos a 14 anos de prisão. A cabeleireira de Paulínia, cidade do interior de São Paulo, não cometeu um crime de sangue. Tampouco aplicou um grave golpe na praça ou desviou milhões de reais em recursos públicos, como tantos que caminham livremente pelas ruas País afora. Armada com um batom, a ré pichou, na estátua da Justiça em frente à sede da Corte durante os atos golpistas no 8 de Janeiro, os dizeres “Perdeu, mané” – uma referência à infeliz frase dita pelo presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, a um bolsonarista que o admoestou em Nova York, em novembro de 2022. No mundo da justiça e da sensatez, foi este, e apenas este, o seu crime.

Já para a Procuradoria-Geral da República (PGR) e para o ministro Alexandre de Moraes, Débora dos Santos praticou cinco delitos gravíssimos: tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito; tentativa de golpe de Estado; associação criminosa armada; dano qualificado contra o patrimônio da União; e deterioração de patrimônio público tombado. Nada menos. Como exatamente ela praticou cada um deles tendo se comportado como se comportou naquele dia fatídico, parece não ter importância. Presa preventivamente, por ordem de Moraes, desde 17 de março de 2023, a ré agora está prestes a receber uma pena – caso a decisão do relator seja confirmada por seus pares – que ultrapassa, e muito, as penas a que foram condenados criminosos muito mais perigosos do que ela para a sociedade. Por si só, isso abala ainda mais a já desgastada imagem do STF aos olhos de muitos brasileiros de boa-fé que acompanham, atônitos, a forma como o STF tem conduzido os julgamentos dos atos golpistas.

Não resta a menor dúvida de que, por ter praticado atos tipificados como crimes pela legislação penal em vigor no País, Débora dos Santos deveria mesmo receber uma sanção judicial após o transcurso do devido processo legal – que, a rigor, deveria ter começado no foro indicado, qual seja, a primeira instância, e não a última, o que impede que a uma cidadã sem prerrogativa de foro seja plenamente assegurado o direito ao duplo grau de jurisdição. Mas a qualquer pessoa minimamente sensata, imbuída de boa-fé e, sobretudo, senso de justiça, uma pena tão draconiana como a imposta à ré pelo ministro Alexandre de Moraes não passa nem sequer por razoável, que dirá por justa. Lamentavelmente, e não apenas para o STF, mas para todo o País, senso de justiça é o que faltou ao sr. Moraes no julgamento desse caso.

Não há virtude maior para um juiz do que o senso de justiça. No julgamento de um caso concreto, o magistrado não se limita – ou não deveria se limitar – à aplicação mecânica da lei. Julgar implica um exame profundo das circunstâncias e das consequências da decisão a ser tomada, a culminação de uma exegese equilibrada que não por acaso tem uma balança como símbolo. Ao se debruçar sobre as provas trazidas aos autos e ouvir os argumentos da acusação e da defesa, um juiz há de ter a habilidade de enxergar além da letra da lei. Chega a ser constrangedor para este jornal ter de colocar essas palavras no papel diante de um caso sendo julgado por nada menos do que a mais alta instância judicial do País.

Malgrado não ser, como já foi dito, a sede adequada para o julgamento de Débora dos Santos e tantos outros cidadãos envolvidos no 8 de Janeiro que não têm foro especial por prerrogativa de função, ainda há tempo para que o colegiado do STF corrija a flagrante injustiça do ministro Alexandre de Moraes. Deveria ser ocioso dizer que a aplicação da lei deve ser feita com equilíbrio, razoabilidade e sensatez. Nada disso há no voto condenatório do sr. Moraes.

No caso concreto de Débora dos Santos, o STF deve refletir profundamente sobre a real gravidade de sua conduta, da qual a ré já se desculpou por escrito tanto à Corte como à Nação. A um tempo, o Supremo não só preservará a função social da pena, como evitará uma sobrecarga punitiva que mais parece um recado simbólico do que, de fato, um ato de justiça.

LULA LEVA A CÚPULA DO CONGRESSO E UMA ENORME COMITIVA DE PARLAMENTARES E EMPRESÁRIOS PARA VIAGEM AO JAPÃO E VIETNÃ

 

História de Felipe Frazão – Jornal Estadão

BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai levar uma comitiva de parlamentares que inclui a atual e a antiga cúpula do Congresso Nacional para o outro lado do mundo. Lula decola neste sábado, dia 22, para o Japão, em seguida visita o Vietnã.

Os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e seus aliados e antecessores, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e Arthur Lira (PP-AL), foram convidados pelo Palácio do Planalto e vão integrar a comitiva. Será a primera viagem neste mandato com esse peso político.

Lula convidou os quatro nomes mais influentes do Congresso para viagem à Ásia, entre eles Hugo Motta e Davi Alcolumbre

A viagem ocorre no momento em que Lula ainda não concluiu toda a reforma ministerial desenhada nos bastidores, também sob influência política dos quatro. Pacheco e Lira chegaram a ser cogitados como ministeriáveis, o que não se confirmou.

Eles poderão conversar longamente durante o trajeto. Os parlamentares viajam com Lula, a partir de Brasília, no avião KC-30, um A330-200 da Força Aérea Brasileira (FAB), a aeronave de maior autonomia da frota nacional. A depender da rota, a viagem pode durar cerca de 30 horas cada perna.

O governo federal dispensou o uso do “aerolula”, o A319, que geralmente é a primeira opção para os deslocamentos do presidente, mas possui menor capacidade e cobre distâncias menores. A aeronave também apresentou pane recentemente, quando Lula voltava do México, o que o obrigou a passar horas no ar com pouca comunicação.

A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, também faz parte da comitiva, assim como ministros de Estado. Ela, no entanto, já viajou antes, junto da equipe precursora, o Escav.

Como o Estadão antecipou, o presidente deve ser acompanhado por uma delegação empresarial com cerca de 100 executivos de empresas brasileiras e associações empresariais, entre elas a Embraer e a JBS, interessadas nos mercados japonês e vietnamita. A Única, do etanol, e a Abiec, da carne bovina, também participam.

Além deles, Lula convidou mais parlamentares que vão acompanhar as agendas públicas e de negócios nas capitais japonesa, Tóquio, e vietnamita, Hanói, ao longo de toda a próxima semana. Com isso, as atividades do Congresso devem ser esvaziadas.

Presidente do Grupo Parlamentar Brasil/Japão, o deputado Luiz Nishimori (PSD-PR) já viajou para acompanhar empresários. O Planalto também deve levar representantes do PT e do PCdoB para encontros com Partido Comunista do Vietnã – Lula será recebido pelo secretário-geral do PCV.

A previsão é que a primeira missão brasileira à Ásia neste ano seja encerrada no dia 29 de março. Lula planeja fazer mais incursões no oriente em busca de alternativas à guerra comercial e tarifária disparada por Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, e também como forma de recado à China. Malásia e Indonésia fazem parte do roteiro em elaboração.

O presidente tem buscado melhorar a relação com parlamentares, e deu início a uma reforma ministerial que provocou a transferência de Alexandre Padilha para o comando da Saúde, dando lugar a Gleisi Hoffmann na Secretaria de Relações Institucionais.

Por via de regra, os convites e a lista são elaborados pelo núcleo político do Palácio do Planalto, agora liderado por Gleisi. O Estadão solicitou a lista dos convidados e eventuais confirmados à Presidência da República e à Secretaria de Relações Institucionais, mas os órgãos não responderam.

Fórum Empresarial

Um dos pontos altos da viagem será o discurso de Lula para empresários brasileiros e japoneses. Ele vai participar do Fórum Empresarial Brasil-Japão, organizado no dia 26 de março pelo Itamaraty, em parceria com a CNI (Confederação Nacional da Indústria) e a sua equivalente japonesa. O seminiário ocorrerá no hotel New Otani Tokyo, uma locação cinematográfica.

Uma lista da CNI confirma 98 empresas presentes, pelo lado brasileiro, entre elas gigantes de setores como siderurgia, automotivo, alimentos, aeroespacial, logística, energia, entre outras. O Itamaraty estima ao todo cerca de 500 executivos na plateia.

Veja a lista:

3M

Abatedouro Coroaves Ltda

Abiec

Acauã Armazéns Gerais LTDA

AGFA FUNDO DE INVESTIMENTOS EM PARTICIPAÇÕES MULTIESTRATÉGIA

Agroindustrial Iguatemi LTDA

ALBRAS ALUMINIO BRASILEIRO S.A.

Allm Inc.

ANFAVEA

Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FRIGORÍFICOS

Associação Brasileira de Proteína Animal – ABPA

Atvos

Atvos Agroindustrial

Atvos Bioenergia

Atvos Brenc

Barra Mansa Comércio de Carnes e Derivados LTDA

BCSL Advogados Associados

BEAUVALLET GOIAS ALIMENTOS LTDA

Bmg foods

BowerGroupAsia

BP bioenergy

BP Japan K.K.

Braskem

BRF

BRF S.A.

Cachaça Council Japan

Citrosuco Asia Pacific

Comesul Beef Agroindustrial ltda

Cooperativa dos Agricultores Familiares de Poço Fundo e Região – COOPFAM

Copersucar SA

Dilumix Industrial Ltda

Embraer

Energis 8 Brasil

Energis 8 Renewables

EPICENTOR Ltda

Eve Air Mobility

Fazenda amizade agropecuária Ltda

Fazenda Seu Lulu

FERTITRADING INDUSTRIA DE FERTILIZANTES LTDA.

FRIALTO – Vale Grande Ind. e Com. S.A.

Frigoestrela

Frigoestrela S/A

Frigol

Frigol S.A.

Frigorifico Astra do Paraná LTDA

FRIGORÍFICO BETTER BEEF

Frigorifico Silva

FS

FUJIARTE Co., Ltd.

Ind . e Com. de Alimentos Supremo Ltda

Instituto Nacional do Plástico

IRMÃOS GONÇALVES COM. E IND. LTDA.

ITOCHU Plantec inc.

JAPAN TOBACCO INTERNATIONAL

JBS

JBS S/A

Kanemats Corporation

Kanematsu Corporation

LIA

Licks Attorneys

Machado Meyer Sendacz e Opice Advogados

Masterboi ltda

Melody International Ltd.

MERCURIO ALIMENTOS S.A.

Minerva Foods

Minerva Foods. S.A

MTempo Capital

Mynarski International Valuation

NATURAFRIG FOODS

Nippon Koei LAC do Brasil

Petrobras Transporte S.A. – TRANSPETRO

Philip Morris International

Prumo Logistica

Prumo Logistica SA

Raizen

Ramax Group

Razen Asia Pte. Ltd.

Seara Japan (JBS)

Seara Japan LLC

SebigasCotica

SSA Alimentos S/A – SuperFrango

SUPREMO CARNES

Systemiq | Aya Earth Partners | Instituto Aya

Takeda Brasil

TMI Associates

Toyota

Toyota do Brasil

Toyota Latin America and Caribbean

TozziniFreire Advogados

Transpetro

Unica

Vale

Vale Grande Industria e Comércio de Alimentos SA

Vale S.A.

WEG Electric Motors Japan Co.,Ltd

WTFB – World Trade Foods & Beverage

XYPD DO BRASIL EMBALAGENS LTDA

MORRE GEORGE FOREMAN CAMPEÃO NO BOX E NO EMPREENDEDORISMO

 

História de Bruno Silva – Areavip

George Foreman (Reprodução/Instagram)

George Foreman (Reprodução/Instagram)

Morreu nesta sexta-feira (21), aos 76 anos de idade, a grande lenda do boxe, George Foreman, que foi duas vezes campeão mundial dos pesos pesados.

A notícia foi dada pelos familiares de George Foreman, por meio das redes sociais. A causa da morte, porém, não foi informada.

“Nossos corações estão partidos. Com profunda tristeza, anunciamos o falecimento do nosso amado George Edward Foreman Sr., que partiu pacificamente em 21 de março de 2025, cercado por entes queridos. Um pregador devoto, um marido dedicado, um pai amoroso e um orgulhoso avô e bisavô, ele viveu uma vida marcada por fé inabalável, humildade e propósito. Um humanitário, um atleta olímpico e duas vezes campeão mundial dos pesos pesados, ele era profundamente respeitado — uma força para o bem, um homem de disciplina, convicção e um protetor de seu legado, lutando incansavelmente para preservar seu bom nome — para sua família. Somos gratos pela demonstração de amor e orações e pedimos gentilmente privacidade enquanto honramos a vida extraordinária de um homem que tivemos a bênção de chamar de nosso”, diz o texto compartilhado pelos familiares.

George Foreman, vale dizer, foi um renomado pugilista norte-americano. Ele nasceu em 10 de janeiro de 1949, em Marshall, no Texas, e teve uma infância marcada por dificuldades financeiras.

O ex-boxeador iniciou a carreira no boxe amador, e conquistou uma medalha de ouro na categoria peso-pesado durante os Jogos Olímpicos de 1968 na Cidade do México.

E foi no ano de 1973, que ele alcançou o seu auge ao derrotar Joe Frazier e conquistar o título mundial dos pesos-pesados. Depois de dar uma pausa no boxe em 1977, ele voltou aos ringues, dez anos depois, em 1987.  Em 1994, aos 45 anos, ele acabou se tornando mais uma vez campeão mundial dos pesos-pesados ao vencer Michael Moorer.

Depois que se aposentou, ele se dedicou ao empreendedorismo e ao ministério religioso. Ele fundou o George Foreman Youth and Community Center em Houston, no Texas, e ficou conhecido por promover a ‘George Foreman Grill’, uma grelha elétrica que levou seu nome e alcançou grande sucesso comercial.

ANISTIA AMPLA GERAL E IRRESTRITA PARAO 8/1

 

História de Clarissa Pacheco – Jornal Estadão

Texto atualizado às 8h35 de 22 de março de 2025 para incluir explicação sobre caso dos vereadores

Era uma terça-feira, dia 28 de agosto de 1979, quando o último dos presidentes do regime militar brasileiro, João Figueiredo, assinou a Lei 6.683/1979, conhecida como Lei da AnistiaEla perdoava todos os crimes políticos ou conexos a eles cometidos entre 2 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979 – o que significava que todos aqueles que tinham tido seus direitos políticos suspensos e que tinham sido punidos até aquele momento pelos Atos Institucionais e Complementares da ditadura militar estavam livres.

No último domingo, 16, a orla de Copacabana, no Rio de Janeiro, recebeu uma manifestação em favor da anistia para os envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 e para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), denunciado por tentativa de golpe de Estado. Logo depois, uma frase escrita numa cartolina se espalhou feito mantra nas redes sociais: “Anistiados de 1979 são os ditadores de hoje”.

Outras postagens fazem comparações entre os dois momentos históricos e mostram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva usando uma camisa pró-anistia durante a ditadura. Há até quem alegue que a lei de 1979 alcançou apenas os militantes de esquerda contrários ao regime militar, sem perdoar os agentes da ditadura — o que é falso.

O banco de dados Anistiados Políticos, da Comissão Nacional de Anistia, aponta que, dentre os 39.960 requerimentos de anistia deferidos até dezembro do ano passado, 4.514 contemplaram membros das Forças Armadas. Outros 277 anistiaram integrantes de Forças Auxiliares, como Polícia Militar, Bombeiros e Guardas, e 53 alcançaram membros das polícias Civil, Federal e Rodoviária Federal.

Aqueles que atuaram diretamente na militância em organizações de resistência à ditadura são menos numerosos: são 356 militantes anistiados, além de outros 281 integrantes do Grupo dos Onze – uma organização de esquerda.

Entre os anistiados também há professores (586), camponeses (354), jornalistas (340) e bancários (217), dentre outros grupos profissionais perseguidos durante o regime (veja mais abaixo).

Mas, afinal, o que foi a Lei da Anistia de 1979, por que o caso dela é diferente da situação mais recente e por que, além dos perseguidos, os algozes da ditadura também foram perdoados? O Verifica conversou com especialistas para entender como se deu o perdão político no final do regime militar brasileiro ocorrido de 1964 a 1985.Torcida do Corinthians com faixa com os dizeres "Anistia ampla, geral e irrestrita" antes da partida contra o Santos, válida pelo Campeonato Paulista, realizada no estádio do Morumbi,São Paulo, SP. 11/02/1979. Foto: Domício Pinheiro/ Estadão

Torcida do Corinthians com faixa com os dizeres “Anistia ampla, geral e irrestrita” antes da partida contra o Santos, válida pelo Campeonato Paulista, realizada no estádio do Morumbi,São Paulo, SP. 11/02/1979. Foto: Domício Pinheiro/ Estadão

Como começou a luta pela anistia na ditadura?

A Lei da Anistia de 1979 não é a única deste tipo no Brasil, e sim a mais recente. Talvez seja a mais importante, junto com a lei que perdoou os adversários de Getúlio Vargas durante o Estado Novo e os implicados na Intentona Comunista, de 1935.

De acordo com o historiador Carlos Zacarias de Sena Júnior, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), as anistias no Brasil começaram no século XIX e foram bastante significativas no período da República.

Normalmente, começavam a ser pleiteadas cedo, o que não foi diferente na ditadura militar de 1964 a 1985. “Um movimento pela anistia se coloca já em 1964, haja vista que o regime militar perseguiu opositores e cassou direitos. Então a anistia é reivindicada logo em seguida”, disse.

O historiador Felipe Duccini, que pesquisa anistia no Brasil e é autor do livro A luta pela anistia na Bahia, cita como exemplo de uma das primeiras vozes a favor da anistia o jornalista, intelectual e militante católico Alceu Amoroso Lima, que escrevia com o pseudônimo de Tristão de Athayde. Segundo ele, neste primeiro momento, pedir anistia não significava, necessariamente, ser contra a ditadura.

Mesmo assim, a pauta não vingou porque o regime se tornou mais violento, especialmente a partir de 1968, com o Ato Institucional (AI) 5, que suspendeu direitos e abriu caminho para o endurecimento da repressão. Assim, o movimento pela anistia só voltou a ganhar força uma década após o início da ditadura, quando o general Ernesto Geisel assumiu o poder e começou a falar em uma abertura “lenta, gradual e segura”.

“Os movimentos sociais se sentem relativamente impulsionados e seguros para fazer essa movimentação pela anistia, então surge o Movimento Feminino pela Anistia (MFPA), que tem em Therezinha Zerbini a figura mais notável”, afirmou Zacarias.

Therezinha era casada com um militar, o general do Exército Euryale Zerbini, que foi cassado pela ditadura logo no início do regime, pelo AI-1. Ele havia se declarado legalista e contra o golpe de 1964.

De acordo com Felipe Duccini, Therezinha aproveitou o protagonismo feminino do ano de 1975, declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como Ano Internacional da Mulher, para lançar um manifesto pela anistia e fundar o MFPA.Therezinha Zerbini chegou a ficar presa durante seis meses em 1970, período em que conviveu com a hoje presidente Dilma Rousseff no Presídio Tiradentes Foto: Fernando Pereira/Secom SP

Therezinha Zerbini chegou a ficar presa durante seis meses em 1970, período em que conviveu com a hoje presidente Dilma Rousseff no Presídio Tiradentes Foto: Fernando Pereira/Secom SP

Quem se organizou a favor de uma anistia?

O Movimento Feminino pela Anistia cresceu com a criação de diversos núcleos estaduais, e em 1978 foi formado o Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA). Segundo Duccini, após a criação do CBA, o lema “Anistia Ampla, Geral e Irrestrita” se popularizou, embora houvesse divergências e visões diferentes sobre o que se esperava da anistia.

Mesmo com as divergências, a mobilização ganhou fôlego ao longo dos anos 1970. Cartazes em favor da anistia pediam “a liberdade imediata dos presos políticos, a volta de todos os exilados e esclarecimentos sobre os mortos e desaparecidos”.

Manifestações se espalharam pelo Brasil e até um show de Caetano Veloso em Salvador, no Teatro Vila Velha, marcou a campanha. Em 1978, apoiadores da anistia colhiam assinaturas a favor da pauta em eventos culturais.

O historiador Paulo César Gomes, fundador do site História da Ditadura, relembra a mobilização popular no Brasil e no exterior pela anistia. “Os debates pela anistia começaram a representar primeiro os mortos e desaparecidos. Depois, as pessoas que estavam presas, e havia muitos presos quando a lei foi promulgada”, apontou.Cartaz pedia anistia "ampla, geral e irrestrita" na década de 1970 Foto: Reprodução

Cartaz pedia anistia “ampla, geral e irrestrita” na década de 1970 Foto: Reprodução

Em que momento os algozes da ditadura também foram incluídos na anistia?

Com o passar do tempo, o Movimento pela Anistia alcançou amplos setores da sociedade e se tornou o primeiro movimento social de relevância durante a ditadura militar. Isso, é claro, chamou a atenção do regime.

“A partir do momento que o regime militar percebeu que a anistia se tornou a principal pauta da discussão política e que a oposição estava avançando consideravelmente com essa pauta, o general Figueiredo encaminhou ao Congresso Nacional uma proposta de anistia considerada aceitável pelas Forças Armadas”, apontou o historiador Duccini.

A proposta de Figueiredo não anistiava os condenados por crimes de terrorismo, assalto, sequestro e atentado pessoal, considerados crimes de sangue e atribuídos aos opositores do regime. Ao mesmo tempo, a lei dizia que quaisquer crimes conexos com os crimes políticos estavam anistiados.

“Isso foi interpretado como suficiente para isentar os responsáveis pelas mortes e torturas do regime”, completou o pesquisador.

Zacarias lembra que, como o Congresso Nacional na época era dominado pela Arena, partido formado por aliados do regime militar, os agentes da ditadura foram incorporados ao projeto de anistia e o Congresso acabou votando uma lei que contemplava tanto vítimas como algozes.

“A correlação de forças não permitiu que aqueles que reivindicavam uma anistia ampla, geral e irrestrita interditassem os militares de serem contemplados”, disse o historiador. “Naquele contexto, os militares foram incorporados por decisão dos próprios militares, que salvaguardaram a eventualidade de serem punidos em seguida”.

Para Paulo César Gomes, isso significou dar certa equivalência entre as pessoas perseguidas pelo regime e os que violaram os direitos humanos em nome do Estado.

No final das contas, o primeiro artigo da Lei da Anistia de 1979 concedeu perdão a todos os que cometeram crimes políticos ou conexos entre 2 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979.

O perdão se estendeu “aos que tiveram seus direitos políticos suspensos e aos servidores da Administração Direta e Indireta, de fundações vinculadas ao poder público, aos Servidores dos Poderes Legislativo e Judiciário, aos Militares e aos dirigentes e representantes sindicais, punidos com fundamento em Atos Institucionais e Complementares”.

Quantas pessoas foram beneficiadas pela anistia?

Não há um número fechado de pessoas beneficiadas, uma vez que ainda há requerimentos sendo analisados – até 4 de março deste ano, eram 4.836 pedidos aguardando análise pela Comissão de Anistia. O jornalista Vladimir Herzog, por exemplo, morto pela ditadura em outubro de 1975, foi reconhecido como anistiado apenas no último dia 18, 50 aos depois de seu assassinato.O jornalista Vladimir Herzog na época em que trabalhou no Estadão; ele foi morto em 1975 e anistiado somente em março de 2025 Foto: Jacques Mezger/Instituto Vladimir Herzog

O jornalista Vladimir Herzog na época em que trabalhou no Estadão; ele foi morto em 1975 e anistiado somente em março de 2025 Foto: Jacques Mezger/Instituto Vladimir Herzog

Atualmente, a Comissão de Anistia mantém uma planilha com informações de Anistiados Políticos no site de Dados Abertos do Governo Federal. Lá, é possível consultar o status de cada pedido, o nome dos anistiados e a que grupo eles pertenciam.

Até dezembro do ano passado, eram 80.357 pedidos de anistia, dos quais 39.960 tinham sido deferidos. Destes, 4.514 beneficiaram militares das Forças Armadas, mas isso não quer dizer que todos eles foram agentes da ditadura.

Segundo a historiadora Carolina Rezende, doutoranda em História no Centro de Pesquisas Históricas da Escola de Estudos Superiores em Ciências Sociais, em Paris, e na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), os dados sobre militares anistiados são restritos.

“Muitos militares foram cassados e muitos fizeram pedidos de anistia, mas você não vai encontrar dados de militares responsáveis por violações de direitos humanos”, afirmou. “Porque simplesmente o Poder Judiciário interpretou que a anistia de 1979 significava o perdão, o esquecimento dos crimes da ditadura e impedia a responsabilização quando havia ação”.

Os números da Comissão de Anistia englobam, em tese, anistiados políticos de 1946 a 1988 – um período entre Constituições. O Verifica procurou o Exército, a Marinha e a Aeronáutica, individualmente, para saber o número de anistiados em cada uma das forças, mas só o Exército e a Marinha responderam até a publicação desta reportagem. Há 313 anistiados ainda vivos no Exército e 489 na Marinha.

Há, ainda, entre os pedidos deferidos, vereadores (22.102), funcionários de empresas públicas e de economia mista (4.432), funcionários de empresas privadas (1.485), estudantes (1.113), categorias profissionais diversas (1.220), militantes de organizações de resistência à ditadura (356), menores perseguidos (153) e servidores da administração pública direta (600).

Carolina Rezende observa que o número de vereadores é tão alto porque um dos atos institucionais da ditadura estipulava que os vereadores não teriam mais remuneração. Na Lei da Anistia de 1979, um artigo dizia que eles tinham direito a contar o mandato como tempo de serviço para a aposentadoria, daí o número tão elevado.

Quanto ao total de requerimentos de anistia, Rezende lembra que o número de pedidos é muito maior – mais de 80 mil, atualmente – e que o fato de muitos deles terem sido negados não significa que as pessoas não foram perseguidas.

“Muitas vezes existe uma dificuldade em apresentar provas de perseguição política, como acontece muito em caso de trabalhadores demitidos por participar de greves, como aconteceu com petroleiros”, sinalizou.

Por que a sociedade brasileira aceitou o perdão aos militares?

De acordo com o historiador Carlos Zacarias, muitas pessoas na época, inclusive grupos de esquerda, queriam “passar uma borracha” no passado.

“Havia setores que pretendiam que o regime militar ficasse para trás e que o Brasil se reencontrasse com a democracia”, disse. “Eles entendiam que esse reencontro passaria por passar uma borracha no passado, não acalentar ressentimentos, não buscar revanchismos”.

Apesar disso, mesmo após a lei de anistia, houve diversas tentativas de responsabilização, sem sucesso. Para quem segue tentando punição aos integrantes do regime militar, aponta Zacarias, é impossível enxergar a anistia como esquecimento.

“São as vítimas diretas da ditadura, os perseguidos políticos, os que sofreram tortura, os familiares de mortos e desaparecidos”, lembrou. “Essas pessoas não podem esquecer e foram elas que, nesse primeiro momento, acusaram e permaneceram lutando para que essa anistia que tinha sido aprovada pela lei 6.683 não permanecesse dessa forma”.

De acordo com o relatório final da Comissão Nacional da Verdade, foram 434 mortos e desaparecidos e 6.016 torturados durante a ditadura. Porém, o próprio documento indica que o número pode ser maior.

É possível reverter o alcance da lei de 1979?

O texto da Lei da Anistia de 1979 não incluía nenhum tipo de reparação pela perseguição aos anistiados, nem mesmo financeira. Na Constituição de 1988, a anistia foi contemplada no artigo 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Neste momento, ela aparece como um direito do perseguido político de 1946 a 1988.

Mais tarde, em 1995, no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) é publicada a Lei 9.140, conhecida como Lei dos Mortos e Desaparecidos, que estabelece uma reparação pecuniária aos familiares dessas pessoas.

Também sob FHC, em 2002, a Lei 10.559 estabelece um cálculo para indenização aos anistiados que foram perseguidos, perderam seus empregos, suas vagas em universidades etc.

Apesar das tentativas, não houve reinterpretação por parte do Poder Judiciário sobre o alcance da Lei de Anistia de 1979. Ou seja, para a Justiça, os militares que participaram de violações de direitos humanos continuaram a não ser punidos.

Hoje, o Supremo Tribunal Federal (STF) analisa dois casos de repercussão geral que tratam do tema. Há quem acredite que é possível, sim, haver uma reinterpretação da lei.

O primeiro caso, que tem o ministro Flávio Dino como relator, envolve uma denúncia do Ministério Público Federal no Pará contra os tenentes-coronéis do Exército Lício Augusto Ribeiro Maciel, acusado de matar, em 1973, “mediante emboscada e por motivo torpe”, três opositores ao regime militar e de ocultar seus restos mortais, e Sebastião Curió Rodrigues de Moura, acusado de atuar na ocultação dos cadáveres entre 1974 e 1976.

O entendimento de Dino foi de que o STF deverá analisar o alcance da Lei de Anistia de 1979 sobre crimes permanentes. Para ele, a ocultação de cadáver não é um crime encerrado, e sim uma ação que se prolonga no tempo.

“A manutenção da omissão do local onde se encontra o cadáver, além de impedir os familiares de exercerem seu direito ao luto, configura a prática do crime, bem como situação de flagrante”, disse. A posição foi acompanhada pelos demais ministros.

Outro caso que também pode provocar uma reinterpretação na lei diz respeito ao assassinato e desaparecimento de Rubens Paiva. O relator do caso no STF é o ministro Alexandre de Moraes, para quem os crimes de sequestro e cárcere privado também são permanentes e não devem ser abrangidos pela Lei da Anistia.

Para Zacarias, há boas chances de uma reinterpretação. “Eu acho que há já uma percepção da sociedade de que nós não podemos seguir adiante sem rediscutir os termos da Lei da Anistia, a forma como ela foi implementada, o benefício que ela concedeu aos agentes da ditadura”, disse. “Acho que o reforço da vitória do filme Ainda Estou Aqui no Oscar é muito importante”.

Paulo César Gomes acredita que, se houver uma reinterpretação da lei de anistia, será mesmo agora. “Do ponto de vista mais analítico e menos opinativo, com todas essas movimentações jurídicas depois do 8 de Janeiro, se a Lei da Anistia não for reinterpretada neste momento, dificilmente vai ser em outros”, opinou.

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Quais as diferenças entre a anistia de 1979 e os casos do 8 de Janeiro de 2023?

Uma das principais pautas de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro tem sido a anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. O Verifica consultou juristas sobre o assunto, e eles apontam que, dificilmente, crimes contra o Estado Democrático de Direito seriam anistiados.

O advogado Henrique Attuch, criminalista do Wilton Gomes Advogados, diz que há crimes que a Constituição proíbe anistiar.

“De forma expressa, a Constituição Federal delimita que apenas os crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes, terrorismo e os denominados hediondos não são suscetíveis de anistia”, listou. “Contudo, em razão de uma questão de coerência interna do texto constitucional, entendo que também os atentados contra a ordem democrática não podem ser anistiados”.

Segundo ele, os legisladores constituintes, que fizeram a Constituição de 1988 em verdadeira contraposição ao regime político anterior, estruturaram o Estado Democrático de Direito a partir de princípios que devem se manter inabaláveis.

“Assim, não faria sentido interpretar a Constituição de modo a concluir cegamente que ela dispensaria um tratamento menos gravoso àqueles que atentem contra sua própria existência”, disse.

O também advogado Belisário dos Santos Júnior, sócio de Rubens Naves Santos Jr. Advogados e ex-secretário de Justiça do Estado de São Paulo, aponta que não há sentido em comparar a anistia concedida aos perseguidos pela ditadura militar e a pleiteada hoje pelos envolvidos no 8 de Janeiro.

“Essa anistia de 1979 e depois a anistia da convocação da Constituinte de 1985, elas vêm no entorno de uma transição para o regime democrático”, citou. “Essa transição olha para os crimes políticos praticados por oponentes do regime autoritário com benevolência, porque a situação já mudou. Aquelas pessoas já se incorporaram à vida normal e aqueles crimes nem são mais considerados crimes”.

Não é este o caso do 8 de Janeiro, segundo Belisário. “A anistia que hoje se pede é para para crimes praticados contra o Estado Democrático de Direito”, lembrou.

“Ninguém duvida que nós vivemos uma democracia. Nós não estamos vivendo nenhuma transição”, afirmou. “Os crimes (cometidos no 8 de Janeiro) hoje ainda são considerados crimes e, portanto, não podem ser anistiados”, disse.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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