sexta-feira, 1 de outubro de 2021

CORRUPTO TERÁ VIDA MAIS TRANQUILA COM A NOVA LEI

 

Lei da Improbidade

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo

Senado aprovou projeto que modifica a Lei de Improbidade Administrativa| Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado

O Senado Federal aprovou projeto de lei que facilita a vida do corrupto brasileiro. Felizmente, o texto terá que voltar para a Câmara porque foi alterado. O projeto alivia para aquele corrupto que faz assim: vai levando que eu vou fingir que não vejo. Para ser punido tem que haver dolo, ou seja, intenção de praticar corrupção. Agora quem for corrupto por omissão, incompetência, imprudência ou negligência, aí não tem problema. Felizmente, repito, isso volta para a Câmara.

Gás social
A Câmara aprovou projeto que cria o gás social, que ainda vai para o Senado. É uma ajuda para os mais pobres que estão com dificuldade para comprar o gás de cozinha. Depois de aprovado pelo senadores, caberá ao Ministério da Cidadania regulamentar isso, para definir quem tem direito ou não. A única coisa definida é que o auxílio será pago num período não superior a 60 dias.

Enquanto isso, o Conselho de Administração da Petrobras aprovou uma verba de R$ 300 milhões para um programa de 15 meses de auxílio-gás. A Petrobras reconhece que o gás está caro. Sem alterar o preço, o combustível continua subindo. Subiu 5% agora. O gás está caríssimo.

O preço mínimo do botijão de 13 kg é R$ 75, segundo a Agência Nacional de Petróleo, no Nordeste. No Centro-Oeste é R$ 130. Preço médio de R$ 98. E não é só aqui. Lá na Inglaterra subiu quase 300%; na Alemanha e na França subiu por volta de 150%.

É a inflação dos países que contiveram demais a economia na pandemia. Aqui a nossa inflação é menos, sinal que a “economia a gente vê depois”, mas a gente conseguiu ver antes. O FMI achava que a gente ia ter uma queda de 9% no PIB e a queda ficou em metade disso, e este ano vai se recuperar, vai subir 5%.

Passaporte vacinal 
Um vereador de Maricá (RJ), que foi impedido de entrar na Câmara de Vereadores porque não tomou vacina contra Covid-19, conseguiu uma liminar no Tribunal de Justiça para suspender o tal passaporte vacinal. O desembargador Paulo Sérgio Rangel do Nascimento concedeu habeas corpus coletivo, ou seja, serve para todo mundo, para exercer o direito de ir e vir previsto na Constituição.

O desembargador lembrou em sua decisão o tempo da escravidão em que escravos não podiam entrar em certos lugares. E lembrou também da Alemanha nazista, quando judeus precisavam de salvo conduto para poder circular no seu próprio país.

Santa Catarina já tinha deixado de lado o passaporte e sido mais realista. O governo disse: “não, espera aí. Se precisar exigir um lugar em que vai haver grande aglomeração, exige-se o exame de anticorpo”.

Óbvio, porque se não veja: o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, por exemplo, estava com o passaporte vacinal. Ele podia entrar em qualquer lugar, mas mesmo assim estava com Covid.

NOTA DO EDITOR: O presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, derrubou a liminar que havia suspendido o passaporte da vacina em Maricá nesta quinta-feira (30).


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PARTICIPAÇÃO DOS DESIGUAIS NOS IGUAIS

Por
Francisco Razzo – Gazeta do Povo

Cronograma de Carga e Lacração – preparação da urnas para o 2° turno das Zonas Eleitorais do Paraná – Tags: eleições2018, eleições, voto, sulfrágio, Tribunal, urna eletronica. Fotos: André Rodrigues

Urnas eletrônicas usadas no processo eleitoral.| Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo / Arquivo

Não há nada mais difícil para a vida de uma república do que dar aos desiguais plena participação política entre os iguais. Como ironizava George Orwell em A Revolução do Bichos: “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros”. Trata-se da implacável crítica ao regime da tirania dos porcos: o stalinismo. Afinal, o igualitarismo compulsório é um dos maiores atentados contra a natureza, não só dos bichos como a humana – o livro de Orwell é um fábula pra gente grande.

A propósito, a PEC da reforma eleitoral 2021 acaba de ser aprovada no Congresso. Alguns grupos comemoram como se ela representasse “a maior reforma eleitoral da história da democracia brasileira”. Obviamente, refiro-me a “temas sensíveis”, como cotas raciais e de gênero, financiamento de campanha e outros tantos tópicos de interesse republicano. Sensível mesmo é este tópico: para incentivar candidaturas de mulheres e negros, os votos a essas pessoas serão contados em dobro para fins de distribuição de recursos do fundo partidário.

Políticas identitárias têm fetiches por abstrações. “Negros” e “mulheres” são conceitos que forçam todo um processo social de igualação do não igual. Entre si, mulheres são substancialmente diferentes umas das outras. Entre negros isso não é diferente. Ou todos os negros e mulheres são iguais uns aos outros?

À primeira vista, a solução para incentivar mulheres e negros a participar da vida política parece atraente. A despeito da igualdade dos cidadãos parente a lei, o importante é saber tratar com justiça as desigualdades. Se não me engano, foi Aristóteles o autor do insight de que a justiça da polis consiste em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais. Os especialistas devem encontrar boas razões para que desiguais sejam tratados em suas desigualdades e os iguais, em suas igualdades. Mas precisamos ter cautela com isso.

Por exemplo, sei que existe uma delicada distinção entre igualdades formais e igualdades sociais ou materiais. Na perspectiva da lei, todos são iguais; socialmente falando, há profundas desigualdades. Ora, não se pode querer corrigir desigualdades sociais destruindo a igualdade perante a lei. Não há república sem o princípio de isonomia. Até Aristóteles sabia disso. De fato, não se pode tratar pessoas como se fossem abstrações vazias. Perante a lei, todos são iguais. Na realidade substantiva que compõe o tecido social, todos são diferentes.

A lei deve assegurar mais do que igualdades formais. Se diante da lei somos iguais, diante uns dos outros não o somos. A lei deve amparar essas desigualdades sem destruir o princípio de igualdade. Como resolver esse impasse da vida em sociedade sem incorrer na destruição desse princípio fundamental? Políticas identitárias também têm fetiches por abstrações. “Negros” e “mulheres” são conceitos que forçam todo um processo social de igualação do não igual. Na prática, entre si mulheres são substancialmente diferentes umas das outras. Entre negros isso não é diferente. Ou todos os negros e mulheres são iguais uns aos outros? Só o são perante a lei.


Ser “mulher” ou ser “negro” como critério para incentivar participação política, na verdade, mascara o total desprezo pela realidade efetiva dos desiguais. Aqui não estamos mais no âmbito das desigualdades substantivas que merece amparo da lei. Se o raciocínio que orienta a compreensão do princípio da isonomia constitucional contempla igualmente os iguais e desigualmente as situações desiguais, isso não acontece quando negros e mulheres são reduzidos a meras abstrações para fins ideológicos.

Esse tipo de incentivo – “contar em dobro o voto dessas pessoas” –, no fundo, não só tende a destruir o princípio republicano de isonomia como despreza diferenças substantivas entre essas pessoas. Para ser mais preciso, essa diferenciação consiste em tratar a todos como cidadãos de segunda classe, que só participam da política quando incentivados por interesses de natureza não política.

A verdade é que cidadãos da república não deveriam escolher seus representantes políticos por afinidades identitárias (mulher votar em mulher; negro votar em negro), mas por afinidade de ideias. São as ideias que distinguem pessoas e fazem da república um espaço efetivamente democrático. Representação política e virtudes republicanas não têm a ver com a cor da pele e tampouco com o gênero. Prova disso é como alguns ideólogos da esquerda tratam mulheres e negros que não rezam pelo mesmo cardápio de suas ideologias. No fim, já não se pode mais distinguir homens de porcos.


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HISTÓRIA DOS VIKINGS

 

 Michael Dirda – Jornal Estadão

Harald Hardrada, o aventureiro nórdico do século 11 do livro de Don Hollway O Último Viking, levou uma vida cheia de batalhas, viagens, intrigas e violência. Especialmente violência. Como observou Tom Shippey em sua história da cultura Viking, Laughing Shall I Die, tudo que os guerreiros armados com machados do Norte faziam “era baseado na violência. Os vikings eram bons nisso, muito bons, espetacularmente bons.”

Vitral da Kirkwall Cathedral exibe imagem de Harald Hardrada© Colin Smith/Wikimedia Commons Vitral da Kirkwall Cathedral exibe imagem de Harald Hardrada

E ninguém mais importante que Harald Hardrada, Harald, o Governante Severo ou Tirano, cujos métodos saqueadores tiveram um fim na Inglaterra, na Batalha de Stamford Bridge, perto de York, no crucial ano de 1066. Na verdade, o invasor de 51 anos, naquele momento rei da Noruega, foi pego de surpresa. O rei Anglo-Saxão Harold Godwinson inesperadamente levou seu exército para o Norte, cobrindo cerca de 320 Km em quatro ou cinco dias ao invés das habituais duas semanas. Hollway chama isso de “um dos maiores feitos em tática militar da história medieval”. Mesmo assim, embora Harald, o “trovão do Norte”, tenha sido vencido e morto, ele, inconscientemente, exigiu uma vingança fria. Imediatamente após esta vitória custosa e árdua, o rei anglo-saxão e suas tropas exaustas foram obrigados a voltar para o sul para enfrentar Guilherme da Normandia – que logo seria Guilherme, o Conquistador – na Batalha de Hastings. Um exército mais novo e maior poderia ter mudado a história da Inglaterra. Da forma que aconteceu, em apenas três semanas, tanto a era dos Vikings quanto o reinado dos Anglo-Saxões chegaram a um final sangrento.

Quando pensamos nos Vikings, geralmente imaginamos navios dragão invadindo as costas da Inglaterra e da Escócia ou navegando intrepidamente para oeste pelo Atlântico para a Islândia e, provavelmente, para a América do Norte. Ainda assim, Harald passou boa parte de sua juventude no selvagem, selvagem Leste, onde esse “quase lendário herói nórdico” – como John Julius Norwich o chama em Byzantium: The Apogee – foi um mercenário na Guarda Varangiana da elite do Império Bizantino, eventualmente tornando-se seu comandante de fato. Ele também participou de missões diplomáticas e ações militares na Terra Santa, Sicília e na própria Constantinopla. Para além disso, as coisas ficam um pouco nebulosas.

Muito do que sabemos sobre Harald deriva de sagas, poemas e histórias islandesas, complementados por fontes bizantinas, como a de Michael Psellus Chronographia. Em O Último Viking, Hollway, um jornalista especializado em história militar, junta dramaticamente todos os fatos e tudo que se imagina sobre o Viking, o resultado é ao mesmo tempo uma biografia e “uma fusão, comparação e novas narrações de antigas histórias”. O belo guerreiro loiro era o preferido da envelhecida e luxuriosa Imperatriz Zoe? Ele arrancou os olhos do pusilânime imperador Miguel V? Ele era o amante secreto da amante do imperador Constantino IX? O trono imperial estaria realmente ao alcance de sua espada? Embora seja impossível ter certeza, todas essas perguntas poderiam ser respondidas com “sim”. Isso é o que os poetas e cronistas acreditavam e essa é a história fascinante que Hollway conta.

No ano de 1030, Harald tinha 15 anos quando se juntou ao seu meio-irmão bem mais velho Olaf, rei deposto da Noruega, em sua tentativa de retomar o trono. Logo antes da tensa batalha de Stiklestad, Olaf disse a Harald que ele era muito jovem para o combate de armas que se aproximava, ao que o adolescente teria rebatido: “Com certeza estarei nessa batalha. Não sou tão fraco para manejar uma espada. Se necessário, minha mão pode ser amarrada ao seu cabo”. Durante a luta, Olaf foi morto e Harald, dado como morto. Mas o menino sobreviveu, recuperou-se dos ferimentos e com uma pequena companhia que ia para a Rússia, viajou pelo rio Neva para o lago Ladoga e então para Kiev, onde o Príncipe Yaroslav, seu parente, governava. Três anos depois, com apenas 18, Harald era o capitão da guarda doméstica do príncipe. Reconhecendo que não poderia ir muito longe em Kiev, esse ambicioso comandante nato, navegou pelo rio Dnieper, então cruzou o Mar Negro para Miklagard, a Grande Cidade, como Constantinopla era chamada pelo escandinavos.

Hollway dedica metade do livro às aventuras e maquinações de Harald durante a década que passou com a Guarda Varangiana. Ao fim desses anos, o Viking e seus tenentes mais próximos foram jogados em uma masmorra sem luz, mas mesmo assim conseguiram fugir, sequestrar a amante do imperador e comandar duas galés. Mas e daí? A fuga pelo mar estava bloqueada por uma pesada corrente formando uma barreira esticada sobre o estuário conhecido como Golden Horn. Sempre astuto, Harald ordenou que seus homens remassem em direção a ela com toda força enquanto ele e outros a bordo correram para a popa do navio. Isso levantou a proa alto o suficiente para que o navio passasse até a metade por cima da corrente, e nesse momento, todos correram para a frente para elevar a parte de trás da galé, fazendo com que o navio deslizasse para o mar aberto.

De volta a Kiev, Harald casou-se com Elisaveta, a bela filha de Yaroslav, e então viajou de volta para casa para tomar o poder na Noruega e tentar subjugar a Suécia e a Dinamarca. Até esse ponto, o Viking poderia ser visto como um herói ou, no mínimo, um soldado brilhantemente audacioso e inteligente, mas em seu impulso implacável para governar toda Escandinávia, rapidamente tornou-se traiçoeiro e cruel, saqueando e queimando cidades dinamarquesas, assassinando qualquer nobre que se levantasse contra ele. Seu estandarte de batalha, uma seda branca trazendo a imagem de um corvo negro, ficou conhecido como Land-Waster. A chance de subjugar a Inglaterra finalmente levou Harald à última batalha em Stamford Bridge.

Esgrimista e recriador histórico, Don Hollway destaca-se na descrição do armamento medieval, paredes de escudos e táticas de batalha. Contudo, esse livro não é apenas para fãs de história militar. Se você ama a obra-prima picaresca de Frans Bengtsson, The Long Ships‘, a obra cheia de intrigas de Robert Graves I, Claudius, ou a fantasia heroica no estilo de Robert E. Howard, George R.R. Martin e Howard Andrew Jones, deve a si mesmo a leitura de The Last Viking. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

DEPUTADOS RECEBEM AUXÍLIO MUDANÇA SEM MUDAR

 

Por
Lúcio Vaz – Gazeta do Povo

O mandato de quatro meses do deputado Leonardo Gadelha (PSC-PB) custou R$ 350 mil.| Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

O pagamento de auxílio mudança a deputados federais que assumiram o mandato durante a pandemia da Covid-19 custou R$ 911 mil aos cofres públicos. O valor do benefício – R$ 33,7 mil – representa R$ 135 “auxílios emergenciais”, pago a famílias em situação de miséria absoluta. Mas o fato é que não há mudança. A ajuda de custo dada aos deputados é, na verdade, um salário extra. E os suplentes ainda fizeram despesas com a divulgação dos breves mandato, consultorias, aluguel de carrões e até de aeronaves.

De março de 2020 até agosto deste ano, pelo menos 27 deputados foram contemplados com o auxílio mudança. Dez deles assumiram o mandato definitivamente, em decorrência de renúncia ou morte dos titulares, mas 17 estiveram ou ainda estão de passagem pela Câmara em mini mandatos de quatro meses, enquanto os titulares tiram licença para tratar de assuntos particulares ou assumir cargos de secretários estaduais.

O detalhe curioso é que os deputados não precisam fazer mudança porque moram em hotéis ou em apartamentos funcionais mobiliados, com troca de móveis constante e uma reforma estrutural que já dura 12 anos, ao custo de R$ 220 milhões, em valores atualizados. E não faria sentido fazer uma mudança para ficar apenas quatro meses em Brasília.


Quanto custa a mordomia
Contando com os salários e mais penduricalhos como auxílio-moradia, auxílio mudança e 13º salário, um desses breves deputados chega a receber R$ 185 mil em quatro meses. O 13º proporcional, no valor de R$ 8,4 mil, supera o teto do INSS – R$ 6,4 mil. Mas não são apenas esses os gastos gerados pelos minis mandatos. Tem ainda a cota para o exercício do mandato, o “cotão”, que paga passagens aéreas, divulgação, consultoria, combustível e até fretamento de aeronave. A despesa total alcança R$ 350 mil por deputado.

O deputado Leonardo Gadelha (PSC-PB), por exemplo, assumiu o mandato de 31 março a 7 de agosto deste ano, na vaga de Ruy Carneiro (PSDB). E chegou alugando dois veículos, um Nissan Sentra e um Jeep Renegade, o que gerou uma despesa de R$ 32 mil. Mas ele torrou dinheiro mesmo com divulgação parlamentar – um total de R$ 107 mil, numa média mensal de R$ 27 mil. Investiu muito nas redes sociais, mas também distribuiu verba para a divulgação do seu mandato em 13 veículos locais – o jabá institucionalizado. Gadelha usou R$ 164 mil do “cotão” e ganhou R$ 185 mil de salários, incluindo o 13º proporcional.

Odorico Monteiro (PSB-CE) exerceu o mandato de deputado de 16 de abril a 12 de agosto. Ele recebeu R$ 184 mil entre salários e penduricalhos, incluindo aquele 13º, e gastou mais R$ 132 mil do “cotão”, sendo R$ 20 mil com divulgação do breve mandato, R$ 34 mil com o aluguel de carros e R$ 38 mil com consultorias sobre projetos em andamento na Câmara. A conta para o contribuinte fechou em R$ 316 mil. Os veículos alugados eram um Toyota Corolla e um Virtus.


Mandato de 42 dias
Rafafá (PSDB-PB) assumiu a vaga de Pedro Cunha Lima (PSDB) durante três meses e meio, a partir de abril deste ano. Os salários, auxílios e 13º somaram R$ 179 mil. A verba para divulgação do mandato chegou a R$ 49 mil, com divulgação nas redes sociais. Ele também gastou R$ 50 mil com consultorias, sendo R$ 40 mil por serviços contratados em julho – último mês no cargo. A nota fiscal não informa o motivo de contratação tão urgente.

O mandato do deputado Rafafá (PSDB-PB) durou três meses e meio/ Pablo Valarares/Câmara dos Deputados
A deputada Norma Pereira (PSDB-SC) exerceu o mandato por 42 dias, de 31 de março a 11 de maio deste ano, no lugar de Carmen Zanotto (Cidadania), que assumiu uma Secretaria Estadual. Norma recebeu salário integral em abril e proporcional em maio (R$11,2 mil), mais o auxílio mudança. Ao todo, com os penduricalhos, ganhou R$ 87 mil. Gastou, ainda, mais 17 mil do “cotão”, sendo R$ 6 mil pelo aluguel de uma Sportage.

Danilo Forte (PSDB-CE) assumiu o mandato como suplente em junho de 2020, permanecendo no cargo por quatro meses. Em dezembro, foi efetivado, com a renúncia de Roberto Pessoa (PSDB). Mas não há registro de que tenha recebido o auxílio-mudança. Por outro lado, Forte usou fartamente o “cotão” enquanto suplente, em 2020, gastando R$ 145 mil em quatro meses. Pagou R$ 7,8 mil pelo aluguel de uma Trailblazer durante três meses. No quarto, fretou uma aeronave, por R$ 12 mil, para se deslocar até Juazeiro.

Após assumir o mandato, torrou ainda mais a verba para o exercício do mandato. Em nove meses, gastou R$ 318 mil. Em agosto, fretou um helicóptero Esquilo para fazer sobrevoos em Itapajé, Pecem e Taíba, no dia 5, pagando R$ 14 mil. Dia 27, gastou mais R$ 10 mil para fazer sobrevoos em Itapajé. Tudo por conta do contribuinte.


Gastança já foi maior
Resta um consolo ao pagador de impostos: a gastança com o auxílio mudança já foi bem maior. A Câmara chegou a pagar o benefício para deputado que ficou apenas um dia no cargo. Em 2009, a Câmara passou a ser mais rígida, em termos: exigiu o mínimo de 30 dias de mandato para pagar a “ajuda” integral. Em 2014, a ajuda virou oficialmente “auxílio-mudança”, paga no início e no final da legislatura, de quatro anos.

O Decreto Legislativo 276/2014 estabelece que é devida aos membros do Congresso Nacional, no início e no final do mandato, ajuda de custo equivalente ao valor do subsídio, “destinada a compensar as despesas com mudança e transporte”. O decreto legislativo é aprovado pela Câmara e pelo Senado e não vai à sanção presidencial. O Decreto 276/2014 foi promulgado pelo então presidente do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), em 18 de dezembro daquele ano.

Pouco antes de deixar o mandato, o então presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ) aprovou Ato da Mesa impondo mais uma exigência: vetou o pagamento da ajuda de custo de término do mandato para deputados que não cumpram o mínimo de 180 dias no cargo. Quando presidente, porém, pagou o auxílio até para quem ficou apenas 1 mês e pouco no cargo.

O benefício foi criado há 70 anos, com o nome de “ajuda de custo”, para compensar as despesas de transporte. Em 1995, um decreto legislativo determinou o pagamento da ajuda no início e no final do ano legislativo (duas vezes por ano) e também nas convocações extraordinárias do Congresso Nacional. Nesses casos, eram pagas mais duas ajudas, no início e no final do mês de cada convocação. Quando havia convocação em janeiro e julho, os deputados recebiam até seis auxílios por ano.

Levantamento feito pelo blog, com dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação, mostrou que a mordomia já custou R$ 31 milhões em 20 anos. Pelo menos 28 suplentes receberam a “ajuda de custo” após ficarem até 30 dias no cargo.


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DESEMPREGO EM QUEDA MAS NÃO TANTO

Editorial
Por
Gazeta do Povo

Carteira de Trabalho – 04-05-2017 – Vários modelos de Carteira de Trabalho e Previdência Social do Ministério do Trabalho do Brasil.

| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Depois de passar boa parte do ano apontando para direções opostas, os dois principais indicadores do mercado de trabalho no país, anunciados no fim deste mês de setembro, começam a convergir para mostrar uma ligeira melhora, embora ainda permaneçam muitos desafios pela frente. O Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, divulgado na quarta-feira, mostrou a abertura de 372 mil vagas de emprego formal em agosto – este indicador, no entanto, já vinha em campo positivo desde o início do ano, com todos os meses de 2021 registrando mais contratações que demissões. É o índice de desemprego, medido pelo IBGE por meio da Pnad Contínua, que baixou dos 14% pela primeira vez no ano, ficando em 13,7% no trimestre móvel encerrado em julho.

Este é o terceiro mês seguido de redução no desemprego pelos critérios do IBGE. Depois de ter chegado ao recorde de 14,7% nos trimestres móveis encerrados em março e abril, baixou para 14,6% e 14,1%, até chegar aos 13,7% anunciados nesta quarta-feira. Já o número absoluto de brasileiros à procura de um emprego caiu pelo segundo mês seguido: era de 14,795 milhões no trimestre móvel encerrado em maio, baixou para 14,444 milhões e, agora, para 14,085 milhões no trimestre formado por maio, junho e julho – a última vez em que o IBGE contou menos de 13 milhões de desempregados foi no fim do ano passado.

O momento da verdade para o mercado de trabalho brasileiro se iniciou em setembro, o primeiro mês sem o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm)

A palavra certa não é bem “comemoração”, pois ainda temos dezenas de milhões de brasileiros que poderiam estar trabalhando, mas não têm emprego; mas há motivos para falar em “esperança” ao olhar mais alguns indicadores da Pnad Contínua relativos ao período de maio a julho, embora seja sempre necessário observar todas as nuances para não pintar um quadro nem otimista, nem pessimista demais. Pela primeira vez desde o início da pandemia, o nível de ocupação passou dos 50%, ainda que o aumento recente tenha sido puxado principalmente pelo trabalho informal. O número de desalentados, pessoas que nem chegam a buscar emprego, caiu 10% em maio/junho/julho na comparação com o trimestre anterior. O número de trabalhadores subutilizados também está em queda, mas dentro deste grupo houve uma elevação entre os ditos “subocupados por insuficiência de horas trabalhadas”, pessoas que trabalham menos do que poderiam.

Assim, é possível concluir que, embora mais brasileiros estejam trabalhando, muitas das vagas estão na informalidade, ou têm jornadas menores, o que tem como consequência remunerações mais baixas. Mesmo no Caged, que tem números muito mais positivos que a Pnad Contínua e retrata apenas o emprego formal, o salário médio de admissão em agosto foi 1,42% menor que o das vagas abertas em julho. Ninguém haverá de questionar que um emprego, ainda que em meio período e com remuneração longe do ideal, será melhor que emprego nenhum, mas ao mesmo tempo ninguém pode se dar por satisfeito com isso: o desafio para o Brasil está em não apenas aproveitar a força de trabalho parada, mas em fazê-lo oferecendo vagas de mais qualidade.


O momento da verdade para o mercado de trabalho brasileiro se iniciou neste mês de setembro, o primeiro sem que o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm) esteja em vigor. Uma das melhores iniciativas do governo federal para combater os efeitos econômicos da pandemia, ao permitir acordos de suspensão temporária do contrato ou redução de salário e jornada, ele expirou em 25 de agosto, quando acabou o prazo de 120 dias determinado pela Medida Provisória 1.045 para a duração do programa. Aquela MP, que acabou ficando conhecida por “minirreforma trabalhista” depois dos acréscimos feitos na Câmara, foi rejeitada pelo Senado em 1.º de setembro, mas àquela altura empregadores e empregados já não podiam mais assinar novos acordos. À medida que os acordos feitos em meses passados forem expirando, bem como a estabilidade garantida pela lei aos empregados cobertos pelo BEm, será possível avaliar se a economia está robusta o suficiente para que esses empregos sejam mantidos sem a necessidade do apoio governamental.


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RECURSOS TECNOLÓGICOS AJUDAM EMPRESAS NO ESG

 

Guilherme Rugo – ZYXEL

Sociedade tem cobrado cada vez mais essas questões do mercado

 Com os desafios que o mundo tem enfrentado atualmente, o uso de padrões da ESG, sigla em inglês que define diretrizes para avaliar se uma empresa é socialmente consciente (environmental), sustentável (social) e se mantém boas práticas de governança (governance), tem se propagado aqui no país. Apesar do maior destaque nos últimos anos, em partes por cobranças dos próprios clientes em virtude das mudanças de valores da sociedade, a sigla ESG surgiu oficialmente em 2005 no relatório Who Cares Wins da Organização das Nações Unidas (ONU), do qual participaram diversas instituições financeiras, inclusive brasileiras. Como resultado disso, as empresas ganham a confiança dos consumidores e também dos investidores, já que essa agenda influencia em diversos processos de tomadas de decisões, inclusive no mercado financeiro.

            Um forte aliado do conceito é colocar a tecnologia a serviço das empresas, seja por meio de análises preditivas que usam dados, algoritmos e machine learning para prever resultados sobre determinados processos, segurança cibernética ou por qualquer outro mecanismo de inteligência artificial ou internet das coisas. Também há maneiras mais simples de se começar, como descartando equipamentos obsoletos corretamente ou economizando energia por meio de um planejamento adequado.

            Empresas de diversos portes podem investir nesse tipo de recurso, apesar disso, de acordo com uma pesquisa do Centro Sebrae de Sustentabilidade, realizada em 2018, apenas 16% das empresas pequenas desenvolvem projetos com supervisão de resultados ou consideram a sustentabilidade o coração da empresa e mais de 50% fazem ações isoladas, esporádicas e sem planejamento.

            “O conceito de ESG, além de tornar o mundo mais sustentável, contribui em geração de valor para uma marca, além de reduzir custos e otimizar a produtividade, o que beneficia também a sociedade como um todo. Dito isso, é importante frisar que os investimentos em tecnologia podem ser gradativos e que envolver essa área nos processos adotados pela empresa é essencial”, comenta Guilherme Rufo, coordenador de marketing da Zyxel.

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A Plataforma Comercial ValeOn veio para suprir as demandas da região no que tange à divulgação dos produtos/serviços de suas empresas com uma proposta diferenciada nos seus serviços para a conquista cada vez maior de mais clientes e públicos.

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STEVE JOBS SERIA CANCELADO HOJE PELAS REDES SOCIAIS DEVIDO AO SEU COMPORTAMENTO

 

Temperamental e colecionador de episódios controversos, o pai do iPhone seria um forte candidato a ‘culpado’ no tribunal das redes sociais

Guilherme Guerra – Jornal Estadão


Nesta terça, 5, a morte de Steve Jobs, fundador da Apple, completa 10 anos. Considerado um gênio por muitos, o pai do iPhoneera uma figura de extremos: por um lado, sua capacidade criativa causou grandes saltos tecnológicos. Por outro, sua personalidade tosca costumava machucar pessoas ao seu redor. Ele era obcecado pelos detalhes de suas criações, como se fosse um artista, mas chegava a mentir, a blefar ou a ser abusivo com funcionários, amigos e parentes para conseguir as coisas da maneira que queria.

Vítima de um câncer no pâncreas aos 55 anos, Jobs não testemunhou um desdobramento da popularização dos smartphones na última década: a cultura do cancelamento nas redes sociais. Mas, com tantas características polarizadoras e um contêiner de histórias pessoais e profissionais pesadas, ele seria um forte candidato a ser cancelado nos dias atuais.

Temperamental, ele costumava se justificar da seguinte maneira: “Eu sou assim.” Mas não era só a língua afiada que poderia tornar Jobs um alvo dos tribunais da internet. Ele rejeitou publicamente a filha, afastou a Apple de questões políticas e sociais, minimizou condições trabalhistas na China e fez ameaças e acusações a rivais como Microsoft e Google.

Tentar imaginar como Jobs seria recebido nas redes sociais em 2021 é um exercício que ajuda a contar a história de quem ele foi e das transformações da Apple e das redes sociais na última década. Por ser direto e gostar do embate, é possível que o chefão da Apple não recuasse diante das críticas, um efeito comum do cancelamento das redes.

“Steve Jobs seria cancelado em 2021. E acho que ele adoraria isso”, afirma Fábio Gandour, que liderou por quase dez anos o laboratório de pesquisas da IBM no Brasil. “Ser cancelado significaria um respeito ao tempo dele, que seria usado para outras coisas”, diz o pesquisador, que costuma lembrar de um encontro acidental que teve, no começo dos anos 2000, com Jobs no banheiro da Apple, na Califórnia (“foi impossível um aperto de mãos”, lembra, dando risadas).

Ignorar a opinião alheia talvez fosse um dos pontos fortes do executivo, que, ao contrário de muitos colegas em empresas rivais, orgulhava-se de não aplicar pesquisas de mercado para entender o que queriam os clientes. Uma de suas frases mais famosas é: “Os consumidores não sabem o que querem até que mostremos a eles.”

“Steve Jobs seria cancelado em 2021. E acho que ele adoraria isso”Fábio Gandour,cientista-chefe do laboratório de pesquisas da IBM no Brasil entre 2011 e 2018

Ser ignorante à opinião alheia poderia não fazer tanta diferença para Jobs em termos pessoais. Mas seus comportamentos poderiam reverberar na Apple, criada em 1976 por ele e pelo melhor amigo Steve Wozniak.

Para Carlos Affonso Souza, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS-Rio), da “porta da Apple para dentro”, o cancelamento poderia tornar os funcionários da empresa “muito mais vocais” quanto a abusos e práticas no ambiente de trabalho. “Por mais que comportamentos abusivos possam passar a impressão de mais produtividade, essa maneira de trabalhar não é a forma desejada”, diz.

Já da porta para fora, a figura de Jobs, tão conhecida quanto a da Apple, poderia ser fustigada pela opinião pública. “É de se esperar que, numa cultura do cancelamento, que explodiu muito depois do falecimento de Jobs, você também iria ter situações em que as pessoas poderiam apontar que é para boicotar o produto da empresa”, explica Souza.

NOVOS TEMPOS

cultura do cancelamento põe em questão as pessoas por falas ou comportamentos tomados como desrespeitosos, controversos ou passíveis de penalidades, como em casos de assédio moral ou sexual. O professor Fábio Mariano Borges, da ESPM, lembra que o fenômeno coloca um novo peso sobre a reputação de figuras públicas para além do trabalho.

“Antes, entrar em uma empresa e cumprir metas já bastava. Mas hoje todos nós viramos marca. Somos todos CPF e CNPJ ao mesmo tempo”, explica. Do final da década de 1990 até sua morte, o executivo viu acontecer a fusão entre a própria vida pessoal e a profissional – ele já era o rosto da empresa antes que o tuiteiro médio passasse a se enxergar como representante da sua própria marca.

Nos tempos atuais, esse fenômeno tem consequências diferentes. Para o público atual das redes sociais, não bastam as apresentações espetaculares de produtos. Imaginar Steve Jobs em 2021 significa que a sua vida pessoal seria um fator de peso para que consumidores optassem por um iPhone. No caso do executivo, a “ficha corrida” era extensa.

Jobs dava de ombros para as denúncias de condições de trabalho na Foxconn, na ChinaREUTERS

Nos anos 1970, Jobs escondeu de Wozniak que ambos receberam um bônus financeiro da Atari, onde trabalharam até fundarem a Apple – Jobs pegou a grana toda para si. Nos anos 1980, ele costumava perguntar aos candidatos em entrevistas de emprego se eles eram virgens e se haviam tomado ácido, com o suposto objetivo de saber como possíveis funcionários reagiriam a situações desconcertantes. Ele também costumava estacionar a própria Mercedes (sem placa, diga-se) em vagas para pessoas com deficiência, hábito que ele manteve, pelo menos, até 2008.

O pior dos casos, porém, talvez tenha sido a demora em reconhecer a paternidade de sua primeira filha, Lisa, nascida em 1978, quando ele tinha 23 anos. À época, ele insinuava publicamente que Chrisann, sua namorada naquele período, poderia ter se relacionado com outros homens.

Dado o peso das redes sociais na imagem da Apple, Borges imagina que o executivo buscasse algum tipo de adaptação. “Steve Jobs era o espírito do tempo e sabia se adaptar muito facilmente. Hoje, ele estaria nas apresentações da Apple falando sobre diversidade, por exemplo”, diz. Uma pista disso é observar a guinada da Apple sob Tim Cook, sucessor de Jobs no posto de comando da empresa.

Nesses 10 anos, além de lançar um relógio inteligente e fones de ouvido sem fio, a Apple tornou-se porta-voz das minorias, defendendo em público o movimento Vidas Negras Importam, promovendo a igualdade de gênero e manifestando-se contra projetos de lei que minem a diversidade sexual. Na gestão anterior, esses assuntos não tomavam tempo das apresentações de Jobs.

ANIMAL EXTINTO

A postura controversa, combativa e temperamental parece ter sido extinta com a morte de Steve Jobs – pelo menos entre os líderes das principais companhias de tecnologia do mundo. Hoje, elas se blindam para evitar críticas. Um caso recente ilustra bem o impacto da vida pessoal dessas personalidades em suas empresas.

Steve Jobs não viveu para ver a cultura do cancelamento, ao contrário do antigo rival Bill GatesASA MATHAT ALLTHINGSDCOM

Até 2021, o contemporâneo (e rival na Microsoft) Bill Gates era o estereótipo do “bom velhinho”. Como se fosse um Papai Noel bilionário da tecnologia, ele circulava pelo mundo financiando estudos para desenvolver vacinas contra a covid e promovendo a agenda climática do Planeta.

Tudo isso veio abaixo com o divórcio de Melissa Gates após 27 anos, anunciado em maio passado. Vieram a público uma série de histórias, dando conta de casos extraconjugais e investidas sexuais contra trabalhadoras. Não só isso, ele também era amigo de Jeffrey Epstein, bilionário acusado por crimes sexuais, inclusive contra menores de idade, e morto na prisão antes de seu julgamento. Reverberou tanto que a própria dona do Windows buscou distância do seu ex-homem forte.

O atual presidente executivo da Microsoft, Satya Nadella, afirmou que a empresa reabriu investigações para apurar o relacionamento de Gates com a funcionária em busca de medidas que “satisfaçam a todos”. “A Microsoft de 2021 é muito diferente da Microsoft de 2000”, acrescentou.

“Um CEO que possa desagradar a governos ou confrontar determinados grupos na opinião pública pode colocar em risco a estratégia de negócio dessa companhia”Carlos Affonso Souza, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS-Rio)

“Quando Jobs estava vivo, os holofotes sobre a indústria de tecnologia não estavam colocados da forma como estão hoje”, explica Souza, do ITS-Rio. Ele lembra que essas empresas, em especial as Big Techs, estão sob a mira de órgãos reguladores e econômicos. “Um CEO que possa desagradar a governos ou confrontar determinados grupos na opinião pública pode colocar em risco a estratégia de negócio dessa companhia.”

Steve Jobs não viu acontecer nem a cultura do cancelamento nem a pressão regulatória, é claro. Mas, ao final da vida, não escondia o passado e queria ser conhecido tanto pelos seus méritos quanto pelos deméritos.

Em entrevista ao jornalista americano Walter Isaacson, autor de sua mais conhecida biografia, Jobs disse: “Eu não tenho nenhum esqueleto no armário”. Resta saber se isso seria suficiente para o tribunal da internet. COLABOROU BRUNO ROMANI


As 5 maiores controvérsias de Steve Jobs


● Abandono da filha
Talvez o ponto mais baixo da trajetória pessoal de Steve Jobs seja o abandono de sua primeira filha, Lisa Nicole Brennan. O fundador da Apple demorou cerca de um ano para reconhecer a paternidade. Antes, insinuou publicamente que a mãe poderia ter engravidado de outros homens. Um exame de DNA confirmou a paternidade, mas ele continuou questionando o resultado. A negação chegou ao ponto em que ele dizia que o computador Lisa não era uma homenagem à primogênita, mas um acrônimo para “Local Integrated Software Architecture” (ou Arquitetura de Software Local Integrada, o que não significa nada). A reconciliação só ocorreu na parte final da vida dele.

● Chefe abusivo
Jobs era conhecido por humilhar os próprios funcionários ou executivos de empresas rivais. Era comum ouvir gritos e palavrões e ou ganhar um dedo do meio – tanto em reuniões quanto em conversas individuais. Ele reconhecia o problema, mas dizia: “É o meu jeito.”

● Condições de trabalho na China
A Foxconn, principal fabricante do iPhone na China, enfrentou uma crise de suicídio de funcionários em 2010 – no total, foram 13 mortes. O problema era atribuído à sobrecarga de trabalho durante o ano do lançamento do iPhone 4. Em vez de pressionar a parceira,  Jobs declarou: “A Foxconn teve suicídios e algumas tentativas, mas eles têm 400 mil pessoas lá. Existem restaurantes, cinemas, hospitais e piscinas. Para uma fábrica, é bem legal”.

● Longe de causas sociais
Na gestão de Jobs, a Apple nunca se posicionou sobre causas sociais ou temas políticos, permanecendo afastada do que era decidido em Washington. Quando realizava doações filantrópicas, o executivo mantinha sigilo, como forma de não envolver seu nome nas causas. O cenário mudou quando assumiu o sucessor Tim Cook, muito mais ativo em favor de minorias, diversidade e outros temas sociais.

● Acusação de roubo
Nos anos 1980, Steve Jobs acusou Bill Gates e a Microsoft de copiarem a interface gráfica do Macintosh (de 1984) para criar o Windows, de 1985. Mas Gates argumenta que, na verdade, a ideia foi roubada da Xerox, que, no final dos 1970, desenvolveu o primeiro sistema de interface gráfica, o PARC. Jobs assumiu o “roubo”, mas o rancor por Gates e a rivalidade com Microsoft permaneceram por décadas.