Possível governo de Temer
incluiria revisão de gastos na área social e ajuste fiscal
Janaína Oliveira e
Ezequiel Fagundes
Plano de Temer para
um novo governo já contaria também com velhos nomes da cena política e
econômica do país
Com o impeachment tramitando a pleno vapor sob a batuta do presidente da
Câmara, Eduardo Cunha, um dos principais alvos da “Lava Jato”, oposição e
integrantes do PMDB já falam abertamente sobre planos para um eventual governo
do vice Michel Temer.
Discurso de conciliação nacional, ministério formado por velhos
conhecidos da cena política, diretrizes econômicas ao gosto do mercado e
promessa de ajuste fiscal, com corte de gastos na área social, compõem o esboço
do que seria o governo Temer.
Com a saída do principal aliado do barco, aumentam a cada dia as
especulações sobre nomes e modelo político que podem suceder o governo petista.
O plano do vice teria como bases o documento intitulado “Uma Ponte para o
Futuro”, lançado em outubro de 2015 pela Fundação Ulysses Guimarães.
“Para o Brasil, o tripé de qualquer ajuste duradouro consiste na redução
estrutural das despesas públicas, na diminuição do custo da dívida pública e no
crescimento do PIB”
Documento “Uma Ponte para o Futuro”
Fundação Ulysses Guimarães/PMDB
Documento “Uma Ponte para o Futuro”
Fundação Ulysses Guimarães/PMDB
Presidente da entidade, Moreira Franco, que é ex-ministro da Aviação
Civil do governo Dilma e aliado de primeira hora de Temer, tem circulado com
algumas propostas.
Moreira Franco admitiu, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”,
que já é consenso a revisão de subsídios. O uso do FGTS para financiar o
programa Minha Casa, Minha Vida estaria na mira.
“Isso precisa ser enfrentado antes que vire um grande problema: estão
levando o uso do FGTS ao limite - e o fundo é do trabalhador, precisa ser
remunerado, não dá para fazer graça com dinheiro dos outros”.
No caso da educação, o ajuste passaria por uma restrição maior ao Fundo
de Financiamento Estudantil (Fies), que aos olhos da legenda precisa de
“meritocracia”.
De acordo com o texto apresentado em “Uma Ponte para o Futuro”, “nos
últimos anos é possível dizer que o governo federal cometeu excessos, seja
criando novos programas, seja ampliando os antigos, ou mesmo admitindo novos
servidores ou assumindo investimentos acima da capacidade fiscal do Estado. A
situação hoje poderia certamente estar menos crítica”.
A direção do PMDB não aceita a licença de ministros, já que a postura
não está prevista nas regras do partido. Segundo interlocutores, Temer não deu
aval à proposta e alerta para processos no Conselho de Ética
Mercado
Para o professor de Ciência Política do Ibmec/MG Adriano Gianturco,
embora o programa econômico do PMDB seja comemorado por boa parte do mercado
financeiro, a confiança inicial no eventual governo Temer só perpetuará se as
medidas forem concretizadas.
“Somente com ações práticas, como ajuste fiscal e austeridade, os
empresários voltarão a investir e criar empregos”, diz. Segundo Gianturco, a
“agenda positiva” não terá só cortes de gastos, mas também aumento de impostos,
simplificação de contratos e incentivo às parcerias público-privadas.
Já na avaliação do professor de Ciência Política da PUC-MG Malco
Camargos, como vice-presidente, Temer é um dos responsáveis pelo sucesso ou
fracasso do governo Dilma. “Dificilmente a ação dele como principal ocupante do
Palácio do Planalto será diferente”, diz.
Enquanto o processo de impedimento anda a passos rápidos, a oposição faz
planos. Presidente nacional do PSDB, o senador Aécio Neves já afirmou que os
tucanos estão dispostos a colaborar em um eventual governo do peemedebista.
E o senador José Serra, ex-ministro de FHC, mostrou desenvoltura para
falar sobre o futuro do Brasil. “O PSDB será chamado (a participar de um novo
Governo) e terá a obrigação de participar”, disse ele, em recente entrevista.