quinta-feira, 30 de setembro de 2021

AS MARCAS MUDAM NA MESMA VELOCIDADE QUE OS CLIENTES MUDAM?

 

*Por Julio Gonzalez, VP de Customer Success da Zendesk América Latina

O último ano representou transformações disruptivas na forma de trabalhar, conviver e consumir, e a forma como as pessoas se relacionam e buscam suporte com as marcas também mudou. Pelo estudo CX Trends 2021 vimos que, somente em 2020, houve um aumento de 44% na abertura de chamados de suporte por clientes na América Latina, e a maioria adotou novos canais e expectativas nessa relação.

A velocidade com que as marcas identificam e respondem a essas novas demandas se tornou mandatória para atendê-los como esperam, especialmente com as novas gerações. Uma pesquisa recente da Appnovation apontou que 71% dos Millennials acreditam que as empresas tiveram dificuldade para adaptar novas estratégias digitais no momento da pandemia, e a maioria deixaria de se relacionar com essas marcas.

E para que isso não aconteça, as marcas precisam ser ágeis em adotar processos e tecnologias flexíveis e ágeis para identificar o que estes clientes esperam a todo momento, e trago alguns exemplos para refletirmos.

Agilidade é o novo imperativo

Quando clientes buscam o suporte de uma empresa, já é esperado que a expectativa deles seja uma experiência rápida e eficiente. Afinal, ninguém quer deixar seus clientes esperando ou repetindo informações, arriscando que tenham uma experiência negativa com a marca, especialmente se estiverem frustrados. Segundo uma pesquisa da Harvard Business Review, 56% dos consumidores já tiveram que explicar o seu problema ao menos duas vezes para o atendente e 62% tiveram que contactar várias vezes a mesma empresa até que a situação fosse solucionada.

Não à toa, mais da metade (54%) dos consumidores consideraram esse fator o ponto mais negativo no atendimento durante a pandemia, como apontou o estudo Agilidade em Ação. Por este motivo muitos consumidores recorreram a novos canais digitais e ágeis, como o atendimento via WhatsApp, prática que cresceu 327% na América Latina durante a pandemia, segundo dados da Zendesk.

Mas, para que a experiência do cliente seja de fato como ele espera diante de qualquer adversidade, é preciso ir além e implementar uma cultura ágil em toda a organização. Integrar dados dos clientes em tempo real através de diferentes áreas da empresa, adotar tecnologias flexíveis e escaláveis de atendimento e filtrar os chamados de suporte com inteligência artificial e automação. São investimentos que dependem de uma mentalidade ágil das lideranças e que impactam tanto a eficiência do time de atendimento quanto a percepção do cliente.

Clientes querem ter o poder de escolha

Se antes as inovações do mercado conduziam os consumidores a adotarem novos hábitos, hoje a dinâmica é oposta, e quem dita o ritmo e as escolhas são os clientes. Na América Latina, dados do Agilidade em Ação mostraram que 75% dos clientes são mais propensos a comprar de marcas que oferecem diferentes opções de canais e formas de resolver os problemas, bem acima da média global (54%).

Além de oferecer os canais de preferência e trazer personalização, 6 em cada 10 clientes latino-americanos também preferem buscar soluções por conta própria, a exemplo do autoatendimento, que envolve recursos como centrais de ajuda e perguntas frequentes. E 68% acreditam que falar com chatbots de atendimento é eficiente para resolver problemas simples.

Isso nos leva ao ponto que o cliente quer ter o controle da jornada dele, escolhendo se quer ou não falar com um agente humano, se quer falar por telefone, e-mail, WhatsApp ou mídias sociais, e se prefere que todo o atendimento seja via um aplicativo da marca. E reconhecer o seu cliente para entregar o que ele prefere, seja quando e onde ele precisar, inegavelmente é uma boa experiência na jornada dele.

Marcas devem ser empáticas com o cliente e a sociedade

Com o consumidor mais fragilizado devido a todas as adversidades da pandemia, como impactos financeiros, emocionais e de saúde, ele passou a ter um olhar mais crítico na forma como as marcas o tratam. Na América Latina, 79% dos clientes preferem falar com atendentes que sejam empáticos com os problemas deles, como apontou a pesquisa CX Trends 2021.

Além de serem mais empáticos, tratando os clientes de forma humanizada, a grande maioria também espera que as marcas cumpram papéis de responsabilidade social (78%) e que implementem ações de Diversidade, Equidade e Inclusão (70%), especialmente com as gerações mais novas. E o impacto disto não é pequeno, pois os clientes priorizam essas ações na hora de escolher e defender a marca.

Com todas as mudanças rápidas que estão acontecendo na sociedade e no nosso entorno, é de se esperar que o consumidor adote novos comportamentos e preferências como estas que apresentei, e a velocidade com que se transformam cresce exponencialmente. A responsabilidade das marcas cresce junto, e será necessário ter agilidade para reconhecer e agir com todas essas expectativas. Já se passou a época em que o cliente se conformava com o serviço demorado, impessoal e cheio de buracos como era há uma década, ou mesmo há um ano.

QUEM SOMOS

A Plataforma Comercial da Startup ValeOn é uma empresa nacional, desenvolvedora de soluções de Tecnologia da informação com foco em divulgação empresarial. Atua no mercado corporativo desde 2019 atendendo as necessidades das empresas que demandam serviços de alta qualidade, ganhos comerciais e que precisam da Tecnologia da informação como vantagem competitiva.

Nosso principal produto é a Plataforma Comercial ValeOn um marketplace concebido para revolucionar o sistema de divulgação das empresas da região e alavancar as suas vendas.

A Plataforma Comercial ValeOn veio para suprir as demandas da região no que tange à divulgação dos produtos/serviços de suas empresas com uma proposta diferenciada nos seus serviços para a conquista cada vez maior de mais clientes e públicos.

Diferenciais

•             Eficiência: A ValeOn inova, resolvendo as necessidades dos seus clientes de forma simples e direta, tendo como base a alta tecnologia dos seus serviços e graças à sua equipe técnica altamente capacitada.

•             Acessibilidade: A ValeOn foi concebida para ser utilizada de forma simples e fácil para todos os usuários que acessam a sua Plataforma Comercial , demonstrando o nosso modelo de comunicação que tem como princípio o fácil acesso à comunicação direta com uma estrutura ágil de serviços.

•             Abrangência: A ValeOn atenderá a todos os nichos de mercado da região e especialmente aos pequenos e microempresários da região que não conseguem entrar no comércio eletrônico para usufruir dos benefícios que ele proporciona.

•             Comprometimento: A ValeOn é altamente comprometida com os seus clientes no atendimento das suas demandas e prazos. O nosso objetivo será atingir os 766 mil habitantes do Vale do Aço e poder divulgar para eles os produtos/serviços das empresas das diversas cidades que compõem a micro-região do Valeo do Aço e obter dos consumidores e usuários a sua audiência.

Missão:

Oferecer serviços de Tecnologia da Informação com agilidade, comprometimento e baixo custo, agregando valor e inovação ao negócio de nossos clientes, respeitando a sociedade e o meio ambiente.

Visão:

Ser uma empresa de referência no ramo de prestação de serviços de Tecnologia da Informação na região do vale do aço e conquistando relacionamentos duradouros.

Valores:

•             Integridade – Ética e Transparência

•             Responsabilidade – Profissional, ambiental e social

•             Inovação – Busca pelo melhor

Nossos contatos: Fones: (31) 3827-2297 e (31) 98428-0590 (Wpp)

E-MAIL: valeonbrasil@gmail.com

Site: https://valedoacoonline.com.br/

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

JOGO DE ALTO RISCO COM O DEPOIMENTO DE LUCIANO HANG NA CPI

 

Alberto Bombig e Matheus Lara

A sessão desta quarta-feira, 29, na CPI da Covid, em que será ouvido Luciano Hang é avaliada como uma jogada de alto risco e pode gerar um clima de “eu avisei” entre os senadores. O presidente Omar Aziz e o relator Renan Calheiros chegaram a ser aconselhados a reconsiderar a convocação pelo temor de que a sala da comissão vire um “circo”. O depoimento marca mais um ruído entre os parlamentares independentes e oposicionistas, o chamado G-7, na CPI que chega à reta final com tensão em alta e divergências sobre os rumos do relatório.

Risco. Senadores que se opuseram a manter o depoimento avaliam que Hang tem pouco a acrescentar. Temem que o empresário, conhecido pelo comportamento espetaculoso, veja a CPI como um palco.

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Saída. Do senador Humberto Costa (PT-PE): “Se nos mantivermos focados em buscar respostas sobre crimes, ele não terá condição de fazer performance”.

Faz… Detalhes do relatório final de Renan também têm dividido o G-7. Alessandro Vieira (Cidadania-SE) promete apresentar ao relator algumas sugestões.

…assim. “Não se trata de divergências, mas sim da necessidade de garantir um relatório técnico e sóbrio. Parece relevante apontar a necessidade de aprofundamento em pontos como corrupção. A expectativa é de que sirva como colaboração”, afirma Vieira.

Ok. Fora da política, o criminalista Roberto Podval vê substância na CPI. “Há que se criticar alguns excessos e desconsiderar o natural jogo político, mas o resultado final demonstra a bagunça, a desorganização e, por consequência, as desnecessárias mortes em razão do atraso nas vacinas.”

Pode… Relator da Reforma da Previdência paulistana na CCJ da Câmara, o vereador Rubinho Nunes (PSL) vai apresentar nesta quarta, 28, parecer favorável ao projeto do prefeito Ricardo Nunes (MDB). Para ele, a proposta equaliza as contas e dá segurança ao servidor municipal.

…passar. “Mais pra frente, vamos melhorar e ampliar o texto enviado para que a reforma seja mais profunda. O paulistano não aguenta mais pagar tanto imposto pra sustentar desfalques no orçamento. Eu não fujo de projeto polêmico e estou pronto para enfrentar as narrativas que muitas vezes só visam a manutenção de privilégios.

Revisão. O Conselho Universitário da Unicamp revogou, por decisão unânime (74 votos a favor, 3 ausências), a concessão do título de Doutor Honoris Causa ao coronel Jarbas Passarinho (1920-2016). O título foi outorgado em 1973. Passarinho foi ministro do general-presidente Emílio Médici e integrou os governos de Figueiredo e Collor.

Sabedoria… Em jantar da Esfera Brasil, Romeu Zema disse estar disposto a disputar a reeleição ao governo de Minas Gerais pelo Partido Novo. Segundo ele, antes de se chegar ao segundo andar, é preciso “terminar de construir o primeiro”.

…mineira. Estavam no jantar (na segunda-feira, 27, em São Paulo) os empresários Eugênio Mattar (Localiza), Fernando Marques (União Química), Sebastião Bomfim (Centauro) e Anderson Birman (Arezzo).

Tô aqui. Antonio Rueda também participou. Ele é o autor do convite para Zema integrar o partido resultante da fusão PSL-DEM e concorrer a presidente.

Bênção. A candidatura de Alessandro Molon (PSB) ao Senado, em composição com o presidente da OAB nacional, Felipe Santa Cruz, para o governo do Rio, ganha corpo. O padrinho é o prefeito Eduardo Paes (PSD), decidido a ficar no cargo atual até 2024.

Terraplanagem. Por falar em Paes, ele anda com verve afiada: ao responder a uma provocação de Osmar Terra (MDB-RS), aquele que não se cansa de passar vergonha nas redes, o prefeito mandou esta: “Prezado doutor Terra Plana…”

SINAIS PARTICULARES. Osmar Terra, deputado federal (MDB-RS). Ilustração: Kleber Sales/Estadão

COM REPORTAGEM DE ALBERTO BOMBIG E MATHEUS LARA. COLABORARAM ELIANE CANTANHÊDE E ROBERTO GODOY.

PRONTO, FALEI!

Fábio Trad, deputado federal (PSD-MS)

“O caso da Prevent Senior chega a ser macabro. Médicos, agentes públicos e empresários envolvidos no esquema que burlou documentos, fraudou declarações e enganou familiares de mortos por covid-19.”

DEPOIMENTO DE LUCIANO HANG NA CPI HOJE

 

Dono da Havan

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo

Empresário Luciano Hang foi convocado para depor na CPI da Covid.| Foto: Anderson Riedel/PR

Hoje (quarta-feira, 28) é dia de Luciano Hang na CPI. Talvez seja o dia de maior audiência da comissão, que já tinha cansado os nossos olhos e ouvidos. Ninguém mais estava assistindo a essa CPI.

Mas hoje ela ganha um novo alento com a ida do empresário, dono das lojas Havan. Parece que foi por insistência do relator Renan Calheiros (MDB-AL), que está muito preocupado com a eleição do ano que vem e precisa de audiência; por isso, insistiu em convocar Luciano Hang.

Os outros senadores estavam meio receosos porque, afinal, o empresário não vendeu ou comprou nenhuma vacina; não vendeu nenhum respirador através de loja de vinho ou de outra empresa duvidosa. Inclusive não vendeu e não entregou nada para o Consórcio Nordeste, não superfaturou hospital de campanha, ou seja, não tem nada a ver com a pandemia.

Mas Hang foi convocado mesmo assim. Talvez para dar um direito de resposta, já que desrespeitaram cruelmente, vergonhosamente, a memória da mãe dele. Ou talvez a chance de a própria CPI pedir desculpas a ele.

Hang gravou um vídeo mostrando algemas que tinha comprado em caso de necessidade na CPI. Ele disse que vai em paz à comissão, mas que, se for necessário, terá que ser algemado. Essa é a verve de Luciano Hang.

Inaugurações nos mil dias 
O presidente Jair Bolsonaro finalmente comemorou, como ele gosta, os mil dias de governo, cercado pelo povo. Foi na Bahia e em Alagoas, onde os governadores são de oposição ao governo federal: Rui Costa (PT) e Renan Filho (MDB), filho de Renan Calheiros, respectivamente.

Bolsonaro esteve em Teixeira de Freitas (BA), onde entregou um centro poliesportivo; duas duplicações de BRs importantíssimas, a 116 e a 101; e entregou títulos de terra. Depois, em Teotônio Vilela (AL), ele entregou 200 casas populares. Foi uma apoteose nas ruas, do jeito que Bolsonaro gosta. Ele tem um prazer enorme de contrariar as pesquisas de opinião.

Guedes garante crescimento 
O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que desde o início do governo tentam encontrar alguma desgraça para culpar o governo. Primeiro diziam que o governo não tinha maioria no Congresso e não ia aprovar nada. E o governo aprovou, sim, vários projetos de interesse. Depois veio a pandemia e tentaram jogar cadáveres em cima do governo. Também não deu certo, porque lá pelas tantas veio a vacinação em massa. Aí resolveram falar que teve um escândalo na compra de vacina, só que a vacina não foi comprada.

Guedes disse que agora estão apostando na queda do crescimento. Só que nesse ano não vai dar, porque o país deve crescer 5%. Citam ainda o aumento da inflação, só que a carestia agora é com o Banco Central, que é independente e é quem administra a inflação e protege a moeda.


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1000 DIAS DE BOLSONARO INFLUENCIARAM AS NOSSAS VIDAS

 

Dez ao cubo

Por
Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo

Mil dias se passaram desde que Bolsonaro tomou posse. O país não acabou. E a vida seguiu seu curso à revelia das palavras e decisões palacianas.| Foto: Agência Brasil

No mundo ideal, os mil dias da administração de Jair Bolsonaro seriam vistos com a devida parcimônia. Acertos seriam avaliados pelo que são; erros, idem. Ninguém jamais pressuporia perfeição ou desastre total. Mas não vivemos num país ideal, longe disso. O que significa que, provavelmente, para a oposição todos os acertos serão ignorados e os erros ganharão proporções catastróficas. Enquanto a situação exagerará nos acertos e ignorará os erros. Como convém.

Arriscando-me a ouvir uma reprimenda por “fugir ao debate”, digo que a avaliação dos mil dias da administração de Jair Bolsonaro está de tal modo contaminada pelas afeições políticas que é impossível, hoje, beber dessa água sem ter dor de barriga. Ajudaria e muito se tivéssemos fomentado em nós e nos políticos o espírito crítico cristão, humilde, silencioso, de fora para dentro, e não o ruidoso espírito crítico pregado por Paulo Freire, revolucionário, arrogante e de dentro para fora. Mas agora a Inês é morta, tadinha.

Não é, porém, o Estado que me interessa, e sim o indivíduo. Eu e você, separados por uma conjunção falsamente aditiva. Nunca nós. Nunca eles. Quando se pensa os últimos mil dias do ponto de vista do indivíduo, ah, tudo se descortina numa miríade de cores e tons. Nada é monolítico. Nada é definitivo. Nada pode ser expresso num discurso presidencial ou num artigo pedindo o fim disso tudo que está aí.

Aliás, se houvesse sociologia nas universidades brasileiras, bem que alguém poderia se debruçar sobre esse assunto que, por no máximo cinco minutos, ou até o fim deste parágrafo, considero fascinante: a mania de recomeço do brasileiro. É algo que está entranhado em nosso espírito – hoje mais até do que a falsa alegria de que fala Moacyr Scliar em seu esclarecedor “Saturno nos Trópicos”. Repare que, para o brasileiro, basta um impeachment, uma nova Constituição, um golpe ou até a eleição de um outsider para que a esperança seja renovada. Até a próxima decepção, isto sim.

De volta ao indivíduo, contudo, convido o leitor a entrar comigo no DeLoren e voltar para aquele dia 1º de janeiro de 2019, quando teve início a “aventura bolsonarista”. 55 % do país acreditavam que era um recomeço, uma nova forma de fazer política, um jeito diferente de as autoridades se relacionarem com o cidadão e de os cidadãos se relacionarem com o Estado. Enquanto 45% temiam por fogueiras de livros e massacres de LGBTs e velhinhas portando fuzis nas ruas das cidadezinhas do interior.

Ira & parcimônia
Naquele 1º de janeiro de 2019, eu estava na praia. Muito provavelmente preocupado com algum prazo de tradução. Se me lembro bem, e não me lembro, estava um bocado entorpecido de esperanças que não tinham muito a ver com a política. No meu horizonte estavam um casamento, livros a serem escritos, o retorno à Igreja e até um emprego na Gazeta do Povo – objetivos que se realizaram à revelia das decisões palacianas. E não é sempre assim?

E tenho certeza de que cada um dos leitores, ao se lembrar de como era a vida há mil dias, perceberá que os casos e acasos que se sucederam tiveram pouco ou nada a ver com o que disse ou fez Bolsonaro. Ou com o que os analistas disseram que Bolsonaro disse ou fez. Se a vida é uma sucessão de sonhos ora realizados, ora abandonados (e é), isso tem mais a ver com as batalhas que escolhemos travar e com os obstáculos que decidimos enfrentar ou tangenciar do que com o que é publicado no Diário Oficial.

Mil dias se passaram. Meu filho, antes uma criança, hoje está um homão! As tardes que se arrastavam por laudas e mais laudas a serem traduzidas em silêncio se transformaram num cotidiano bem mais agitado e que se move no ritmo lânguido e assim meio blasé da Catota. Houve uma pandemia – e não foram poucas as vezes em que optei por dar uns murros em ponta de faca, escrevendo textos e mais textos contra a insanidade dos lockdowns. Até que minha indignação deu lugar à resignação sábia dos que contemplam os loucos em seu estranho ritual de bater cabeça.

Fiz amigos. Perdi amigos. Tirei a máscara do rosto para brindar à saúde dos demais presentes àquela mesa. Li menos do que gostaria – mas provavelmente estou sendo duro demais comigo mesmo. Acertei e errei em meus textos e atos. Comecei a nadar, deixei de nadar, emagreci, engordei. Mudei de casa e até passei a dar a cara a tapa em vídeo. E teve ainda aquela vez em que fiquei paralisado no meio da rua ao me dar conta de que um dia morrerei. Esse dia foi louco.

Enquanto vivíamos esses mil dias de sol ou chuva, frio ou calor, granizo ou névoa, uns caras lá em Brasília falavam umas coisas e tomavam umas decisões que nos chegaram (e ainda chegam) como se fossem determinantes para a nossa felicidade ou tristeza, para nossa esperança ou medo. Não são.

Que venham outros mil e mais mil e mais mil. Que venham, ora bolas!, os mesmos ou outros caras falando isso e aquilo e tomando decisões. Porque, enquanto houver mil dias disso e daquilo a analisarmos com nossa abundante ira e cada vez mais rara parcimônia, inspirando num dia e causando indignação noutro, é sinal de que estamos vivos. O que, por mais óbvia que pareça, é uma constatação incrível.


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CPI DA COVID UM FRACASSO

 

Investigação do Senado

Por
Thaméa Danelon – Gazeta do Povo

O triunvirato da CPI da Covid no Senado: Omar Aziz (presidente); Randolfe Rodrigues (em pé, vice-presidente); e Renan Calheiros, relator.| Foto: Roque de Sá/Agência Senado

Após a conclusão de uma CPI, seu relatório final e os documentos que a instruíram devem ser encaminhados ao Ministério Público para que sejam adotadas providências cabíveis. Importante deixar bem claro que compete à CPI apenas a investigação de ilícitos, mas nunca uma CPI poderá julgar as pessoas que eventualmente cometeram crimes ou aplicar qualquer tipo de punição a elas.

De acordo com o artigo 37, inciso II, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados (RICD), o relatório final de uma CPI deverá ser endereçado ao Ministério Público para que sejam apurados os supostos  ilícitos cíveis e criminais. Caso a CPI tenha constatado a prática de irregularidades por servidores públicos, cópia desse relatório também deverá ser encaminhada à respectiva Corregedoria para que sejam adotadas as providências administrativas e correicionais necessárias.

Assim, o procurador-geral da República deverá receber o relatório final da CPI da Covid com os respectivos documentos, e essa autoridade poderá adotar três caminhos legais. Com o recebimento desta documentação, o primeiro caminho é a abertura de uma investigação, caso se constate a necessidade de realização de outras diligências para aprofundamento da coleta de evidências. Assim, o chefe do Ministério Público poderá instaurar procedimento investigatório criminal (PIC) com essa finalidade.

Importante destacar que o procurador-geral somente poderá adotar esse procedimento caso o investigado tenha foro privilegiado perante o STF, como, por exemplo, deputados federais, senadores, ministros de Estado, dentre outros.

O PGR também pode optar por requisitar a instauração de um inquérito policial e, nessa situação, as investigações serão realizadas pela Polícia Federal. Ao final dessas investigações — tanto no caso de PIC ou de IP —, o procurador-geral pode iniciar uma ação criminal contra os investigados, ou arquivar o procedimento, desde que não haja, de fato, a prática de crime ou provas de sua existência.

Um segundo caminho a ser adotado pelo PGR — quando do recebimento do relatório da CPI — é o oferecimento de uma denúncia criminal, ou seja, o pedido de abertura de uma ação perante o STF contra os investigados que praticaram crimes. Assim, caso o STF receba essa denúncia, ou seja, concordando com a acusação, esses investigados se tornarão réus em um processo criminal e, ao final, poderão ser condenados ou absolvidos.

O terceiro e último caminho que pode ser percorrido pelo PGR é o arquivamento de todo o material recebido da CPI caso ele constate, de plano, que não há a prática de qualquer crime, ou que as evidências colhidas não são suficientes para comprovar essa existência. Nesta hipótese, o chefe do MP não dará início a qualquer ação penal.

Em relação à CPI da Covid, que já está se aproximando do seu término, com a consequente elaboração de um relatório final, e em tal momento, poderemos verificar quem serão os indiciados pela CPI bem como quais seriam os eventuais crimes praticados. Ao longo dos trabalhos, a CPI se ocupou em investigar supostos atos de corrupção (ativa e passiva); genocídio; e até mesmo charlatanismo e curandeirismo; um investigado foi preso em flagrante, e muitos outros, bem como testemunhas, foram convocados a comparecer sob pena de condução coercitiva.

Em nenhum momento a CPI se ocupou em investigar os constatados desvios de dinheiro púbico federal na construção de hospitais de campanha ou no superfaturamento na compra de respiradores, mas foi muito pródiga em desrespeitar testemunhas e investigados, seja com a prática de atos de abuso de autoridade ou com excesso de falta de refinamento e elegância.

Horas e horas de tempo e de dinheiro público foram desperdiçados com depoimentos inúteis e prolixos; com perguntas até técnicas, desrespeitosas e tendenciosas. A intimidade de algumas pessoas foram escancaradas, por conta de vazamento de documentos constitucionalmente sigilosos e até de prontuários médicos de pessoas falecidas.

No meio de toda essa balbúrdia, PECs importantes estão adormecidas e empoeiradas nos escaninhos do Senado Federal, como a da prisão após condenação em segunda instância (PEC166/2018); a do fim do foro privilegiado (PEC 33/2017) e a da alteração da forma de escolha dos ministros do STF (PEC 35/2015).

Esse é o retrato da nossa política, onde projetos de leis fundamentais para a nossa República não são sequer votados, sendo relegados por encenações amadoras; disfuncionais e irrelevantes.


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MUDANÇAS NO SENADO E CÂMARA DOS DEPUTADOS IMPEDEM O COMBATE À CORRUPÇÃO

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo

O ministro do STJ Herman Benjamin (no telão) durante audiência semipresencial da CCJ do Senado em que foram discutidas mudanças na Lei de Improbidade.| Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado

Nesta quarta-feira, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado deve votar o parecer do senador Weverton Rocha (PDT-MA) que praticamente não altera o texto vindo da Câmara e que muda a Lei de Improbidade Administrativa. Se não houver boas mudanças de última hora, e se a CCJ aprovar o parecer, segue aberto o caminho para o Congresso Nacional dar sinalização diametralmente oposta ao endurecimento do combate à ladroagem, frustrando as expectativas dos brasileiros cansados de corrupção e do mau uso dos recursos públicos.

Na terça-feira, uma audiência pública ouviu as opiniões tanto de gestores quanto de autoridades com experiência no combate à corrupção – todos ressaltando aspectos diversos do projeto de lei. Acertam os gestores, por exemplo, quando criticam o texto excessivamente aberto da Lei de Improbidade Administrativa atual, que dá margem à ação ideologizada de certas alas do Ministério Público que enxergam improbidade em determinados atos de governo mais por discordância a respeito das melhores políticas a executar que por irregularidades concretas.

O projeto que tramita no Senado parece feito mais para ajudar os maus gestores a escapar impunes que para ajudar os bons gestores a governar com liberdade

O prefeito de Jacareí (SP), um dos participantes na audiência, afirmou que a lei “deveria ser o mais específica possível” na enumeração dos atos que configurariam improbidade. Assim, seria possível evitar o “apagão das canetas”, como ficou conhecida a inatividade de gestores que preferem não fazer nada a tomar alguma decisão que possa levar a ações de improbidade. No entanto, como lembrou o ministro do STJ Antonio Herman de Vasconcellos e Benjamin na audiência, a redação atual deixará de fora muitas condutas que são de fato irregulares, mas que não estão tipificadas em lei. Uma possível solução para este problema seria ampliar a lista de condutas específicas que configuram improbidade, mas esta possibilidade não parece estar no horizonte do relator.

E, se eliminar formulações abertas demais que deem margem a subjetivismos é uma alteração bem-vinda, o projeto que veio da Câmara e está no Senado vai muito além disso. O texto promove inúmeros retrocessos que dificultarão demais a responsabilização por irregularidades reais, a começar pela exigência de comprovação do dolo na configuração da improbidade, isentando até mesmo gestores que cometam erros culposos, mas decorrentes de evidente negligência, imprudência ou imperícia. Teria bastado estabelecer uma gradação nas punições, reservando as mais pesadas aos casos dolosos, mas sem deixar de punir também outras situações em que há erro grosseiro, evitável, embora não intencional. No entanto, o relator do projeto na Câmara, Carlos Zarattini (PT-SP), preferiu a responsabilização apenas dos atos dolosos, o que Weverton Rocha não demonstrou intenção de alterar.

VEJA TAMBÉM:
Mudanças apressadas e temerárias na Lei de Improbidade Administrativa (editorial de 15 de junho de 2021)
A Câmara aprova o retrocesso na Lei de Improbidade Administrativa (editorial de 19 de junho de 2021)
Interesses inconfessáveis (artigo de Affonso Ghizzo Neto, publicado em 6 de julho de 2021)
Da mesma forma, também devem permanecer inalterados, ou com mudanças muito pequenas, vários pontos ressaltados pelos especialistas no combate à corrupção, como prazos curtos de prescrição, problemas de redação e hipóteses de nulidade na ação de improbidade – itens apontados em nota técnica da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público divulgada também nesta terça-feira. Parte dessas alterações tornará muito difícil que um gestor acabe responsabilizado e punido mesmo quando cometer atos indiscutivelmente característicos da improbidade administrativa.

O “apagão das canetas” é fenômeno sério; membros do Poder Executivo não foram eleitos para não fazer nada, paralisados por medo de ações de improbidade. Este problema poderia ser atenuado se as alas mais ideologizadas do MP não quisessem atuar como impositores de políticas públicas e respeitassem a autonomia dos gestores, o que não parece factível, ao menos no curto prazo. Sobra, portanto, alterar a lei para que fique mais específica na descrição das condutas passíveis de responsabilização. Mas a Câmara aprovou, e a CCJ do Senado pode aprovar, um projeto de lei feito mais para ajudar os maus gestores a escapar impunes que para ajudar os bons gestores a governar com liberdade. Atos típicos de improbidade seguirão ocorrendo, mas cada vez menos serão assim caracterizados; improbidade com impunidade será o saldo do texto, caso prospere no Senado.


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CONGRESSO VAI REAGIR À ALTA DE COMBUSTÍVEIS

 

Por
Anderson Gonçalves – Gazeta do Povo

Presidente da Câmara diz que Congresso vai discutir mudanças no ICMS dos combustíveis.| Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Para começar este resumo de notícias. A quarta-feira (29) começa com mais um reajuste nos combustíveis. Dessa vez, a alta é de 8.9% no preço do diesel, conforme anunciado pela Petrobras. Para os importadores, ainda é pouco para recuperar a defasagem. A situação fez o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), criticar a Petrobras nas redes sociais. “O Brasil não pode tolerar gasolina a quase R$ 7 e o gás a R$ 120”, disse Lira, que prometeu estudar mudanças no ICMS dos combustíveis.

Eleições 2022. Com vistas à disputa de 2022, a Executiva Nacional do PSL oficializou as conversas sobre uma possível fusão com o DEM. Rodolfo Costa diz o que é possível esperar dessas negociações. No PSDB, quem ameaça os planos do governador de São Paulo, João Doria, é Geraldo Alckmin. Entenda por quê.

Orçamento. No governo, o ano de eleições presidenciais será um dos mais desafiadores para a gestão orçamentária. Saiba quais ministérios terão mais verba em 2022 e quais vão perder recursos.

Política, Economia e Utilidade pública
Terceira dose. O governo federal irá ampliar a aplicação da terceira dose da vacina contra a Covid-19. Vão receber a dose de reforço os idosos acima de 60 anos, conforme anunciou o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.

Números da pandemia. O Brasil registrou mais 793 mortes por Covid-19 e 15.395 novos casos da doença, segundo dados do Ministério da Saúde. Ao todo, o Brasil já contabiliza 21.381.790 diagnósticos positivos e 595.446 óbitos. Quanto à vacinação, foram imunizados 145.267.222 com a primeira dose e 87.994.741 com a segunda.

CPI da Covid. A CPI da Covid tem um novo alvo para suas últimas semanas: a influência do Ministério da Economia nos números da pandemia. Em depoimento, a advogada Bruna Morato vinculou a pasta ao chamado “gabinete paralelo”. O ministro Paulo Guedes pode vir a ser convocado.

Giro pelo mundo. O Reino Unido enfrenta uma crise de combustíveis que desabasteceu postos, causa filas e preços altos. Deputados do Chile aprovaram um projeto para descriminalizar o aborto. Um relatório aponta que funcionários da OMS cometeram abuso sexual durante ações na África.

Nossa visão  
Lei de Improbidade. Nesta quarta-feira (29), a Comissão de Constituição e Justiça do Senado deve votar o parecer do senador Weverton Rocha (PDT-MA) ao projeto que muda a Lei de Improbidade Administrativa. Se não houver boas mudanças de última hora, e se a CCJ aprovar o parecer, segue aberto o caminho para o Congresso Nacional dar sinalização diametralmente oposta ao endurecimento do combate à ladroagem. Veja um trecho da opinião da Gazeta:

Se eliminar formulações abertas demais que deem margem a subjetivismos é uma alteração bem-vinda, o projeto que veio da Câmara e está no Senado vai muito além disso. O texto promove inúmeros retrocessos que dificultarão demais a responsabilização por irregularidades reais, a começar pela exigência de comprovação do dolo na configuração da improbidade, isentando até mesmo gestores que cometam erros culposos, mas decorrentes de evidente negligência, imprudência ou imperícia.


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DIÁLOGO NA ENTREVISTA

Entrevistar

Byvaleon

 SET 29, 2021

  1. Cultura
     

O diálogo não é um desafio de entrevista: é um obstáculo humano e quase universal

Leandro Karnal, O Estado de S.Paulo

Meu canal no YouTube (Prazer, Karnal) e a pandemia estimularam uma nova faceta profissional. Virei entrevistador. Função curiosa para a qual não houve preparo. Não fiz curso, nem sequer li um livro introdutório (algo no estilo “Como se tornar entrevistador”…). Aliás, não existe um curso superior sobre entrevistas. O mais próximo disso é um jornalista que tem de estudar muitas coisas, não apenas a arte de entrevistar. 

Entrevista
O diálogo não é um desafio de entrevista: é um obstáculo humano e quase universal Foto: Pixabay

Por outro lado, assisti, como você, querida leitora e estimado leitor, a muitas entrevistas ao longo de minha vida toda. Fui entrevistado algumas vezes. A partir dessa experiência, lanço a pergunta: o que é ser um entrevistador?PUBLICIDADE

Eu começaria dizendo o comum: há entrevistadores que têm enorme amor à própria voz, preferindo ouvi-la mais tempo à do entrevistado. São os que se aproveitam de quaisquer deixas e fazem longos comentários pessoais a cada resposta. Em resumo: são entrevistadores que não deixam o entrevistado falar. Sim, feche os olhos e logo lhe vem à cabeça um ou dois tipos assim. 

Há, claro, o entrevistador advogado do diabo. Busca as contradições de cada fala, apresenta provas contrárias ao que foi dito, estabelece as incoerências e, no fundo, “detona” o entrevistado. Há tipos ainda mais complexos, pois montam armadilhas para os entrevistados: colocam no ar um inimigo dele para uma pergunta ao vivo na busca de uma humilhação disfarçada como “debate”. Há os que agridem o entrevistado, inclusive fisicamente. De uns tempos para cá, ser entrevistado tem risco de hematoma. 

Há ainda outro tipo de armadilha com entrevistados: recebo você, deixo-o à vontade, sirvo água e cafezinho, conversa “fiada” enquanto arrumamos as luzes e os microfones. Bem relaxado, o entrevistado emite opiniões variadas e livres, mais “solto” do que se estivesse sendo filmado. Enfim começa a entrevista formal só que os trechos que mais serão aproveitados são os primeiros, quando o entrevistado supunha que ainda não estivesse sendo gravado. É uma entrevista-armadilha, infelizmente real e até comum. 

Uma boa entrevista tem como alvo o diálogo entre uma pessoa e um público. A pessoa é seu convidado e, como tal, merece todo respeito. O público também merece o melhor possível de dados e de informações. O entrevistador é um intermediário que facilita a comunicação entre os dois mundos. A primeira virtude do entrevistador é o controle do narciso. Não pode se comportar como um aluno mais velho que ataca os que estão começando aquele estudo. Existe, diante de mim, um ser humano que tem algo a dizer. Existe um público a quem também eu sirvo. Eu sou a peça mais descartável de todas naquela situação. No máximo, sou um facilitador, um esclarecedor. Assim, cabe a mim deixar a pessoa bem à vontade para ela não se sentir agredida ou constrangida. Há pessoas tímidas e o bom entrevistador deve lidar com isso. Devo também lidar com o respeito ao público. Muitos entrevistados querem apenas falar de coisas positivas e eu posso trazer, com todo respeito, outro olhar. Não creio que um entrevistador bom deva ficar em silêncio quando uma opinião contrária à ética seja emitida na entrevista. Existem dois polos a serem evitados: um é a vontade de destruir o entrevistado, de “lacrar”, chocar, causar impacto e colher likes. Nesse caso, não estou entrevistando alguém, mas “bombando” a audiência do meu canal ou do meu veículo de comunicação. Não entrevisto, apenas miro na minha carreira e nos ganhos da audiência monetizada. Esse tipo de entrevistador é, no fundo, um mercador desonesto. No polo oposto, aquele que concorda com as maiores barbaridades ditas pelo entrevistado, inclusive racismo ou homofobia. Assim, poderíamos dispensar o entrevistador e dizer ao entrevistado: fale o que quiser por todo o tempo que puder. 

Devo pontuar a entrevista com tópicos de interesse público. Devo dirigir a resposta de volta ao tema da pergunta quando o entrevistado foge do tópico. Introduzo algum humor para dar leveza. Confiro ritmo, sem quebrar a cada instante as frases. As técnicas não são fixas, porém se adaptam ao tipo do entrevistado e ao tema. Nunca devo promover “armadilhas” para alguém que aceitou falar comigo. É desonesto. Com frequência, a falta de caráter se traveste de interesses nobres como “interesse do público”. 

A boa entrevista tem um traço de maiêutica socrática: busca a resposta dentro do entrevistado. A boa pergunta tem o traço do mestre de Atenas: revela algo para o público e, igualmente, para o entrevistado. É uma arte de dar à luz, trazer algo à vida, sem fórceps, da forma mais natural possível. 

O diálogo não é um desafio de entrevista: é um obstáculo humano e quase universal. A comunicação é complicada, sempre. Se enfrentamos problemas para diálogos em família, com ambiente reduzido e conhecido, imaginem-se os obstáculos com pessoas mais desconhecidas. 

A favor do entrevistador? Quase todo mundo quer falar, e muito. Adoramos falar de nós mesmos. Tenho entrevistado a quem mal consigo dizer um “boa noite” e dali sai uma saraivada de fatos e histórias. Há pessoas muito divertidas. Outros, um pouco menos. O narciso é universal, inclusive de quem faz as perguntas. O dom do silêncio é algo escasso sob holofotes. Minha esperança é aprender a me ouvir para ser capaz de escutar outros de forma intensa. Acho que é a virtude final de um entrevistador: ser analisado antes de se dispor a analisar alguém.  

É HISTORIADOR, ESCRITOR, MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS, AUTOR DE ‘A CORAGEM DA ESPERANÇA’, ENTRE OUTROS